Profissionais do transporte, entre caminhoneiros e motoristas de van, contam que estão ‘pagando para trabalhar’; de acordo com a Petrobras, a valorização do diesel é global
Esta terça-feira (10) amanheceu um pouco mais cara para José Mauro. Ele ficou surpreso quando, ao chegar para abastecer, soube o preço do diesel. Contudo José Mauro ainda lembra que decidiu investir no ramo de fretes há pouco mais de um ano. Diante dos gastos, o motorista reflete sobre a escolha: “Acho que não tive sorte”. De acordo com a Petrobras, a partir de hoje (10), o consumidor pagará, em média, R$ 0,36 a mais pelo litro do diesel nos postos de combustíveis do Brasil.
Sobretudo José Mauro relatou que, com o que recebe atualmente, não tem obtido lucro. Afinal, boa parte do pagamento retorna para a manutenção e o abastecimento do veículo. “O que me pagam por rota não compensa. Vou ter que sentar com eles [os clientes] amanhã, e conversar. Se for para viajar para fora de Valadares, por exemplo, tem que ser combinado por Km”, pontua. Mas se os valores continuarem a subir, o motorista terá de buscar novas soluções:
“Vou ter que ou tirar o caminhão ou fazer outro contrato. Antes estava R$ 6,60, agora está quase R$ 7”, se queixa o caminhoneiro a respeito do diesel.
Preço do combustível para as distribuidoras
Dessa forma, a partir de hoje (10), o preço do combustível para as distribuidoras também aumenta. Então o diesel passa a custar, aos comerciantes, R$ 4,91, e não mais R$ 4,51, por litro. Isso corresponde a um reajuste de 8,9%. Ainda conforme a Petrobras, o valor mínimo de revenda (considerando a mistura obrigatória de 90% de diesel A e 10% de biodiesel) para o consumidor final, passará de “R$ 4,06, em média, para R$ 4,42 a cada litro vendido na bomba”.
No entanto estes preços variam de acordo com o mercado local. Com isso, segundo a petroleira, a variação seria de R$ 0,36 por litro.
Motoristas temem crise no setor de transportes
Entretanto quem também abasteceu o caminhão hoje de manhã e ficou preocupado foi Lucas Santos. Ele é caminhoneiro há 16 anos e está vindo de Juiz de Fora. Então ao ver a tabela de preços, Lucas resume o atual momento como “absurdo”.
Segundo o motorista, a despesa que tem com o trabalho acaba indo além do diesel. “Através do diesel já sobe, automaticamente, a manutenção. Tudo, né. Daí o frete continua baixo. Acaba que não sobra nada. Estamos pagando para trabalhar”, lamenta o caminhoneiro. Além disso, Lucas Santos receia não conseguir manter-se empregado. “Com este aumento aí, eu não sei mais o que vão fazer. Se vão me mandar embora. Tá difícil”.
Transporte escolar deve ficar mais caro
Enquanto isso, o motorista de van escolar Sr. Juvenal Couto já está decidido a aumentar também o preço por seu trabalho. Ele acredita que os pais dos alunos irão entender, até por preferirem não levar os filhos para a escola como uma forma de economia. Hoje, ele abasteceu R$ 300 de óleo diesel e conta não ter sido suficiente.
“Não deu para encher, não. Trezentos reais, hoje, é uma média de poucos litros. Antigamente dava para encher e ainda sobrava um dinheirinho. É ruim para todos nós. Para mim e para os meus clientes”.
Portanto ambos os motoristas se preparam para os desafios que ainda podem estar a caminho. Então quanto a isso, eles acreditam na possibilidade de futuros manifestos. “Vamos tentar levar, mas acho que todo mundo tem que dar uma força, parar de andar um pouco, correr atrás de algum tipo de manifestação. Se eu for andar muito, vou ter que gastar mais combustível”, disse o Sr. Juvenal. Já o caminhoneiro Lucas Santos completa: “Eu acho que nós temos que parar o transporte. Porque não tem condição mais. Já não sobra, se aumentar mais ainda (…)”.
Economista explica aumento no preço do diesel
Em nota, a Petrobras justificou a elevação dos preços. De acordo com a empresa, este desequilíbrio provém de uma supervalorização do diesel em todo o mundo. Tal valorização está relacionada à pouca oferta em comparação com a demanda. Ou seja, os estoques globais seguem abaixo da quantidade mínima. Por isso, o diesel se encontra, inclusive, com valor superior ao petróleo.
“Esse desequilíbrio resultou na elevação dos preços do diesel no mundo inteiro, com a valorização deste combustível muito acima da valorização do petróleo. A diferença entre o preço do diesel e o preço do petróleo nunca esteve tão alta”, informou a nota.
Por fim, o economista Matheus Sales, do Procon de Valadares, complementou as explicações acerca deste aumento, além da inflação como um todo.
“A Petrobras segue a política de preços de paridade do preço nacional com o preço do mercado internacional. Como o produto brasileiro estava num preço inferior, ela [Petrobras] optou por esse aumento, para equilibrar o preço nacional com o preço estrangeiro. Mesmo com esse aumento de 40 centavos, o preço nacional ainda vai ficar defasado. O preço nacional ainda é maior. Então existe uma expectativa de que ainda haja um aumento”, esclarece Sales.
Confira, agora, nossa entrevista completa com o economista Matheus Sales, do Procon de Valadares, acerca do aumento do diesel:
Veja a matéria do Balanço Geral completa: