ROGÉRIO PAGNAN / SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-policial militar Victor Cristilder dos Santos e o guarda municipal Sérgio Manhanhã foram absolvidos na tarde dessa sexta-feira (26) das acusações de envolvimento na chacina de Osasco e Barueri (Grande São Paulo), em agosto de 2015, quando 17 pessoas foram assassinadas e outras sete foram feridas.
Os jurados entenderam que os dois são inocentes e devem ser colocados em liberdade. O Tribunal de Justiça de São Paulo tinha, em 2019, anulado as sentenças por considerar as provas insuficientes e pedido novo julgamento, mas a decisão do júri de agora não se ampara na falta de provas.
O promotor Marcelo Alexandre de Oliveira disse que, por ser tratar de um júri refeito por ordem TJ, não é possível recorrer da decisão. Uma tentativa de mudança do resultado em caso de anulação do julgamento.
“Não tenho motivo para pedir a anulação. Ela [a juíza Élia Kinosita] conduziu o julgamento de forma perfeita, com imparcialidade e extremado comprometimento com a Justiça”, disse Oliveira.
Cristilder e Manhanhã estão presos desde 2015 e deveriam ser colocados em liberdade em poucas horas.
O advogado dos réus, João Carlos Campanini, celebrou a decisão. “Eles [seus clientes] foram vítimas de uma investigação extremamente mal feita e, agora, precisam ser indenizados. O Cristilder precisa ser reintegrado à Polícia Militar, pois ele foi expulso. Ficaram cinco anos presos injustamente”, disse.
A absolvição também pode favorecer os ex-PMs Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Henklain, condenados em 2017. As respectivas defesas devem pedir a extensão da decisão alegando que foram condenados por uma ação conjunta, sem clara individualização de conduta e, portanto, todos precisam ter o mesmo destino.
Suspeitos de chacina de Osasco participam de julgamento usando uniformes da prisão e, um deles, também algemado.
Divulgação Defesa
Se a defesa dos outros ex-PMs conseguir convencer a Justiça da semelhança da situação dos reús, a maior chacina de São Paulo deverá ficar impune.
A chacina de Osasco e Barueri ocorreu em agosto de 2015. Integrantes das forças de segurança da região foram considerados suspeitos desde o início das investigações porque os ataques aconteceram dias após a morte de um PM e de um guarda civil de Barueri.
No submundo dos PMs matadores, há a regra de que o assassinato de um policial deve ser vingado com a morte de dez pessoas, atacadas próximas a “biqueiras” (pontos de venda) de drogas. Nenhuma das vítimas de Osasco e Barueri tinha ligação com a morte dos agentes.
A investigação desse crime foi uma das mais difíceis realizadas pela polícia paulista. Os criminosos, além de usarem toucas ninja, usaram luvas e apagaram todos os rastros que pudessem identificá-los. Os veículos e as armas usadas no crime nunca foram achados.
Contra Manhanhã e Cristilder havia, basicamente, troca de mensagens (emojis) nos horários próximos ao início e ao término dos ataques.
Uma testemunha chegou a reconhecer Cristilder em um homicídio anterior ocorrido em Carapicuíba logo antes da chacina. A versão dessa pessoa, porém, tinha contradições, e o ex-PM foi absolvido.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que a polícia ouviu cerca de cem pessoas na investigação. Seis PMs e um guarda municipal foram indiciados. Posteriormente, a Promotoria denunciou os sete indiciados, mas três casos foram recusados pela Justiça.