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‘Nuvens’: Jovem valadarense lança livro inspirado em sonhos de infância

FOTO: Arquivo pessoal

GOVERNADOR VALADARES – O primeiro dia na escola, as brincadeiras de rua com os amigos, o sabor do bolo caseiro que a sua avó preparava… com o passar do tempo, essas lembranças de infância podem acabar se tornando nebulosas. Distantes, mas, por serem tão marcantes, ressurgem mesmo que de maneira efêmera. Foi assim, refletindo sobre a origem dos seus sonhos e memórias, que o valadarense Patrik Salviano, estudante universitário, criou o seu livro “Nuvens”, lançado em setembro deste ano.

A obra

A relação do jovem de 24 anos com a literatura começou a aflorar ainda em seus anos iniciais, quando se encantou por um livro do poeta Manuel Bandeira na biblioteca da escola. Por ainda não ser alfabetizado naquela época, pediu à professora que lesse o conteúdo ali escrito. Quando a ouviu declamar o poema “Os sapos”, o pequeno Patrik sentiu amor à primeira vista pela arte literária — e, desde então, ela nunca saiu de sua vida.

Já em sua fase adulta, começou a pôr suas reflexões existenciais no papel em forma de poemas, que posteriormente deram vida à obra “Nuvens”. O livro surgiu do desejo do jovem de compartilhar esses pensamentos com os amigos, acompanhados de um bom café e uma prosa descontraída. Porém, os seus versos conquistaram tanto a admiração dos colegas, que eles o incentivaram a buscar uma maneira de dividi-los também com o resto do mundo.

Patrik e amigos no lançamento do livro “Nuvens”, em setembro. — FOTO: Arquivo pessoal

Mas, o que tanto fascinou o ciclo de amizade de Patrik? Sem dúvidas, o que chama atenção são as histórias nebulosas narradas em cada poema, construídas a partir de sonhos do autor que resgatavam momentos importantes de sua infância. “Nesses sonhos estavam meus amigos, minhas conquistas, desafios e pensamentos […]. Muitas vezes sonhamos com esses momentos de uma forma imprecisa. Acordamos e temos sensações estranhas, boas e até tristes quando encontramos nesses sonhos pessoas ou acontecimentos que nos deixaram marcas profundas“, reflete o autor.

Os poemas do jovem escritor nasceram de lembranças e sonhos em que pessoas ao seu redor estavam presentes. — FOTO: Arquivo pessoal

Como uma tempestade repentina no céu, a imprecisão dos sonhos se dá porque, às vezes, os fragmentos do subconsciente se acumulam, obscurecendo a nossa visão. Assim, ficamos perdidos, sem saber se o que sonhamos realmente aconteceu ou se foi apenas uma ilusão. Patrik ficou intrigado com as lembranças que surgiam enquanto sonhava, mas não entendia muito bem se elas eram verdadeiras. 

“Passou muito tempo até que eu compreendesse que não poderia conhecer aqueles momentos que vi nos sonhos como na primeira vez que ocorreram, mas sabia que apesar disso eles haviam me formado e eram referências em minha vida“, conta. “Penso que isso ocorre com todas as pessoas, e a infância é o campo mais sensível para isso. O primeiro gol de um filho, por exemplo, comemorado pelo pai, é uma memória forte o bastante para sobreviver ao tempo, ainda que não seja lembrada com a perfeição do momento que aconteceu pela primeira vez, ela sempre fará parte da formação daquela criança“.

A formação da memória e dos sonhos durante a infância é um tema presente em alguns poemas do livro. — FOTO: Arquivo pessoal

No poema “Nós”, presente na obra lançada, o autor expressa bem esse sentimento: “Numa foto de criança, entrevi o nosso sonho / que agora pouco recordo por estar cheio de nuvens“. Para ele, a obra gira em torno da ideia de que as nuvens gradativamente vão tornando nossas lembranças desconhecidas e, por isso, é necessário valorizá-las enquanto não são dominadas pelo esquecimento.

“As nuvens (o que irá nublar essa e tantas outras lembranças) irão perdurar, pois a construção da nossa memória é contínua e é normal que o nosso cérebro não guarde com exatidão aquilo que viveu há muito tempo, uma vez que vivemos coisas novas e importantes a todo momento que dão origem a novas lembranças“, declara o escritor.

