Liricamente, assentada no meio de árvores monumentais, via-se uma capelinha com a imagem de Santo Antônio num rústico altar. Segundo os moradores, ela fora encontrada como o foi Nossa Senhora Aparecida, pelo pai de Quintiliano Costa, que, ao pescar, deparou-se com o santinho e entregou aos padres. O arraial cresce e uma nova igreja católica com o nome do santo é erguida. Com a chegada de pioneiros protestantes, edifica-se um templo evangélico. Também o kardecismo ocupa o seu lugar com a família Pifano. Um coreto é construído e ali o povo passeia, namora, fala de política. Tempos depois, juntam-se à alegria do convívio as festas carnavalescas.
Embora haja crescimento econômico, a cidade torna-se conhecida pela violência e, como diziam os mais velhos, “aqui o tiro risca”. Com as florestas dizimadas, bem como índios, a planície vira entreposto de café, milho, carne salgada. Com a queda da bolsa de Nova York, o café cai de preço. A seguir, inicia-se um ciclo com muitos migrantes em busca de terras devolutas. Eram estrangeiros, pessoas do Nordeste, do Espírito Santo e mineiros de outros locais. Também houve oportunidade para o açúcar, que esgotou seu ciclo. Na Segunda Guerra Mundial, já como Governador Valadares, a economia parte para a mica, abundante àquela época. Passada a guerra, o papel se inverte: os valadarenses passam a ser imigrantes na terra do Tio Sam. Com os dólares, o comércio e a construção civil se aquecem e a cidade se torna conhecida como “Valadólares”.
No final da década de sessenta ela, enfim, descobre sua inclinação: torna-se o polo centralizador do ensino superior, em várias áreas do saber, o qual teve seu início com o MIT, hoje Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Outras faculdades e um anexo da Universidade Federal de Juiz de Fora completam o quadro da cidade educadora que concentra, hoje, oito instituições de ensino presenciais e dezesseis que oferecem cursos à distância. A cidade encontra-se apta a novos desafios como polo educacional.
Na política ela ressurge como a fênix. Após o desastre que a corrompeu, o rio torna-se fraco e indolente pela ação do homem e da Samarco. Estamos longe da beleza natural e pujante de suas matas e do rio Doce grandioso, guia dos bandeirantes e plaga do corajoso botocudo, vítima maior da carnificina perpetrada pelo invasor. Resta-nos a esperança de dias melhores.
Devido à resiliência de seu povo, Valadares pode se orgulhar, porque é espelho para outros municípios: ela criou um teatro, uma biblioteca, um centro cultural, a Academia de Letras, um museu, um Memorial da Educação Municipal, e soube amealhar livros… livros… livros que levam à cidadania plena como objetivo maior.
No azulado dos seus céus voam homens-pássaros como símbolos da libertação. No brilho de seu sol e no aquecimento de seu clima gera-se uma nova civilização, não embotada por radicalismos políticos nem pela corrupção que manchou a casa do povo.
Antônia Izanira Lopes de Carvalho