Gui Ramalho chegou aqui nem faz tanto tempo, ou melhor, faz sim: mais especificamente, 14 anos desde o início de sua trajetória como músico profissional. Seria tempo suficiente para construir um repertório musical coeso repleto de brasilidades? Seu novo álbum, “Lugar que eu nem sei”, revela que sim, o samba vai levar o artista para muitos lugares que ele pode ainda não saber, mas guardam um caminho de prosperidade.
Sobre o projeto
Lançado na última quinta-feira (29), o segundo álbum de estúdio do cantor que encanta as noites valadarenses surgiu de um processo de mudanças, tanto geográficas quanto emocionais, que o artista vinha enfrentando desde a pandemia. “Junto dessas mudanças, vieram muitas reflexões sobre a perspectiva dos rumos da minha carreira e também no sentido estético, das escolhas dos elementos para compor o meu modo de expressar na música. Essas mudanças chacoalharam esse lugar”, conta Gui.
Em “Ano a Ano”, penúltima faixa no disco, é possível atestar essa afirmação: a música traz um tom introspectivo, em que o eu-lírico narra que, mesmo escolhendo a liberdade, encontrou impedimentos, e agora se vê refém de suas próprias decisões. Neste lugar, coexistem muitas dúvidas e certezas que se refletiram no tema das músicas e na forma do artista tocar. “Essa coisa existencial, até mesmo investigativa, aparece mais na letra, e a parte estética complementa com as escolhas dos ritmos que eu fiz”, explica.
As referências para a concepção da identidade do disco vem desde grandes nomes da MPB, como Gilberto Gil, Jorge Ben e Novos Baianos, até inspirações contemporâneas como Tim Bernardes e Zé Ibarra. Ao longo de oito faixas, é perceptível como cada um ajuda a construir cada pedaço desse lugar desconhecido que o artista valadarense desbrava em sua nova obra, que mescla diferentes gêneros musicais brasileiros.
Processo de criação
Foram quatro anos desde a pré-produção até a finalização do álbum, o que permitiu que Gui e seus parceiros pensassem em diferentes formas de dar vida ao projeto, incluindo um ambiente de gravação alternativo, no Sítio do Seu Eber, casa de campo localizada no meio da Ibituruna. “A escolha foi conveniente no sentido técnico. Foi simbólica, no sentido do pertencimento, por ser na Ibituruna, um símbolo da região. Mas, também teve essa camada conceitual de ser um ‘lugar que a gente não sabe’, só de olhar ali a gente não consegue saber onde é, por ser no meio do nada”, reflete o músico.
E como quem sabe faz ao vivo, Ramalho gravou o álbum inteiro nesse formato, captando voz e instrumentos ao mesmo tempo, em uma perfomance única em parceria com o trompetista Kahuwe e a produção musical do estúdio Holofotti. Diferente de seu primeiro disco, que foi feito faixa a faixa em um longo processo, dessa vez a gravação terminou em dois dias. “A intenção disso era justamente explorar a performance, trazer em evidência o meu jeito de fazer o som. Já que no outro, o meu som estava diluído em vários outros elementos”, relata.
Além de ser uma experiência mais agradável, já que o artista pode explorar ainda mais a sua liberdade criativa, a gravação ao vivo também permite o registro de um material visual que, para o álbum “Lugar que eu nem sei”, ficou por conta dos fotógrafos e videomakers Eduardo Mozer, Luiz Siqueira e William Chambella.
Dance conforme o tempo
Enquanto o samba não acaba, Gui Ramalho vai ficando e não deixando ele morrer. Em suas canções, a mensagem que o artista deixa para o mundo é a de que é possível “dançar conforme o tempo”, mesmo quando as transformações que atravessam nossas vidas tentam nos fazer parar. É um convite para abraçar o caos e acolher o futuro e suas incertezas, sem medo de se permitir ser feliz em lugares que ainda desconhecemos. “Deixa o que ficou pra trás e o que for vir ter espaço pra entrar”, canta o artista na faixa que encerra o novo álbum.
O álbum “Lugar que eu nem sei” já está disponível na plataforma musical Spotify e em breve os visuais do projeto estarão disponíveis nos canais oficiais do artista. Ouça abaixo: