“Mulher-Hulk: Defensora de Heróis”, série lançada no Disney+ em agosto, estreou rodeada de críticas por causa dos seus efeitos especiais. Não à toa. A heroína musculosa com pele verde vivida por Tatiana Maslany é uma das criaturas mais malfeitas da Marvel.
O que é injustificável, visto que a personagem estrela uma produção bancada pela Disney, empresa rica o suficiente para criar bichos belos e realistas. Dei play no primeiro episódio a contragosto, pronto para atestar que o baixo orçamento só podia significar que a série era ruim mesmo. Mas não foi bem isso o que aconteceu.
“Mulher-Hulk” começa intensa e não demora para explicar por que Jennifer Walters tem poderes semelhantes aos do seu primo, Bruce Banner, o Hulk. No início da trama, os dois sofrem um acidente de carro quando ela se distrai para fazer uma piada sobre a virgindade do Capitão América. Ao compartilharem sangue por causa dos machucados, as habilidades de Banner acabam passando para ela.
Os efeitos especiais são mesmo grotescos e quase incomodam a ponto de desistir do seriado. Mas ver a personagem tentando se adaptar à sua nova identidade é interessante o suficiente para arriscar mais um episódio e descobrir que a série não é só de super-heróis, mas também uma comédia divertidíssima com advogados.
Walters trabalhava na área da advocacia até ser demitida por causa de uma confusão num tribunal depois de virar a Mulher-Hulk. Quando fica famosa por causa das suas habilidades, ela é contratada para chefiar uma divisão que vai cuidar de casos relacionados a seres superpoderosos.
A comédia dá ritmo ao seriado, que tem episódios curtinhos e leves, daqueles para ver numa sentada só. Em quase todo capítulo, Walters quebra a quarta parede -ou seja, olha para a câmera e conversa com quem está assistindo, geralmente na intenção de desabafar ou fazer uma piadinha. As tiradas funcionam e dão mais estilo à série.
É numa dessas, aliás, que “Mulher-Hulk” entrega o episódio mais criativo de uma série da Marvel. Nele, a protagonista extrapola a quebra da quarta parede e dá um jeito de consertar o final da própria série, que não lhe agrada.
Ela invade outras produções do catálogo do Disney+, conversa com roteiristas, debocha dos clichês da Marvel e pede pelos X-Men enquanto dá uma piscadela para a tela. Há até uma piada autodepreciativa sobre a pobreza dos efeitos especiais da Mulher-Hulk, quando um personagem pede que a heroína participe de uma cena na forma humana a fim de reduzir os custos do episódio.
Há também participações especiais que engrossam o caldo da série sem tirar o brilho da protagonista. O mago Wong contrata os serviços de Walters, o vilão do filme “O Incrível Hulk”, de 2008, vira amigo dela e até o Demolidor, trazido da Netflix para o Disney+, dá as caras numa versão mais engraçadinha e menos sisuda. Outra participação inusitada é a da rapper Megan Thee Stallion, que faz a Mulher-Hulk rebolar e quicar até o chão no terceiro episódio.
É uma série que não tem medo de rir de si mesma, do público, nem da própria Marvel. Mistura as doses certas de ação, comédia e drama, e tem ainda a ótima interpretação de Tatiana Maslany.
“Mulher-Hulk” termina com saldo muito mais positivo do que vários dos filmes grandiosos, épicos e com efeitos especiais de ponta lançados pela Marvel nos últimos tempos. Sinal de que é hora de reavaliar o que vem por aí.
MULHER-HULK: DEFENSORA DE HERÓIS
Onde: Disponível no Disney+
Classificação: 14 anos
Elenco: Tatiana Maslany, Jameela Jamil e Josh Segarra
Produção: EUA, 2022
Criação: Jessica Gao
Avaliação: Muito Bom
GUILHERME LUIS/FOLHAPRESS