A Prefeitura de Belo Horizonte optou por proibir novamente a presença de público nos estádios da capital, após concluir que os testes feitos nas partidas entre Atlético-MG x River Plate-ARG, com público que o prefeito Alexandre Kalil acredita ter sido superior a 18 mil pessoas, e Cruzeiro x Confiança, com pouco mais de 4 mil torcedores, não terem respeitado os protocolos da pandemia. Nesta segunda-feira (23), o chefe do Poder Executivo do município convocou entrevista coletiva e explicou os motivos da decisão.
Além de falar sobre o assunto, Kalil aproveitou para responder às provocações do empresário Ricardo Guimarães, que, em entrevista à Rádio Itatiaia, chegou a dizer que a Prefeitura torce contra o clube, sem citar a figura direta do prefeito. Além disso, rechaçou ciúmes pelo momento vivido pelo Atlético e que estaria dificultando o andamento das obras da Arena MRV, estádio que está previsto para ser entregue em meados de 2022.
Em relação à volta das torcidas ao Mineirão, após mais de 500 dias, Alexandre Kalil destacou que, em momento algum, foi um acordo entre a Prefeitura e os clubes. Segundo ele, a ideia surgiu do gabinete do prefeito.
“Foi uma iniciativa de Alexandre Kalil, que pediu ao comitê de enfrentamento pra dar uma oportunidade pra gente saber se dava pra voltar o futebol. Nenhum dirigente de nenhum clube de Belo Horizonte esteve via ofício, via pessoalmente, via telefonema, pedindo pensando na torcida de futebol. Então, eu fico absurdado como de repente parece que nós estamos fechando unilateralmente o futebol”, destacou o prefeito.
“As torcidas e a população têm que saber que nós abrimos o futebol unilateralmente. Depois que nós decidimos que o futebol merecia uma chance, nós chamamos o clube pra colocar os protocolos, que, infelizmente, deu no que deu. Não vamos aqui voltar, porque todo mundo assistiu, o Brasil todo assistiu, foi matéria nacional, foi colocado como um verdadeiro escândalo nacional, mas não vamos culpar ninguém não”, acrescentou.
Em relação às declarações de Sérgio Batista Coelho, atual presidente do Atlético-MG, comparando a tradicional Feira Hippie da capital – evento realizado aos domingos na avenida Afonso Pena, com barraquinhas – aos estádios de futebol, Kalil destacou a educação do mandatário do alvinegro em suas colocações e aproveitou para diferençá-los.
“Ao presidente do Atlético, educadamente como ele foi na sua live, eu quero dizer que da Feira Hippie dependem 2.300 famílias, que ficou fechada mais de um ano. São 2.300 famílias que precisam comprar arroz, feijão e, talvez, ovo. Então a grande diferença entre agradar um público de 4 mil num jogo ou de 15, 18, 25 mil no outro é que são 2.300 famílias tentando se alimentar desesperadamente. Então, eu quero, presidente, que agora o senhor faça um juízo de valor da diferença de um jogo de futebol para uma feira aonde esse pessoal morreu de fome durante tanto tempo”, frisou.
Respostas a Ricardo Guimarães
Durante a tarde deste domingo (22), o empresário Ricardo Guimarães, um dos mecenas do Atlético e ex-presidente do clube, deu entrevista à Rádio Itatiaia e, sem citar o nome do prefeito de BH, disse que a Prefeitura “torce contra o clube”.
“Minha percepção é de ficar abismado com essa medida. Não vejo motivos para uma decisão tão radical como essa. Se houve erros na partida entre Atlético e River Plate, a Prefeitura é também partícipe do erro. Em conjunto com o Atlético e o Mineirão, a Prefeitura deveria melhorar o protocolo antes de tomar essa decisão tão radical. Para mim, essa decisão tem mais uma decisão política interna do Atlético do que de uma questão pública da Prefeitura. Isso nunca será admitido ou mesmo comprovado, mas a Prefeitura parece querer disputar com os dirigentes e colaboradores do Atlético. Parece que, dentro da Prefeitura, existem pessoas que desejam dificultar as coisas para o Atlético”, destacou Guimarães.
Durante boa parte da coletiva, Kalil aproveitou para responder o dono do Banco BMG, responsável por empréstimos milionários ao Atlético nos últimos anos.
“Ricardo Guimarães foi o presidente que nos empurrou pela segunda divisão. Foi o pior presidente que já passou pelo Atlético. Recebi um ataque asqueroso dele. Tive duas surpresas, ele tem um novo atributo, coragem, que nunca foi seu forte. E a falta de fluência na leitura. É uma tentativa de jogar a torcida do Atlético contra mim. É um discurso partidário visando 2022”, afirmou o prefeito.
“Dizer que torço contra o Atlético é uma ofensa. Não me meça pela sua régua. Temos sido agredidos pelo Ricardo Guimarães sorrateiramente. Acabou. Me respeite, respeite a grife que colocamos no Atlético”, acrescentou.
Arena MRV
Outro assunto abordado pelo ex-mandatário do Galo, campeão da Libertadores de 2013 e da Copa do Brasil e Recopa Sul-Americana de 2014, foi em relação às obras do estádio atleticano. De acordo com Kalil, é absurdo dizer que ele e a Prefeitura dificultam o processo de construção por ciúmes.
“Não há nada na política interna do clube. Tudo foi feito por esta Prefeitura. Eu não entro no Atlético nem para votar e só converso com quem manda, que é o senhor Rubens Menin. Tudo que é solicitado por Cruzeiro, Atlético e América é atendido dentro da legalidade. Não há racha dentro do Atlético; nenhum. Não há oposição dentro do clube”, afirmou Kalil.
“A respeito da documentação da Arena MRV, das exigências, quero dizer novamente, quero dizer novamente que quem manda esteve aqui na Prefeitura há 10, 15 dias, e teve a resposta que está tudo sendo olhado nas políticas sociais. Eu nunca ia prejudicar um estádio que tem o nome do meu pai. Daqui 100 ou 150 anos, quando o patrocinador mudar ou não tiver, o estádio tem institucionalmente o nome dele. Estava tratando para não cobrar da Arena MRV nada além do que está escrito”, finalizou. (Henrique André/Uol/Folhapress)