Cerca de 90% das famílias endividadas no Brasil são resultado do uso do cartão de crédito
Os pagamentos com cartões de crédito cresceram 42,4% no primeiro trimestre do ano em comparação com o período de janeiro a março de 2021, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). O aumento está relacionado à expansão do comércio on-line, impulsionado pela pandemia da covid-19. Contudo, mesmo com a flexibilização da pandemia, a forma de pagamento permanece em alta.
De acordo com a Associação, foram movimentados R$ 478,5 bilhões em pagamentos com cartões de crédito nos três primeiros meses do ano. Além do comércio on-line, a praticidade e os benefícios oferecidos pelas empresas de cartão estão entre os principais motivos.
“A pandemia intensificou essa compra on-line e as empresas oferecem benefícios para as pessoas que optam por essa modalidade de pagamento, como pontos, milhas, cashback. A tendência é os cartões e pix serem cada vez mais usados. Essas tecnologias são revolucionárias e tendem a permanecer”, afirmou Kissila Meireles, professora de finanças do Senac.
Para Glenda Neves, estudante de Publicidade e Propaganda, os cartões oferecem, também, mais segurança. “A segurança que o cartão oferece também conta muito. Caso roubem é só cancelar, já o dinheiro não tem como pegar de volta”, disse.
Segundo Sheila Mara Ribeiro, gerente de uma loja de vestuário no centro de Valadares, a maioria dos clientes prefere usar o cartão de crédito para poder parcelar a compra.
“Com a queda das vendas durante a pandemia, a loja aumentou a quantidade de parcelas no cartão de crédito. Vendemos em até 10x sem juros e isso deu um resultado muito positivo perante nossos consumidores. Os clientes aderiram, porque aproveitam que vão parcelar em mais vezes e já compram em maior quantidade. Foi tão positivo que não tem data para acabar essa medida”, explicou a gerente.
Cartão de crédito: vilão ou aliado?
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens e Turismo (CNC), o cartão de crédito representa 87% do total de famílias endividadas no Brasil. Com a inflação alta, muitas pessoas utilizam o cartão como se fosse um acréscimo do salário, afirmou a professora de finanças Kíssila Meireles.
“O cartão também pode ser um vilão, quando o consumidor não tem o controle financeiro para saber o limite que pode gastar. A inflação corrói a renda do consumidor e muitas pessoas usam como aumento de renda, o que não está certo”, disse a professora.
O número de inadimplentes, aqueles com contas ou dívidas já em atraso, bateu recorde neste ano, atingindo 28,6% das famílias. O índice é 4,3 pontos acima do apurado em 2021, e 10,9% das famílias declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso, permanecendo inadimplentes.
Como evitar as dívidas com cartão?
“As palavras de ordem para o uso do cartão de crédito são bom senso e controle financeiro”, disse a professora de finanças. Segundo ela, é preciso calcular quanto pode gastar em cada mês e estabelecer limites, além de evitar parcelamentos prolongados e evitar pagar o mínimo da fatura.
“A taxa de juros e a falta de controle financeiro aumentou muito o percentual de inadimplência. Além disso, aconselho a não realizar o parcelamento em produtos essenciais, como combustível e supermercado, porque toda semana praticamente o consumidor terá que comprar esses produtos e vira uma bola de neve”, explicou.
De acordo com a estudante Glenda Neves, para se planejar financeiramente ela anota os gastos: “Gosto de anotar as despesas no excel para controlar as finanças. O lado positivo do cartão é que também conseguimos acompanhar os gastos pelos aplicativos dos bancos, então consigo ver o dia, a hora e com o que eu gastei pelo cartão, o que é bem melhor”.
Glenda Neves/ DRD-TV Leste Sheila Ribeiro/ DRD-TV Leste