O comandante da Polícia Militar da Bahia, coronel Paulo Coutinho, afirmou nesta segunda-feira (29) que a PM só atirou contra o soldado que protestou no Farol da Barra após ter sido alvo de disparos de fuzil.
O soldado Wesley Soares foi baleado no início da noite de domingo (28) após ter passado cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador.
Ele foi atingido por tiros por volta das 18h30, após ter erguido um fuzil e disparado contra os colegas da PM que negociavam a sua rendição. O soldado chegou a ser socorrido por uma ambulância e levado para o Hospital Geral do Estado, mas não resistiu aos ferimentos morreu na noite deste domingo.
O comandante da PM afirmou que as esquipes que conduziram a negociação seguiram os protocolos internacionais de gerenciamento de crises, mas acabaram reagindo após terem sido atacados com tiros de fuzil, arma de alta letalidade.
“Não obstante todos os recursos que nós utilizamos de isolamento e contenção, ele direcionou essa arma para a tropa e efetuou disparos que poderiam ter atingido mortalmente não só policiais militares, mas também da comunidade”, afirmou o coronel Paulo Coutinho em entrevista à imprensa.
De acordo com o comandante da PM, a polícia tentou negociar a rendição do soldado, mas enfrentou dificuldades já que ele estava em situação de “transtorno mental”.
O soldado Wesley Soares era lotado no batalhão de polícia de Itacaré, cidade do sul da Bahia a 250 km de Salvador. Ele estava de serviço neste domingo, mas deixou o batalhão armado e, dirigindo o próprio carro, seguiu até Salvador.
“Era um policial militar que não apresentava problemas, não deu sinais em qualquer momento de surto”, afirmou o coronel Paulo Coutinho. Formado em 2008, o soldado tinha 13 anos de atuação na PM.
Ele ainda se solidarizou com a família do soldado, com a tropa da PM e lamentou o desfecho do caso com a morte do policial: “Essa ocorrência teve um término que nós não gostaríamos”.
Um inquérito policial militar foi instalado para apurar as circunstâncias da morte do soldado.
Policiais ligados à Aspra, associação que representa soldados e praças, convocaram um protesto para o Farol da Barra na manhã desta segunda.
Líder da associação, o deputado estadual Soldado Prisco (PSC), que já liderou greves da PM na Bahia em 2012 e 2014, conclamou os policiais a aderirem a um novo motim após a morte do soldado neste domingo. Nesta segunda-feira, contudo, afirmou que os policiais vão protestar pacificamente e que uma possível greve está descartada.
O comandante da PM descartou uma possível paralisação dos policiais: “Não há possibilidade de greve. Prestamos um serviço extremamente essencial para a comunidade”, afirmou.
O coronel Paulo Coutinho ainda disse lamentar outro episódio que aconteceu na noite deste domingo: policiais avançaram contra jornalistas que atuavam na cobertura do caso próximos ao Farol da Barra e chegaram a dar tiros para o alto para afastar a imprensa.
O soldado Wesley Soares chegou à região do farol da Barra por volta das 14h30 e rompeu as barreiras que isolavam a região, um dos principais pontos turísticos de Salvador. Deu mais de uma dezena de tiros para o alto e gritou palavras de ordem, provocando pânico entre moradores da região.
O policial estava fardado, armado com um fuzil e uma pistola e estava com com o rosto pintado de verde e amarelo.
Em vídeos publicados por testemunhas nas redes sociais, o policial gritou palavras de protesto, falando em desonra e violação da dignidade dos policiais.
“Comunidade, venham testemunhar a honra ou a desonra do policial militar do estado da Bahia”, gritou o policial militar em um dos vídeos, logo após ter dado um tiro para o alto com uma pistola.
Em outro momento, ele grita: “Não vou deixar, não vou permitir que violem a dignidade e honra do trabalhador”. A região do Farol da Barra foi isolada.
Em nota, o governo da Bahia confirmou que se trata de um policial em situação de “surto psicológico”.
Ainda segundo o governo baiano, o soldado “alternava momentos de lucidez com acessos de raiva, acompanhados de disparos”. E chegou a iniciar uma contagem regressiva antes de começar a atirar contra os colegas.
“Os nossos objetivos primordiais são preservar vidas e aplicar a lei. Buscamos, utilizando técnicas internacionais de negociação, impedir um confronto, mas o militar atacou as nossas equipes. Além de colocar em risco os militares, estávamos em uma área residencial, expondo também os moradores”, afirmou o comandante do Bope, major Clédson Conceição. JOÃO PEDRO PITOMBO/FOLHAPRESS