Preço do leite impacta comércio em Valadares e assusta consumidores

Você se assustou quando foi a um estabelecimento comprar leite nos últimos dias? Pois o Fábio Guerra sim. Na manhã desta terça-feira (9), o comerciante foi a um supermercado da cidade e decidiu sair do local com poucos mantimentos na sacola. E desta vez o leite ficou de fora da lista: “Está complicado demais. Duas crianças em casa, não dá para levar leite, não”. E ele ainda apontou uma solução:“Amarrar uma vaca no quintal e tirar leite dela fica bem mais barato”, falou aos risos.

Fábio Guerra decidiu não levar o produto na compra de hoje – DRD/TV Leste

Há poucos meses, o leite integral (de marcas diversas) custava de R$ 3 a R$ 5. Hoje, o preço do produto varia entre R$ 6,50 e R$ 8.

Clima seco e preço do combustível

Segundo dados fornecidos pela Universidade de São Paulo (USP), no último mês, o valor do leite aumentou em pelo menos 15%. Quanto ao motivo desse encarecimento, o professor de Ciências Contábeis da Univale, Sérgio Reis, explica:

“Muitos desses impactos estão atrelados a fatores externos, que não têm diretamente a ver com o produto. Nós temos o fator do período de chuvas; quando reduz o período de chuvas, logo reduz o plantio de alimentos para o gado e passa-se a aumentar a compra de ração. E a compra de ração vai aumentar o custo do produtor. Quando entra o período de seca, que é o período atual, a tendência é que haja pouco capim para que o gado alimente, e aumente o custo para a aquisição de ração e outros suplementos para que o gado possa produzir com qualidade. O segundo fator está atrelado ao transporte, que chega diretamente ao consumidor final. Quando a cooperativa vai até o produtor rural e busca esse leite, usa o caminhão e, automaticamente, isso vai ser repassado ao consumidor. E, nos últimos meses, aumentou bastante o custo do transporte, pontua.

Sérgio Reis (Professor de Ciências Contábeis) – DRD/TV Leste

Além do alto custo no tratamento das vacas em âmbito rural, um outro obstáculo para a normalização do preço do leite é a queda da produção. O problema também é resultado dos fatores relacionados à entressafra – período de seca. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), a produção de leite no Estado caiu quase 10%.

Comércio afetado

O gerente de supermercado Cristiano Alves afirma que a reposição de estoque do leite integral segue normalmente. Mas o produto está sendo ofertado pelo mesmo preço em que é adquirido pelo estabelecimento. Logo, não há lucro sobre a venda do produto. Dessa forma, o gerente acredita que manter o leite a preço de custo nas prateleiras é uma forma de atrair os clientes.

Cristiano Alves (gerente de supermercado) – DRD/TV Leste

“O leite acaba sendo um produto básico na compra do consumidor. O preço, de 6 meses atrás até este momento, praticamente dobrou. A gente percebe que, devido à alta do preço, o consumidor tem comprado em menos quantidade. Hoje, por exemplo, o preço que eu tenho na prateleira é o preço que comprei na nota fiscal. Como a gente percebe que o cenário econômico já mostra que pouco à frente vai ter uma rebaixa, hoje nós estamos praticamente com um preço de custo para poder atrair o cliente. O consumidor vem comprar o leite, mas acaba comprando outros produtos do mix da loja também”, avaliou o gerente.

Ainda segundo Cristiano Alves, é notória a mudança de comportamento do consumidor que decide levar o produto mesmo estando com preço elevado. “É fácil você ver. Por exemplo, a parte de baixo [da prateleira] geralmente é caixa fechada, atacado. Ele tira daqui [da parte de cima], mas rasga a caixa para tirar a unidade também. Antes, só pegava aqui embaixo quem levava a caixa fechada e, aqui em cima, fracionado”.

E o queijo, uai?

Vale ressaltar que, com o salto do preço do leite, os derivados também estão mais caros. No supermercado em que Cristiano Alves é gerente, um pote de manteiga de 500 g chega a custar R$ 25. No mesmo estabelecimento, o popular queijo Minas – que custa em média R$ 40 – está saindo, hoje, a R$ 52.

Já na queijaria do Diego Lacerda, localizada no Mercado Municipal, o queridinho dos mineiros atingiu a marca dos R$ 75. Apesar do encarecimento e de uma redução de 25% nas vendas, o proprietário ressalta que segue vendendo bem diante do cenário. Mas a falta de queijos no estoque (por causa da baixa produção) ainda é um empecilho.

Queijo Minas está custando R$ 75,45 – DRD/TV Leste

“As vendas diminuem um pouco neste período por questão tanto do preço quanto da falta de produtos. Nesta época do ano tem menos produtos por ter menos leite, menos produção. Então nossos produtores acabam não tendo a mesma capacidade produtiva, entregando menos para a gente”, relatou.

Contudo, a Maria Celeste Miranda foi à queijaria de Diego Lacerda nesta manhã e decidiu levar seu queijo Minas com muita alegria e bom humor: “Não dá. Mineiro que é mineiro, não fica sem queijo não, uai!”.

De acordo com o professor de Ciências Contábeis, Sérgio Reis, com a baixa no valor dos combustíveis, a previsão é que o preço do leite reduza gradativamente nos próximos 90 dias.

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