Doença se caracteriza pela protusão de órgão interno para fora do tecido
Em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou à imprensa que tem, novamente, uma hérnia no abdômen e deve fazer nova avaliação médica em fevereiro. O quadro clínico se caracteriza pela protusão de órgãos internos da cavidade abdominal para fora por meio de uma abertura no tecido, ocorrida em decorrência de uma fraqueza local, causando inchaço, dores, náuseas, vômitos e a ruptura da musculatura.
O caso de Bolsonaro se enquadra como hérnia incisional, decorrente de incisões cirúrgicas no abdômen, como as que ele se submeteu após o atentado sofrido nas eleições de 2018 – elas surgem devido ao repouso inadequado ou à idade avançada, que dificulta a cicatrização. Mas as hérnias abdominais são muito frequentes e acometem entre 3% a 8% dos brasileiros, segundo estimativas do Ministério da Saúde. “As causas mais comuns incluem obesidade, excesso de levantamento de peso, tosse crônica, infecção pulmonar, constipação intestinal e gravidez”, informa o gastroenterologista e cirurgião bariátrico Henrique Eloy.
Há diferentes tipos de hérnia abdominal. A mais recorrente, especialmente entre os homens, é a inguinal, na região da virilha, mais especificamente entre o abdômen e a coxa. “Em alguns casos, ela pode evoluir para os testículos, a chamada hérnia inguinoescrotal”, acrescenta Eloy. Já a umbilical (também chamada de paraumbilical) surge na região da cicatriz do umbigo. Na maioria das vezes, tem origem congênita e se manifesta em bebês, mas também pode ocorrer na idade adulta, principalmente em mulheres. Há também as hérnias ventrais: a epigástrica se manifesta na linha média da barriga; enquanto a hérnia de Spiegel, mais rara, fica na lateral do abdômen, abaixo do umbigo.
Independentemente de qual for o gênero, a intervenção cirúrgica é o melhor tratamento para a hérnia abdominal. “A cirurgia robótica é a mais indicada e menos invasiva, graças aos cortes menores e ao sangramento reduzido. O procedimento consiste, basicamente, no reposicionamento correto do órgão. Se necessário, colocamos tela de proteção, para evitar a volta do problema e fortalecer a musculatura”, descreve. A anestesia pode variar de local, para as operações pequenas, ou geral, para as maiores; e a internação leva de um a dois dias. O pós-operatório inclui uso de anti-inflamatórios e analgésicos e descanso de atividade física por um mês.
Eloy reforça que a intervenção seja feita o mais rápido possível, para evitar complicações como o encarceramento e o estrangulamento. “O encarceramento acontece quando uma fração de gordura ou do intestino fica presa na hérnia. Já o estrangulamento é mais raro, mas pode ser fatal. Neste caso, a força com que a hérnia prende o intestino corta a circulação do sangue, podendo levar o órgão à necrose e à inflamação da cavidade abdominal, chamada de peritonite”, diz o médico.