O talude que fica dentro da cava da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, na região central de Minas Gerais, vai se romper a qualquer momento, colocando o rio Doce na rota de mais um desastre ambiental, segundo a Agência Nacional de Mineração (AMN). Uma coletiva de imprensa foi concedida pelo Sistema de Comando em Operações (SCO) ontem, 20, na Prefeitura de Valadares. Foram apresentadas medidas que serão adotadas para minimizar os transtornos no abastecimento de água em Governador Valadares. Conforme o comitê, o município ficaria no máximo três dias com o abastecimento de água interrompido.
O SCO foi acionado pelo prefeito André Merlo (PSDB) após anúncio do risco de rompimento da barragem de Gongo Soco. Três anos após a tragédia de Mariana, quando todo o rio Doce, desde a nascente até a foz, no Oceano Atlântico, foi impactado, o curso d’água que passa por Valadares está mais uma vez sob a ameaça de contaminação. Segundo informações da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a possível onda de lama passaria por quatro córregos antes de alcançar o rio Santa Bárbara, para, em seguida, chegar ao rio Piracicaba e, por fim, ao leito do rio Doce.
A primeira ação anunciada pela SCO durante a coletiva de imprensa foi enviar um ofício para a Vale exigindo abastecimento de água mineral, inclusive a logística de todo o trabalho e de pontos de distribuição de água mineral para a população; polímero para controle da turbidez da água para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE); e antecipação da entrega da obra de captação alternativa de água, executada pela Fundação Renova (Samarco).
Conforme explicado pelo prefeito, a chegada da lama de rejeitos irá acontecer, contudo, causará menor impacto para o rio Doce, em comparação com o que aconteceu após o rompimento da barragem em Mariana, em 2015. “A lama de rejeitos chegará a Governador Valadares em proporções menores, mas, de qualquer forma, estaremos prevenidos, através do Saae, para analisar essa água bruta. Provavelmente a cidade poderá ficar sem abastecimento de um a três dias, no máximo. O SCO irá definir as ações com antecedência, informando a população do risco, que realmente existe; é mínimo, mas existe”, explica.
Monitoramento da água
Diante do anúncio do rompimento do talude da Mina de Gongo Soco, a população de Governador Valadares vive sob o clima de tensão em relação ao abastecimento de água potável. O diretor geral do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), coronel Siqueira, explicou que o tratamento da água será da mesma forma que foi feito quando o rio Doce foi atingido pelos rejeitos da barragem de Fundão, em Mariana. “Infelizmente, estamos com a possibilidade de sofrer novamente com um desastre provocado pelo rompimento de barragem. Assim como em 2015, o tratamento mais eficaz é através do polímero de acácia negra, para controlar a turbidez da água. A questão é que, de qualquer forma, haverá interrupção no abastecimento na cidade, para que se façam análises químicas da água em laboratórios. Nosso foco é atuar para que esse tempo de falta de abastecimento seja o menor possível, em relação ao que aconteceu em 2015, quando foram oito dias sem água”, ressalta.
Corpo de Bombeiros
O Corpo de Bombeiros, representado pelo chefe da Divisão Operacional do Comando Regional, major Washington Goulart, afirmou que os militares lotados no 6º Batalhão de Governador Valadares já estão de prontidão, para eventual rompimento. “Estamos fazendo monitoramento na região de Barão de Cocais desde o dia 8 de fevereiro. Já demos início às fases de prevenção, preparação e mitigação. O Corpo de Bombeiros, juntamente com a Defesa Civil, tem trabalhando para diminuir os impactos nas cidades ao logo do rio Doce. As informações mais recentes são de que houve um avanço dos deslizamentos do talude na barragem e há uma previsão de que ele deslize dentro da cava e possa potencializar o rompimento da barragem a qualquer momento”, explicou.
Impactos ambientais no rio Doce serão inevitáveis
Conforme foi explicado na coletiva, o rompimento pode gerar dois tipos de impacto para a Barragem Sul Superior, que armazena 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro. O primeiro deles é a vibração da barragem, que está a 1,5 quilômetro da cava da mina. O segundo impacto seria o início de um processo de liquefação da barragem, a partir das vibrações, que poderia levar ao colapso da estrutura do reservatório.
De acordo com a presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), Lucinha Teixeira, a entidade já vinha acompanhado o monitoramento da situação da barragem da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais. “Mais um impacto para nossa bacia hidrográfica, contaminado primeiro o rio Piracicaba. Desta vez a gente ainda acredita que os danos sejam menores. De qualquer forma, é mais uma área que vai sofrer com os impactos. Outros órgãos, como o Ibama e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), também estão de prontidão. Já foi verificada pela Agência Nacional das Águas que essa barragem acima de Barão de Cocais estaria com estabilidade de conter os rejeitos. Existem também outras usinas pelo caminho com barragens que poderiam atenuar os impactos causados pelo rompimento até chegar ao rio Doce”, afirmou.
Rodovia BR-381 ficará interditada
Segundo o chefe da Delegacia da Polícia Rodoviária Federal em Governador Valadares (PRF/GV), Wendel Freitas, parte da BR-381 será interditada com rompimento da barragem em Barão de Cocais. “O papel da PRF virá com as consequências. A principal delas é que, possivelmente, o quilômetro 381 da BR-381, em São Gonçalo do Rio Abaixo, será interditado, pois a rodovia fica na rota da lama de rejeitos. Rotas alternativas já estão sendo feitas no município de Itabira, para quem vem da região para Valadares. Por enquanto, ainda não será feita nenhuma interdição, enquanto não acontecer o rompimento. Outra medida da PRF será a escolta de cargas de água mineral para Governador Valadares”, disse.
por Eduardo Lima | eduardolima@drd.com.br