Apesar do foco em ajudar mulheres, o público geral do abrigo participa de ações que valorizam, sobretudo, a vida
Já imaginou como seria sua vida após receber um diagnóstico de câncer? Apesar de nunca esperarmos que essa doença nos acometa, ela existe e pode mudar a rotina de qualquer pessoa, a qualquer momento. Foi assim com a dona Almira Batista dos Santos, de 50 anos. Ela é de Ataleia – Vale do Jequitinhonha -, foi diagnosticada com câncer de mama no final do ano passado e iniciou o tratamento em dezembro. “Já estava bem grande, não estava no início. Para mim, foi a pior situação que já enfrentei. O chão fugiu dos meus pés“, relatou a auxiliar de serviços gerais.
Então, para dar sequência ao tratamento em Governador Valadares, dona Almira contou com o apoio do Abrigo Esperança, localizado no bairro Vila Isa. A grande casa recebe pacientes oncológicos e renais crônicos de várias regiões como Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhonha, que é o caso de dona Almira. No local, os pacientes vivem como estivessem de fato em seus próprios lares, com direito a boa alimentação, conforto, acompanhamento médico, além de demais atividades cotidianas e de interação social.
“Eles vêm, ficam a semana toda conosco e, no final de semana, aqueles que estão em um estado melhor vão para casa. Nós temos uma rotina bem agitada. De manhã tem o café da manhã, eles recebem acolhimento com a nutricionista, assistência social. Tem o lugar para estarem dormindo, para as roupas serem lavadas, passadas. É uma casa, só que em tamanho gigante”, informou a atendente de telemarketing do abrigo Jessi Ribeiro Menezes.
Na manhã desta terça-feira (4), dona Almira aproveitava a lavanderia do abrigo para trabalhar um pouquinho lavando suas roupas. Ela se hospeda no abrigo de segunda a sexta-feira, e nos fins de semana volta para sua cidade de origem.
Esperança
“O nome esperança, em si, já nos traz uma força muito grande. É um lugar muito bom, onde a gente busca a Deus; vejo que é um diferencial aqui. Sempre está tendo culto e isso é tudo o que a gente precisa neste momento tão difícil. Então isso, para mim, foi um ponto chave. Para todos os que precisam de um lugar para ficar, aqui é dez”, declarou a paciente.
Sobretudo dona Almira aproveitou para ressaltar qual é a sua esperança de agora em diante, já que está finalizando o tratamento. Aliás levar uma mensagem de superação às outras mulheres que precisam é uma de suas metas.
Tarde Rosa
E entre os pilares que oferecem todo o amparo necessário aos pacientes do abrigo está o grupo de apoio Tarde Rosa. O grupo tem um ano de atuação e é formado por mulheres que já passaram ou ainda passam por tratamento de câncer, seja de mama ou demais membros. Portanto, se dona Almira se sentiu “sem chão” ao receber a notícia sobre sua saúde, essas mulheres entram em cena para provar que ainda há muito chão pela frente.“A gente veio não para romantizar, mas para alegrar. Lembrar que existe uma vida que continua após o câncer”, afirmou a professora Daniela Nunes Franco, integrante do grupo.
Desse modo, o grupo organiza um cronograma de atividades para os acolhidos, incluindo palestras profissionais da saúde, festas, atividades físicas como a dança, momentos de fé e rodas de conversa para a partilha de experiências. “É maravilhoso. Por mais que a gente fique cansada por conta do tratamento, de outras questões, é um momento de alegria para amenizar. Porque a gente não vai vir falar de dor. É claro que a gente compartilha figurinhas, mas a gente está falando de vida, de alegria”, destacou a também professora Luciana Cardoso. Ela já encerrou o tratamento do câncer de mama e segue tratando demais áreas onde ocorreu a recidiva.
“O Tarde Rosa foi criado há um ano atrás, por quatro mulheres que estavam passando pelo câncer de mama. E a partir daí elas falaram: ‘Estamos sendo tão ajudadas, nós podemos ajudar mais pessoas!’. Então hoje nosso grupo, que começou com quatro pessoas, já tem mais de 60 mulheres. A gente trabalha com a prevenção, com a conscientização contra o câncer de mama. A gente acompanha as pessoas que estão em tratamento, que precisam de ajuda psicológica e ajuda financeira e também acompanhamos pessoas que já finalizaram o tratamento. Porque, infelizmente, mesmo a pessoa finalizando o tratamento, o câncer ainda deixa sequelas psicológicas muito fortes”, explicou a empresária e participante do grupo Janaine Cunha.
Grupo Esperançar
Mas já que não há limites quando se fala em espalhar amor e esperança, outro grupo de apoio vem crescendo para fortalecer ainda mais as ações em favor de pacientes oncológicos. É o grupo Esperançar, que já atua em conjunto com o Tarde Rosa. No entanto o foco do Esperançar é levar alegria e incentivo aos pacientes do Núcleo de Especialistas em Oncologia (Neo) de Governador Valadares.
De acordo com a fundadora e agora ex-paciente oncológica Vilma Carneiro, o grupo tem, ainda, apenas quatro semanas de existência, mesmo tempo de encerramento do seu tratamento de câncer de mama. Contudo ela acredita que o trabalho deve continuar.
“Também passei pelo tratamento de câncer de mama e, junto com outras duas amigas, Eliana Louzado e Taís, formamos esse projeto. Nós vamos todas as segundas-feiras no NEO, onde as pessoas fazem a quimioterapia, e ali a gente entra, leva uma palavra de fé, de Deus, tem momento de oração e louvor. E a gente vê no olhar deles a gratidão. Porque esse momento de tratamento, para quem já passou, é muito delicado. Nosso projeto é levar esperança. Esse grupo visita não só o NEO, mas o Abrigo Esperança também nos abriu esse espaço. E outras mulheres que não passaram pelo câncer sentiram esse desejo e se agregaram conosco”, contou Vilma Carneiro.
O Abrigo Esperança fica na rua Nízio Barcelos Peçanha, nº 1384, bairro Vila Isa. O telefone é o (33) 3272-2593.