Quando o Eduardo, hoje com 5 anos, começou a vida escolar, o ambiente de ensino era diferente. O garoto até chegou a ser matriculado e iniciou as aulas de forma presencial em uma instituição de ensino particular de Governador Valadares, mas não demorou pouco mais de dois meses para que a sala de aula fosse trocada pela sala de casa.
Em 2020 essa foi a realidade de milhares de alunos, com o agravamento dos casos de morte e infecção pela covid-19 no Brasil. Os livros foram trocados por PDFs, arquivos de textos, links com atividades para serem realizadas em plataformas na internet. Ver o professor, ou melhor, ver o rosto do professor, só foi possível por uma pequena tela de computador. Naquela altura, já era o novo normal.
Os impactos da covid-19 em quem contraiu o vírus ainda estão sendo estudados, e deverão permanecer dessa forma por um bom tempo. A saúde de toda uma população que passou por esse momento crítico da pandemia ainda será foco de análise no futuro próximo, e isso também inclui a mente. Em busca de tantas descobertas, uma das perguntas para a qual ainda não temos uma resposta concreta é: como esse período afetou o desenvolvimento de aprendizagem e social das crianças e adolescentes?
Agora, passados mais de dois anos após o primeiro caso confirmado de covid-19 no país, a rotina escolar segue dentro de sala de aula, mas diferentemente do que já foi um dia. O desafio da vez é encontrar formas de lidar com esses alunos, essa geração, como a do Eduardo, que passaram tanto tempo em casa e precisam retornar ao mundo social.
Enquanto os pesquisadores permanecem em busca de entender essa e outras questões, no presente, cada vez mais profissionais da área da psicologia recebem nos consultórios pais com filhos que apresentam sinais de depressão, ansiedade e dificuldade de socialização.
“O que a gente tem observado no ambiente escolar, e o que tem chegado para nós, aqui no consultório, é que há uma dificuldade de adaptação nesse primeiro momento. Muitas crianças com transtornos ansiosos, com depressão, de leve a moderada, em função desse contato com o novo. Elas ficaram dois anos em casa, e muitas não tiveram acesso a essas ferramentas de educação do jeito que elas deveriam ser passadas. A gente percebeu uma busca também dos pais em relação às avaliações neuropsicológicas, porque eles viam que a criança voltava para o ambiente escolar com muita dificuldade de aprendizagem”, disse a psicóloga Érica Fróis, especializada em atendimento infanto-juvenil.
Pais, filhos, escola e psicólogos
Imagina como deve ser assustador para uma criança de 5 anos, que sempre viveu grudada à mãe, de repente ter que ir para uma lugar onde ela não conhece ninguém e onde não sabe o que vai acontecer?! Bem, normalmente é nesse contexto que as crianças encaram o primeiro dia de aula na escola.
E foi assim também com o Eduardo, uma criança tímida, que para falar algo chega bem perto, com a boca no ouvido, faz uma concha com a mão e cochicha de forma que nem de perto é possível saber o que ele contou em segredo para a mãe. O garoto, que passou quase dois anos tendo aula de forma remota, no conforto de casa, e com a mãe como professora, teve que encarar a vida escolar de forma presencial.
“[No início] ele sentia vontade de ir embora da escola, porque em casa acaba sendo mais cômodo; era menos tempo. Então ele sentiu muita dificuldade de permanecer [na escola], quando a gente da família não estava presente. Acabou que no início era só a gente que estava dando aula para ele ali, a presença física era nossa, então ele achava que na escola a gente também tinha que estar ali, tinha que estar presente. Teve essa dificuldade no início, de ele permanecer na escola, mas hoje em dia é normal”, disse Nayara Caliman, mãe de Eduardo.
O processo de adaptação de Eduardo em sala de aula foi uma união de forças para tornar o ambiente escolar um lugar em que o garoto pudesse estar sem aquele medo do primeiro dia de aula.
“Nós tivemos o acompanhamento da escola, com outros psicólogos particulares também, para ajudar ele a se encontrar e interagir com as outras crianças. Então a escola foi fundamental para esse abrir dos olhos, e a gente poder enxergar essas necessidades que ele tinha, de precisar de uma ajuda psicológica, para poder ajudar a entrosar no mundo social”.
Um pouco de números sobre o assunto
A questão da socialização e da saúde mental de crianças e adolescentes não só é uma preocupação dos pais como dos profissionais da educação. Saber lidar e acolher esses estudantes tem sido um trabalho fundamental da escola com o retorno das atividades presenciais.
Segundo uma pesquisa divulgada em julho de 2022, realizada pelo Datafolha, 34% dos estudantes estão com dificuldade de controlar as emoções desde que voltaram a ter aulas presenciais. A pesquisa também aponta que esse percentual ainda sobe para 40% quando o recorte de análise é de alunos do ensino médio.
Além disso, 24% dos alunos estão se sentindo sobrecarregados e 18% estão tristes ou deprimidos, de acordo com os pais ou responsáveis. Com todos esses números, os dados que preocupam é que só 40% dos estudantes estão recebendo algum tipo de apoio psicológico nas escolas.
Comments 1
poderia por favor me passar o link da pesquisa para que eu coloque em um trabalho de faculdade.