‘Sertanejo merecia estar no Rock in Rio há muito tempo’, diz Chitãozinho

FOTO: Redes sociais/Instagram

AMANDA CAVALCANTI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No dia 21 de setembro, o gênero mais escutado no Brasil fará sua estreia no maior festival do país. O show Pra Sempre Sertanejo, uma das verticais do Dia Brasil do Rock in Rio, em que se apresentarão apenas artistas brasileiros, contará com a participação de representantes de diversas gerações do ritmo sob a batuta dos mestres de cerimônia Chitãozinho e Xororó.

Para a dupla, a chance de se apresentar no festival é oportuna, ainda que tenha vindo com um pouco de atraso. “A música sertaneja já merecia estar no Rock in Rio há muito tempo”, falou Chitãozinho em uma entrevista coletiva para a imprensa no primeiro e único ensaio do show, que será realizado com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis.

O ensaio aconteceu na sede da orquestra, na zona sul de São Paulo. Numa pausa entre uma faixa e outra, Xororó contou aos músicos que a história da dupla não começou muito longe dali. Em 1969, eles moravam em Mauá, no ABC Paulista, e pegavam o ônibus todas as manhãs para São Paulo para investir na carreira musical.

Recordistas em vendas de disco no Brasil, a dupla segue sendo um dos maiores representantes do gênero que tomou o país inteiro.

A primeira apresentação da dupla no Rock in Rio é idealizada por Zé Ricardo, curador do palco Sunset e vice-presidente artístico do festival. “Eu quis trazer os mestres —de certa maneira, também é uma homenagem a eles—, mas também uma proposta geracional”, disse ele à Folha de S.Paulo no dia do ensaio. A escalação do show, então, conta ainda com Simone Mendes, Ana Castela e Luan Santana. Junior e Cabal também farão participações durante a apresentação.

Luan representa a geração do sertanejo universitário, de quando o gênero passou a ser invadido de vez por guitarras elétricas e sintetizadores, além de artistas mais jovens. Quando seu primeiro hit, “Meteoro”, estourou em 2009, o cantor tinha 19 anos. A canção aparece repaginada em Pra Sempre Sertanejo, com guitarras altas e uma bateria pesada. “[A faixa] sempre teve essa pegada mais pop-rock-sertanejo, e acho que acentuou mais nesse arranjo”, comenta o cantor.

Ele rememora já ter ido ao Rock in Rio em 2015, para ver o Elton John, mas admite não saber de ninguém que tocará no festival neste ano. Para a sua própria aparição, ele prepara um medley que nos lembra quantas faixas de sucesso o cantor produziu nos últimos 15 anos, de “Sinais” a “Você Não Sabe o que é Amor”, de “Amar Não é Pecado” a “Acordando o Prédio”.

O caminho até lá não foi fácil. Luan fala de ter enfrentado uma resistência dos fãs mais tradicionais de sertanejo, algo que para ele é “histórico em todos os estilos musicais.” “Tem que ter muita fibra para relevar as coisas que não importam e melhorar com as críticas construtivas. A gente vai amadurecendo”, diz o cantor.

Quem enfrenta essas críticas agora é a novata Ana Castela. De longe a mais jovem dos músicos de sertanejo que se apresentarão no Rock in Rio, prestes a completar 21 anos, a cantora estourou com o sucesso de “Pipoco” em 2022, parceria com Melody e DJ Chris. O hit mistura o sertanejo com toques de pop, eletrônico e funk.

No festival, ao lado de Chitãozinho e Xororó e a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, ela cantará seus hits “Nosso Quadro” e “Solteiro Forçado”, mais ligados ao sertanejo tradicional. Mesmo assim, ela afirma que “a criançada”, como chama seus fãs mais jovens, será presença de peso no Rock in Rio. Dos mais velhos, ela fala que ganha “olho torto”. “Se tá lá para me ver, se não tá lá para me ver, não me importa. Eu tô no Rock in Rio, olha onde a minha música me levou!”, diz a cantora.

A apresentação resolve uma tensão de décadas. Xororó comenta que Chitãozinho sempre o dizia que “o Rock in Rio é quase perfeito, só falta o sertanejo estar lá.”

Mas ainda não é possível dizer, segundo Zé Ricardo, se o gênero terá outras chances de aparecer no festival. “A curadoria existe para proteger o artista e amplificar sua capacidade de alcance”, fala o curador. “Quando a gente faz um line-up, precisa contar uma história. Então, claro que pode acontecer, mas depende de muitos fatores.”

É uma via de mão dupla. Aos curadores pode não ser interessante para o público encaixar o gênero num festival ligado ao rock, ainda que historicamente diverso; aos artistas pode não valer a pena tocar num evento no qual a plateia e o cachê serão provavelmente menores do que em shows solo. Aos dois, porém, pode valer a pena se associar a uma parte indústria musical com a qual não havia contato antes.

“A curadoria está ali para propor. Um festival é sobre você entrar de um jeito e sair de outro, com algo novo. E essa é a minha responsabilidade: propor experiências, mesmo que algumas pessoas não gostem”, conclui Zé Ricardo.

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