LARISSA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os investimentos diretos de estrangeiros no país somaram US$ 9 bilhões em fevereiro, mês anterior ao endurecimento de medidas de restrição diante do agravamento da pandemia de covid-19. O valor é o maior para o mês desde 2011.
Os dados foram divulgados pelo BC (Banco Central) nesta sexta-feira (26). O volume é cinco vezes o registrado em janeiro, de US$ 1,8 bilhão, e está acima da estimativa da autoridade monetária, que era de US$ 6,5 bilhões.
A modalidade, no entanto, ainda não recuperou os patamares observados antes da pandemia no acumulado dos 12 meses porque esse tipo de aplicação foi afetada pela crise sanitária.
No período, os investimentos totalizaram US$ 39,8 bilhões, o equivalente a 2,75% do PIB (Produto Interno Bruto). O montante, contudo, é quase metade do registrado no mesmo período de 2020, de US$ 65 bilhões.
Os investimentos diretos, diferentemente das aplicações em ações e títulos públicos, são feitos por empresas que estabelecem um relacionamento de médio e longo prazo com o país e são menos voláteis em crises momentâneas, por envolver decisões mais duradouras.
Com a pandemia, esses investimentos despencaram em 2020. Em comparação ao ano anterior, o volume de aplicações caiu pela metade. Ao todo, foram aportados US$ 34,1 bilhões no país no período, contra US$ 69,1 bilhões no ano anterior. O número foi o menor desde 2009, quando foram investidos US$ 31,4 bilhões.
Segundo resultados parciais até a última terça-feira(23), houve ingresso líquido de US$ 5,7 bilhões em aplicações desse tipo.
Para o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, o resultado de fevereiro ainda não caracteriza uma tendência. Para março, a autoridade monetária estima que ingressem US$ 7 bilhões em investimentos diretos no país. “Ainda é cedo para falar em tendência. Eu diria que ainda é um resultado pontual, ainda precisamos observar”, afirmou.
Segundo o técnico do BC, dois terços do resultado se deve ao aumento de empréstimos entre companhias do mesmo grupo.
Os investimentos brasileiros no exterior foram de US$ 1,7 bilhão líquidos em fevereiro. No acumulado dos 12 meses, porém, houve movimento de maior retirada que entrada de aplicações, com US$ 14,6 bilhões negativos líquidos, o que caracteriza desinvestimento.
O volume aplicado em ações e títulos públicos brasileiros foi positivo pelo nono mês consecutivo. Em fevereiro houve ingresso líquido de papéis negociados no mercado doméstico de US$ 3,6 bilhões.
Nos 12 meses, as aplicações somaram US$ 3,2 bilhões, primeiro valor positivo desde julho de 2018. As parciais de março (até terça) mostram, entretanto, movimento oposto, com saída líquida de 1,9 bilhão.
“Esses investimentos são bastante voláteis e reagem a diversos fatores internos e externos. Uma possibilidade é que após nove meses de ingressos líquidos alguns investidores tenham realizado lucros [vendido ações para ficar com os ganhos]”, afirmou Rocha.
“Não necessariamente estão ligados aos eventos ocorridos em março [agravamento da pandemia], mas o aumento da incerteza pode ter levado uma parcela a ser mais conservadora [nas aplicações]”, disse.
As viagens internacionais permanecem em baixa. Os brasileiros turistas gastaram US$ 239,9 bilhões no exterior em fevereiro, queda de 72% em relação ao mesmo mês de 2020, último antes do início das medidas de restrição para conter o vírus.
Além do medo de contágio e do dólar alto, muitos países fecharam fronteiras ou impuseram restrições para viajantes brasileiros diante da gravidade da pandemia no país, como quarentena, exame negativo para dovid-19 e controle de temperatura. Os estrangeiros desembolsaram US$ 211,5 bilhões no país, volume 55% menor que em fevereiro do ano passado.
As contas externas ficaram deficitárias em US$ 2,3 bilhões no mês. Nos 12 meses, o resultado foi negativo em US$ 6,9 bilhões. No mesmo período do ano passado, o resultado foi negativo em US$ 55,7 bilhões.
A melhora nas transações correntes no ano se deu em decorrência dos resultados positivos da balança comercial durante a pandemia, da diminuição dos déficits de serviços, especialmente de viagens internacionais, e de lucros e dividendos de empresas.
A balança comercial registrou superávit de US$ 430 milhões em fevereiro. As exportações totalizaram US$ 16,3 bilhões, aumento de 4,3% em relação ao mesmo mês do ano passado. As importações somaram US$ 15,9 bilhões, alta de 14,5% na mesma base de comparação.