O cantor Agnaldo Timóteo morreu neste sábado, dia 3, aos 84 anos. Ele estava internado desde o dia 17 de março, após receber diagnóstico de covid-19. A morte foi confirmada pelas redes sociais por Timotinho, sobrinho do cantor.
A morte de Agnaldo Timóteo causou comoção em sua cidade natal: Caratinga. Mas em Valadares muitas pessoas também sofreram um baque com a triste notícia, apesar de acompanhar sua ferrenha luta diária contra esse vírus mortal causador da covid-19 desde o ano passado.
Botafoguense apaixonado, Agnaldo teve relações muito afetivas com Governador Valadares, onde esteve diversas vezes fazendo shows e convivendo com a sociedade valadarense. Como não podia deixar de ser, ele conheceu e participou da história de ouro do futebol valadarense, isso nos idos de 50, 60, 70.
Também criou laços com as pessoas e a classe política, em especial com o ex-deputado federal Pedro Tassis, filho de família tradicional da cidade, que muito lutou e fez para o desenvolvimento local e regional do Vale do Rio Doce. Timóteo, inclusive, esteve em Valadares para participar do velório e do sepultamento do amigo Pedro Tassis, que faleceu no dia 19 de janeiro de 1995.
O cemitério de Santo Antônio ficou pequeno para acomodar milhares de pessoas, entre familiares, amigos, políticos e correligionários. O momento que ficou na memória dos presentes foi quando Agnaldo Timóteo cantou a música “Professorinha”, uma das prediletas de Pedro.
Um texto publicado pelo ex-jogador, advogado e desportista Luiz Alves Lopes, o “Luizinho”, na sua coluna Papo de Boleiro, em 21 de junho de 2020, aqui no Diário do Rio Doce, conta como foi o desafio que Agnaldo Timóteo enfrentou desde que contraiu o vírus, e agora acaba de perder essa batalha. Leia.
“Programa da saudade”. Pode ser. Lembranças das décadas de 60 e 70? Por que não? Gosto não se discute. A quarentena que impõe sacrifícios também tem o seu lado positivo. Combinados?
Manuseando a Bíblia Sagrada, vamos constatar que TIMÓTEO é um dos personagens mais conhecidos. Também em outros livros da Bíblia constam várias referências e indicações sobre ele. Muitas pregações são feitas sobre a pessoa de Timóteo, geralmente enfatizando o seu exemplo como jovem obreiro que a Bíblia descreve.
Ainda que diante do momento atual da pandemia, até a “boleirada” passou a lembrar de Deus, não menos verdade que o início de nossa narrativa certamente desagrada a maioria. Então, paremos por aqui.
Na realidade, queremos e o faremos, “rabiscar” alguma coisa em relação a outro Timóteo. Aquele de Caratinga, que sua inesquecível e saudosa mãezinha chamou, batizou e registrou como AGNALDO. Aqui a história é outra. Certo, Chico Duro? Quem se lembra da histórica luta de Agnaldo enfrentando Touro Moreno na quadra cimentada do Ilusão Esporte Clube? E a emocionante canção no Cemitério de Santo Antônio, quando do sepultamento do amigo Pedro Tassis? Timóteo, o Agnaldo, tem histórias e histórias. Muitas histórias. Alô, Marcelo Machado: vai ficar só na obra do “papai” Chico Duro?
Roçaliano que somos, matuto, saudosista e apegado, sentimos nas canções de Agnaldo a expressão da verdade, do sentimento e dos valores de nossa juventude. “…Se algum dia a minha terra eu voltar…”, “Mamãe sou tão feliz…”, etc., etc., provocam reações e sentimentos profundos. Agnaldo sempre cantou e continua cantando com o coração!
Nosso Agnaldo, enquanto ser humano, não é perfeito. Daí ser BOTAFOGUENSE roxo. Vivenciou um time que tinha, dentre outros, Manga, Pampoline, Leônidas, Rildo, Nilton Santos, Didi, Mané (nascido em Pau Grande), Amarildo, Quarentinha, Paulo Valentim, Zagalo e inúmeros outros. Esquadrão que fazia e fez frente ao Santos de Pelé e seus pares. Brincadeira. Bons tempos!