Processo de criação

Foi na calada da noite, em uma jornada pelos terrores e doces sonhos da madrugada que Patrik escreveu “Nuvens”. Naquele período, a sua preocupação era em manter seus versos em uma linguagem simples e acessível. Como referência, se inspirou em grandes nomes da literatura como Carlos Drummond de Andrade, Homero, Virgílio, e até autores russos, como Gogol, Dostoievski e Tolstoi — este cujo livro autobiográfico “Infância, Adolescência e Juventude” ocupou papel central na obra de Salviano. 

“Pensei muito na forma como retratar a ideia das nuvens e escolhi a poesia pois nela posso retratar esse realismo mágico dos sonhos, e eu brinco que alguns textos vieram prontos através deles, bastando apenas que eu os colocassem no papel”, conta.

Ao longo da leitura, é possível notar que algumas páginas de “Nuvens” contém ilustrações que captam a essência da obra. Patrik conta que, assim como boa parte do livro, também sonhou com as ilustrações e, quando as desenhou, tentou reproduzi-las de forma que também contassem uma história. “A ideia é a de que, no fim, somos parte de algo maior, do sentimento humano, e é uma questão menor saber o que somos diante da pergunta ‘o que não será esquecido na eternidade?’ que inicia o livro”, explica.

De forma a transmitir a ideia de impessoalidade, os desenhos não apresentam qualquer elemento que possa revelar sua identidade. O primeiro deles representa a silhueta de uma pessoa exibindo uma bandeira com o desenho de uma nuvem azul. Nas ilustrações seguintes, essa cor azul muda de lugar, colorindo diferentes formas e elementos, como animais e a Lua. Para Patrik, a ideia seria mostrar que, em cada um desses momentos sonhados, as nuvens estariam presentes. 

Até que chega à última ilustração, a mais simbólica. Baseado no retrato norte-americano da batalha de Iwo Jima — após os aliados vencerem a Segunda Guerra Mundial — o desenho reproduzido por Salviano mostra várias pessoas erguendo a bandeira da nuvem, presente no início do livro, como sinal de que os momentos que elas representam também são importantes para todos nós e, consequentemente, para o sentimento humano. 

Imagem famosa que inspirou o desenho de Patrik para o encerramento do livro “Nuvens”. — FOTO: Joe Rosenthal

Lançamento

Sem intenções iniciais de publicar a obra, que foi criada para ser compartilhada entre seus amigos, Patrik acabou sendo convencido de que os seus poemas deveriam ser apreciados por mais pessoas. Foi assim que a Editora Parapente entrou em cena, uma instituição sem fins lucrativos, fundada pelo professor Guilherme Saraiva (UFJF-GV), que visa tornar a pesquisa e a literatura acessíveis a todos.

“Na época, eu estava tendo aula com o professor Guilherme e fui até ele com a intenção de obter informações sobre o mercado editorial e ele, muito generosamente, me convidou a publicar o livro”, relembra Salviano.“Sou imensamente grato a ele e fico feliz de fazer parte do sentimento que a Parapente quer transmitir de ser um lugar possível para a literatura”.

Guilherme Saraiva, professor da UFJF-GV e fundador da Editora Parapente, e o autor Patrik Salviano. — FOTO: Arquivo pessoal

Outro grande incentivador de Patrik foi o bibliotecário da UFJF-GV, Allan Julio Santos, a quem o jovem autor apresentou o livro em primeira mão e ainda convidou para escrever o prefácio. Assim, “Nuvens” é introduzido pelo amigo com as palavras: “Este livro é um portal, e ao atravessá-lo, encontramos não apenas histórias, mas pedaços de nós mesmos que talvez nunca soubéssemos que existiam”.

Patrik e Allan Julio Santos, um de seus principais apoiadores no processo. — FOTO: Arquivo pessoal

E há novas histórias a caminho: segundo Patrik, a sua próxima obra autoral já está em andamento. Desta vez, será um romance, que surge a partir de um dos poemas do “Nuvens”. “Existe uma janela em ‘Balaclava’ que nos leva a esse romance. Aqui os sonhos continuam a ser importantes e somos colocados diante do extremo da guerra, das fronteiras do humano”, revelou o autor. 

Onde comprar

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