O que tem atraído investimentos para Valadares?

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Atração de novas empresas acontece no mesmo período em que GV completa 2 anos na Sudene

GOVERNADOR VALADARES – O anúncio de instalação de novas empresas em Governador Valadares tem gerado expectativa em relação ao impacto do setor industrial no desenvolvimento do município, com destaque a geração de empregos. Só no mês de setembro, tivemos o anúncio da Andritz Hydro, que assinou com o Governo de Minas o investimento de R$ 285 milhões em Governador Valadares. E, no próximo dia 5 de outubro, a Hypofarma, empresa do setor da indústria farmacêutica, inicia efetivamente a instalação da fábrica no município.

Além disso, ainda no final de 2022, a Wabtec, uma empresa dos Estados Unidos do segmento de locomotivas, fechou a aquisição da Super Metal, empresa brasileira de equipamentos de manutenção de via, que tem como sede Valadares. Desde lá, os trabalhos de ampliação e contratação seguem a todo vapor por aqui.

Nos três casos se destacam o interesse e celeridade que as empresas de grande porte têm buscado ao se instalarem em Valadares. O que, sem dúvida, é comemorado pelo Executivo municipal. “A gente está vivendo a realização de um sonho, que, antigamente, estava tão longe. Esta questão da Sudene, de novas indústrias, de novas empresas; fortalecer as nossas empresas locais também é muito importante para gerar mais empregos. Realmente estamos vivendo isso, que é um sonho, que muita gente correu atrás. […] Isso realmente, podem ter certeza, é uma virada de chave para Valadares. Daqui 10 anos, nós não sabemos e ainda não dá pra estimar a cidade que vamos ter em termos de pujança econômica”, disse o prefeito, André Merlo, durante discurso no dia 18.

O que Valadares tem?

É no meio de toda essa onda de investimentos que o município completa dois anos como parte da área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), uma autarquia do Governo Federal. De acordo com a secretária municipal de Desenvolvimento, Tecnologia e Inovação, Beatriz Pereira de Almeida, existem alguns fatores que podem explicar a nova onda de atração que o município está recebendo. Entre eles, Beatriz destaca o ambiente de negócio favorável com menor burocracia; a infraestrutura de modais de transporte (rodovia, ferrovia e aeroporto); os incentivos fiscais (tanto do Governo de Minas quanto do Governo Federal); e o fortalecimento do plano de desenvolvimento econômico do município. Além disso, os setores de comércio e serviço se firmam como base da economia local.

Outro ponto que a secretária explica sobre a atração de novas empresas é a compatibilidade entre o potencial do município e o tipo de produto ou serviço que se deseja implantar na cidade. “A gente tem uma mão de obra muito qualificada para a área da saúde. A gente tem 900 estabelecimentos no município entre consultórios, clínicas e hospitais; a gente é no Brasil o município com maior número de dentistas por pessoa e também temos dois cursos de Medicina. Então quando somamos todas essas questões, a gente vê que a área da saúde tem um potencial muito grande para Valadares”.

Segundo Beatriz, o planejamento da secretaria é auxiliar na diversificação da economia local e em paralelo estabelecer uma cadeia de produção que favoreça o desenvolvimento do município. Sendo assim, além do setor de saúde, o segmento da indústria alimentícia, como os laticínios, a exportação de minério e o investimento no setor de inovação, em parceria com as universidades, também se incluem nessa proposta de cadeia produtiva.

Investimentos x desenvolvimento

Mas, por outro lado, também é preciso notar que há desafios para transformar esses investimentos em desenvolvimento para o município, sobretudo, em longo prazo. Na análise do economista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV) Hilton Manoel, a atração de indústrias para Valadares atualmente está muito relacionada à Sudene, principalmente, pelos benefícios fiscais, porém, apenas esta questão não será garantia de atração de novas empresas.

“A cidade tem indicadores ruins na parte de violência; alta concentração de renda; distância de centros urbanos (mercados) é prejudicada pela precária infraestrutura logística nos três modais de transporte; o ambiente de negócios está preso a setores de baixa intensidade tecnológica (economia basicamente dependente de comércio e serviços básicos); histórico de baixos investimentos em tecnologia e inovação. Todavia os volumosos investimentos públicos federais em ciência, tecnologia e inovação poderão ser a base para o processo inicial de transformação desse território, com a crescente fixação de recursos humanos qualificados e crescente volume de pesquisa e desenvolvimento. Apesar disso, há um grande desafio local/regional no que se refere à capacidade de se estabelecer uma governança que pense e execute políticas de desenvolvimento sustentável de longo prazo. Estamos carentes dessa dinâmica, presos a tomadas de decisões eleitoreiras de curto prazo”, explicou Hilton Manoel, que também foi secretário de Desenvolvimento e Inovação em Valadares entre 2019 e 2022.

Esse ponto ganha ainda mais destaque quando se considera a renda média da população de Valadares. De acordo com o Mapa de Riqueza de 2020, a renda média da população é de R$ 1.121,43. Para efeito de comparação, o salário mínimo em 2020 era de R$ 1.039. Dessa forma, o professor avalia que é fundamental a implementação de políticas públicas assertivas para favorecer o desenvolvimento econômico e social.

“Não há caminho para o desenvolvimento local/regional que não vá passar pela necessidade de mais investimentos em políticas de ciência, tecnologia, inovação e inclusão. Como consequência de mais investimentos em educação e saúde, poderemos pensar em melhoria dos indicadores de desigualdade socioeconômica, o que também afetará positivamente os indicadores de criminalidade e pobreza, de forma geral. Não podemos dissociar a “política econômica” da “política social”, porque não adianta buscarmos só o crescimento do Produto Interno Bruto. Precisamos de políticas que fomentem novas indústrias, mas que também reduzam as desigualdades e o nível de vulnerabilidade social da cidade”, destacou Hilton Manoel.