A paixão pelo clube da Estrela Solitária era [e deve continuar sendo] tanta, que o filho ilustre de Caratinga, com seu inegável prestígio, em oportunidades que não foram poucas, liderava embaixada do plantel de juvenis (hoje juniores) do clube de seu coração, para apresentações em cidades do interior do país, naquilo que se convencionou de futebol show – eis que nos intervalos, ou mesmo após os espetáculos, o repertório musical ocorria em grande estilo. Assim foi em Governador Valadares em pleno Mamudão, ocasião em que AGNALDO também funcionou como árbitro. E que árbitro!…
Sentimental e de coração bondoso, inesquecível foi o gesto do “nosso” Agnaldo, por intermediação do Chico Duro, também cognominado de Chico da Carmélia, quando aqui compareceu de forma totalmente graciosa e diante de uma Sociedade Recreativa Filadélfia lotada, levou ao delírio os espectadores. Renda integralmente destinada à Associação Santa Luzia. Detalhe: sem constar do script, compareceu às dependências da instituição e lá cantou algumas músicas para os abrigados-internos. Inesquecível! Grande coração! E mais: teve a ousadia e petulância de “escrever” carta a Roberto “poderoso” Marinho, reclamando da pouca divulgação do evento pela afiliada na região, argumentando veemente que a instituição beneficiada era merecedora da atenção reclamada. A cobra fumou…
De personalidade forte e explosiva, simpatizante de Brizola , Maluf e outros do gênero, Timóteo, o Agnaldo, tem o gosto pela política. Ao que se sabe foi deputado federal e vereador.
De repente, surge a notícia alarmante, tristonha e preocupante, em todos os rincões da terra descoberta por Cabral: Agnaldo Timóteo, ídolo nacional, cantor como poucos, fora acometido de acidente vascular cerebral – AVC, internado em estado grave. As imagens veiculadas na imprensa, adicionadas à idade do paciente e outros fatores clínicos, davam a entender quão grave e preocupante era seu estado de saúde.
Agnaldo sabe que é querido. Porém, certamente não tem a dimensão do quanto é querido, de quanto sofreu o seu público, seus admiradores e simpatizantes. Rezas e orações ocorreram em percentual altíssimo por todo o Brasil varonil. Promessas, também. Passado o susto, resta pagá-las. Certamente tal ocorrerá.
Aí, surge a pandemia da covid-19. Sofrimentos os mais diversos para ninguém botar defeito. O vírus não escolhe ou mesmo seleciona classe social, sexo, cor ou idade. Um verdadeiro furacão. Quando passará? Os mortais não sabem precisar. Falam e dissertam sobre teses e hipóteses. Sonham com uma vacina. A nós resta rezar e orar. Implorar misericórdia.
De repente, surge no vídeo e na tela, com cabelos parcialmente grisalhos, com semblante de um jovem sonhador e com voz eloquente, inconfundível, ELE, Timóteo – o Agnaldo, entoando “o ESCUDO”, implorando ao Pai Celestial que interceda pela humanidade.
“…Já vi fogo e terremoto; vento forte que passou; já vivi tantos perigos; mas tua voz me acalmou; tu dás ordens às estrelas; e ao mar os seus limites; eu me sinto tão seguro; no teu colo, ó ALTÍSSIMO”. Que assim seja! Tudo passará. Poderemos continuar curtindo o “filho de Caratinga”. O quase irmão do Chico Duro. Vida longa para o mito Agnaldo Timóteo!
A enfermidade de Agnaldo Timóteo e sua caminhada por estabelecimentos de saúde nos proporciona e permite uma ampla reflexão sobre nosso sistema de saúde, em especial o da saúde pública. Lutador, guerreiro e destemido como poucos, acreditamos que Timóteo, em sua trajetória vitoriosa, cuidou-se. Investiu. Certamente teve como enfrentar e custear tratamentos e assistências sofisticadas. Ainda bem.
O que dizer da grande massa de artistas de nosso país, verdadeiramente anônimos, que ao longo de suas carreiras artísticas não lograram êxitos financeiros suficientes ao enfrentamento de intempéries? Está lá na Constituição de 1988. A valorização do SUS é medida que se impõe. Oxalá que os “donos” do PODER, escaldados com a pandemia que vai passar, reflitam sobre nossas mazelas de cada dia! Que assim seja!”