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Por que Santo Antônio é o padroeiro de Valadares?

FOTO: Divulgação/Paróquia Catedral de Santo Antônio

Em Governador Valadares, fé e história se entrelaçam em torno da figura de Santo Antônio, o santo padroeiro da cidade. Mais do que um feriado municipal no dia 13 de junho, a Festa de Santo Antônio pulsa no coração de Valadares por treze dias, colorindo as ruas, aquecendo os lares e alimentando a alma com orações, procissões e barraquinhas. A tradição de ter um santo padroeiro para uma cidade remonta a tempos antigos, enraizada na colonização cristã do Brasil e nas tradições dos colonizadores europeus.

Desde os primórdios, quando a cidade ainda era apenas um povoado, a figura do frade franciscano, para os católicos, se ergue como símbolo de fé, esperança e caridade. “O que marca na vida de Santo Antônio para nós católicos é o seu ensinamento. Um homem que pregou com eloquência o Evangelho. Até a imagem de Santo Antônio tem ele com o Evangelho e o menino Jesus no colo, justamente por causa da pregação do Evangelho, que é onde ele se destaca. Ele foi uma referência, um grande homem, poderoso intercessor. Essa é a figura de Santo Antônio que aponta, remete e conduz a Cristo”, explica o Pe. Luiz Márcio Andrade Quintão, da Paroquia Catedral de Santo Antônio.

Para os portugueses, conterrâneos de Santo Antônio, ele é Santo Antônio de Lisboa, mas para os italianos, ele é Santo Antônio de Pádua, cidade onde exerceu o seu ministério. Foi a Santo Antônio que São Francisco incumbiu de ensinar Teologia para os fiéis fracos na fé, para que o Evangelho de Cristo fosse pregado dentro dos ensinamentos da Igreja Católica.

A escolha de Santo Antônio como padroeiro de Governador Valadares não foi por acaso. Sua história se conecta com a própria fundação da cidade. Na segunda metade do século XIX o governo resolveu entregar a responsabilidade pela catequese e educação formal dos indígenas de Minas Gerais a ordem católica dos franciscanos. Para isso, em 1873, foi fundado em Itambacuri o seminário dos capuchinhos (também conhecidos como franciscanos).

A maior parte da Bacia do Rio Doce tinha atuação dos frades de Itambacuri, inclusive na região da Vila da Figueira (onde hoje compreende Governador Valadares). Por aqui, no final do século XIX foi criado o aldeamento Imaculada Conceição. Como parte do processo de construção do povoado, os frades, junto com a elite financeira da época, fundaram a primeira paróquia da nossa região dedicada a Santo Antônio.

“O Santo Antônio é a grande referência dos capuchinhos, frades franciscanos que vieram de Portugal e também da Itália. Onde eles fundaram capelas dedicava-se a Santo Antônio. Tanto que vários municípios dessa região ou a paróquia principal é dedicada a Santo Antônio, ou tem uma paróquia de Santo Antônio”, explica o historiador e coordenador do mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT) da Univale, o professor Haruf Salmen Espíndola.

“No passado a religião estava intrinsecamente ligada, enraizada, na vida das pessoas. Praticamente todas as pessoas eram cristãs católicas. Então isso está muito enraizado na origem do povo dessa região. A escolha do padroeiro depende muito de como foi o processo de colonização e civilização. No nosso caso aqui, quando surgiu o povoado eram os freis franciscanos. Eles são da ordem de São Francisco de Assis e de Santo Antônio. Ou seja, essa devoção já veio com os freis que passaram essa tradição para o povo. Isso tem muito a ver com o grupo religioso que estava no início da comunidade’, disse o Pe. Luiz Márcio.             

A capela de Santo Antônio, construída de 1910 a 1914, foi a base da comunidade católica local e tornou-se a sede da paróquia de Santo Antônio da Figueira, em 1915. A vida paroquial com todos os seus registros datados a partir de 10 de novembro de 1915 e são assinados por Frei Angélico de Campora. Antes havia uma capela dedicada a Santo Antônio de Pádua, construída por volta de 1886. E o templo da atual catedral foi construído em 1924, pela Irmandade Santo Antônio.

“A influência histórica para criação é a presença dos frades capuchinhos. Mas é a tradição da Igreja Católica e também tradição luso-brasileira sempre eleger uma capela. Normalmente, um grande proprietário, um grande senhor que se estabelece numa localidade. Ele costumava reservar um terreno como patrimônio de um santo. Daí muitos povoados eram chamados de patrimônio. Porque ao invés de ser um patrimônio público, de ser uma terra pública pertencente ao Estado, era uma terra pertencente a um santo; portanto não tinha dono. Aí elegia uma capela, fazia uma praça na frente e também o arruamento. Dali começava um povoado. Isso está na origem da maioria das povoações das atuais cidades de Minas Gerais e do Brasil”, detalha Haruf Salmen Espíndola.    

Assim, ano após ano, a Festa de Santo Antônio se repete, não apenas como um evento religioso, mas como reflexo de um passado não tão distante.

“Essa questão da religião, da fé, está ligada também à questão da cultura e da identidade. Porque você tem as festas juninas, o aniversário da morte de Santo Antônio, dia 13 de junho, que coincide com a época das festas juninas, né? Então tem parte dessa tradição identitária que é muito forte, como as barraquinhas, as comidas típicas dessa época. Isso tudo reforça muito essa mistura entre a fé, a cultura e a identidade, na construção do próprio território e da territorialidade daquelas pessoas que habitam”, disse o historiador.

“Valadares é uma cidade muito religiosa, não só católica, mas também tem um número expressivo de protestantes. Aqui não é uma cidade secularizada, Valadares é muito religiosa. Então nós cristãos, tanto católicos quanto protestantes, temos como parte a essência da cidade, dessa religiosidade. Até mesmo por ser uma cidade mais do interior. Então a gente vê nos dias de hoje a expressão da fé do nosso povo”, destacou o padre.

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