Presidente se defende do ‘e daí’ e volta a atacar governadores

por DANIEL CARVALHO
da FOLHAPRESS

Um dia depois de reagir com um “e daí” ao número recorde de mortos pelo novo coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reuniu sua tropa de choque e, em uma tumultuada entrevista na porta do Palácio do Alvorada, passou para os governadores e prefeitos o aumento da crise no país.

Bolsonaro reuniu 25 deputados dos PSL nesta quarta-feira (29) para um café da manhã. Ao sair do Alvorada, trouxe junto parte dos parlamentares e passou, com ajuda deles, a criticar as notícias que relatam sua entrevista na noite anterior, quando, questionado sobre as 5.017 mortes registradas pelo Ministério da Saúde na terça-feira (28), reagiu dizendo: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.

“As medidas restritivas são a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem que perguntar para o Doria porque tem mais gente perdendo a vida em São Paulo. Perguntar para ele que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar”, disse Bolsonaro em menção ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu virtual adversário em 2022.

“Não adianta a imprensa querer botar na minha conta estas questões que não cabem a mim. Não adianta a Folha de S.Paulo, O Globo, que fez uma manchete mentirosa, tendenciosa”, continuou Bolsonaro.

Indagado pelos jornalistas se não havia dito a frase do “e daí?”, Bolsonaro demonstrou impaciência.

“Você não botou o complemento! Você não botou o complemento!”, afirmou.

Os jornalistas perguntaram qual seria o complemento.

“A Globo não tem moral. Vocês não têm moral. Você é um mentiroso, a Globo é mentirosa”, reagiu o presidente.

Os repórteres insistiram na pergunta.

“O complemento é que que eu lamento. Está lá. Falei aqui. Perguntei, tinha pelo menos duas TVs ao vivo. Mesmo ao vivo… A Globo tem que se definir. Eu não vou pagar para vocês falarem a verdade nem bem de mim. Não vou pagar para a Globo escrever a verdade ou falar bem de mim. Perguntem para o Doria a questão de óbitos que estão acontecendo”, disse Bolsonaro.

Na entrevista de terça à noite, Bolsonaro disse que “as mortes de hoje, a princípio, essas pessoas foram infectadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: o vírus vai atingir 70% da população, infelizmente é a realidade. Mortes vão haver. Ninguém nunca negou que haveria mortes”.

Depois de questionar e ser informado de que sua entrevista estava sendo transmitida ao vivo em redes de televisão, Bolsonaro buscou dar uma uma declaração mais amena sobre o assunto.

“Lamento a situação que nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás”, disse o presidente, conforme registrado nas matérias jornalísticas.

Nesta manhã, Bolsonaro escalou vários deputados do PSL para defendê-lo, o que gerou um bate-boca. Apoiadores do presidente xingaram repórteres.

Ao fim, o presidente voltou a ser questionado sobre o número de mortes e, novamente, passou a responsabilidade para os governadores e prefeitos.

“Essa conta tem que ser perguntada para os governadores. Perguntem ao senhor João Doria, ao senhor [Bruno] Covas [PSDB, prefeito de São Paulo], de o porquê terem tomado medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que responder. Vocês não colocar no meu colo essa conta.”

Indagado sobre qual seria a sua responsabilidade, não respondeu e criticou a pergunta.

“A pergunta é tão idiota que eu não vou te responder”, disse o presidente da República.

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