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Megaexposição celebra obra de Roberto Bolaños, criador de Chaves e Chapolin

Divulgação/ Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo

DAIGO OLIVA


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por anos, o melhor amigo de muitas crianças brasileiras foi Roberto Bolaños —ao menos na hora do almoço. Sucesso no SBT, Chaves e Chapolin, entre tantos outros personagens do comediante, eram a companhia frequente de meninos e meninas durante as refeições antes ou depois de irem à escola.


A partir desta sexta (5), no ano que marca quatro décadas da estreia de “Chaves” no país, o mais brasileiro dos mexicanos ganha uma megaexposição que busca contar quem foi Bolaños (1929-2014) além de suas criações mais famosas, mas ao fim centrada no universo que tanto cativou os latino-americanos em geral.


No MIS Experience, em São Paulo, fãs do garoto pobre que vive num barril e do anti-herói de anteninhas, ambos cheios de bordões que se perpetuam mesmo com os programas fora da TV e do streaming há mais de três anos, encontrarão itens de acervo que nunca haviam saído do México e cenários refeitos, da vila do Chaves, obrigatória, ao restaurante da Dona Florinda e à sala de aula do Professor Girafales.


Com custo estimado em R$ 3 milhões, a retrospectiva espalhada por 1.140 metros quadrados e 26 salas deve arrebatar os mais aficionados com curiosidades como roteiros de episódios nunca exibidos no Brasil, guias em áudio com as vozes dos dubladores da Chiquinha e do Seu Madruga e figurinos originais, incluindo a marreta biônica do Chapolin, que traz com ela um pedaço de fio de nylon utilizado numa cena em que a “arma” tinha de “voar” —tipo de detalhe que faz fãs fervorosos vibrarem, tamanha a devoção.


“Os itens originais nunca tinham saído da casa do Roberto, mas o tamanho da exposição e o fanatismo do brasileiro convenceram a família a autorizar o empréstimo”, diz o produtor-executivo Felipe Pinheiro, 40.


Há, também, histórias de episódios. Na entrada da exposição, um painel explica a origem da frase “teria sido melhor ir ver o filme do Pelé”, hoje um meme hiperpopular que muitos nem sabem de onde vem. No original, Chaves diz que teria sido melhor assistir a “El Chanfle”, longa de Bolaños com o time de futebol América, do qual era torcedor, como pano de fundo. Como à época a obra não havia chegado ao Brasil, a sorrateira peça de marketing não fazia sentido, e a equipe de tradução resolveu trocar Chanfle por Pelé.


Agora, para surfar a onda de celebração em torno do comediante mexicano, o SBT mandou dublar não só “El Chanfle”, mas também “El Chanfle 2” e “Música del Viento”, e vai exibir os filmes neste mês de janeiro.


Embora o público se interesse mais pela nostalgia oferecida por “Chaves”, a exposição também destaca personagens como Pancada Bonaparte, Doutor Chapatín e Charrito e ressalta marcas de Bolaños, como os roteiros esquemáticos, as piadas ingênuas recheadas de bordões marcantes e as paródias que fazia de filmes americanos. “O Charrito vem do faroeste, mas ele é mexicano e tem um jeito meio bizarro”, afirma Pinheiro. “Assim como o Chapolin, que era medroso, enquanto os heróis dos EUA são destemidos.”


As referências a clássicos, os fãs sabem bem, extrapolam as produções americanas, e fotos históricas na mostra destacam episódios como o que traz a Branca de Neve e os setes anões, dos Irmãos Grimm, cantando “tchuim tchuim tchum claim” ou ainda “Juleu e Romieta”, um “Romeu e Julieta” às avessas, uma criação quase obrigatória para um autor que se intitulava Chespirito, ou seja, o “pequeno Shakespeare”.


Para garantir que as reproduções de itens fossem fiéis aos originais, o produtor-executivo teve a ajuda de três consultores. Assim, a cor com que os “aerolitos” do Chapolin foram pintados ou o formato das pedras de Acapulco passaram pelo crivo de João Victor Trascastro, 25, Alexandre Cesar, 28, e Antonio Felipe, 34, que mantêm o Fórum Chaves, comunidade com 30 mil usuários cadastrados e mais de 2 milhões de inscritos no YouTube —Pinheiro chegou a eles por indicação do Grupo Chespirito, da família de Bolaños.


“A vila é a mais fiel já feita, os fãs vão pirar. É uma imersão”, afirma Trascastro. “As pessoas já conhecem a série, mas mergulhar nela desta maneira ninguém nunca fez antes. Então mais do que o pátio da vila ou uma casinha representada numa réplica, o que interessa aqui é mergulhar nesse universo.”


Esse mergulho, porém, precisou de ajustes —o barril do Chaves, por exemplo, o item mais instagramável da mostra, é aberto na parte de trás, para o visitante ser fotografado sem ter que entrar e sair do tonel, evitando atrasos que formariam longas filas. A mudança foi feita após a experiência de Pinheiro ao montar, em 2016, outra exposição sobre o personagem de Bolaños no Memorial da América Latina.


Diferentemente da mostra anterior, a atual tem cinco vezes o seu tamanho, o que mostra a força de “Chaves” na cultura brasileira em diferentes gerações. À Folha Roberto Gómez Fernández, filho de Bolaños e presidente do Grupo Chespirito, afirma acreditar que o fanatismo local tem a ver com as condições similares das sociedades mexicana e brasileira, o fato de que a comédia é parte central no dia a dia de ambos os países e de que “é possível ver nos personagens nossa própria família e amigos”.


“Os brasileiros se conectaram de tal forma que a única explicação que tenho é que eles têm o coração tão grande quanto o do Chapolin e gostam de guardar momentos bonitos, assim como o Chaves.”


CHAVES: A EXPOSIÇÃO

  • Quando a partir desta sex. (5), de ter. a sex., das 10h às 20h; sáb, das 10h às 21h; dom. e feriados, das 10h às 20h
  • Onde MIS Experience, r. Cenno Sbrighi, 250, Água Branca, São Paulo
  • Telefone (11) 3613-2044
  • Preço qua. a sex.: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia); sáb., dom. e feriados: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia); grátis às terças (retirada de ingressos na bilheteria física no dia da visita)
  • Classificação livre

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