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Grupos e projetos de pesquisa da UFMG se unem em defesa da cidadania e da democracia

Programa lançado ontem responde ao chamado do STF por parcerias no combate à desinformação; Luiz Fux, presidente da Corte, deixou mensagem em vídeo

Grupos e projetos de pesquisa da UFMG, nas mais diversas áreas, estão se engajando no Programa de Formação Cidadã em Defesa da Democracia, que a Universidade lançou ontem (quinta, 1º de setembro), em evento na Sala de Sessões da Reitoria.

Conduzido pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o encontro teve a participação, por meio de mensagem gravada em vídeo, do ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). A iniciativa da UFMG foi estimulada por convite do Supremo, que reúne parceiros para desenvolver o seu Programa de Combate à Desinformação. O STF trabalha para disseminar informações sobre sua finalidade, seu funcionamento e a atuação dos seus ministros.

Fux informou que o programa do Supremo já conta com mais de 40 parceiros, a maioria deles universidades estaduais e federais. O objetivo, segundo ele, é difundir informações corretas para “fazer frente à enxurrada de notícias falsas que circulam sobre a atuação do STF”.

“É preciso esclarecer a população sobre nossas atividades. Constatamos, por meio de pesquisa, que há um alto grau de desconhecimento da sociedade sobre a missão do Supremo Tribunal Federal”, afirmou o ministro. Ele acrescentou que o Programa de Combate à Desinformação realiza eventos e cursos, compartilha material informativo e tem atingido públicos essenciais, como os estudantes de ensino médio.

“As universidades são os espaços apropriados para promover educação e cidadania e mostrar como conviver com quem pensa diferente. A parceria com a UFMG é mais um passo firme em nossa estratégia de explicar, traduzir e humanizar a justiça”, disse Luiz Fux.

Sandra Goulart: “programa consolida o que sempre fizemos na Universidade” Foca Lisboa | UFMG

Acolhida
A reitora Sandra Goulart Almeida exaltou a possibilidade de trabalhar em conjunto com o STF e a adesão significativa de pesquisadores da Universidade ao programa lançado hoje. “Essa iniciativa, que vem sendo muito bem acolhida pela nossa comunidade, é mais uma que reforça nosso compromisso com o conhecimento baseado na ciência e com a democracia, que é um valor inegociável da UFMG e a primeira condição para sua existência”, afirmou. “Dela advêm a liberdade de cátedra, de manifestação de ideias e pensamentos e a autonomia universitária.”

A reitora salientou que a “liberdade qualificada” está estreitamente relacionada ao nascimento da UFMG, e a instituição “seguirá defendendo sempre a liberdade”. Ela prosseguiu: “O programa a que damos início hoje consolida o que sempre fizemos na Universidade e nos dá ainda mais força, uma vez que estamos mais juntos e unidos.”

Sandra anunciou o intuito de desenvolver o programa pelos próximos anos e planos de publicar um livro sobre as ações participantes.

Vinte projetos já estão engajados no programa, e outros vêm manifestando a intenção de participar, informou a diretora do Centro de Comunicação da UFMG (Cedecom), professora Fábia Lima, que coordena a iniciativa. Ela enfatizou que o novo programa potencializará e dará ainda mais visibilidade aos projetos desenvolvidos na UFMG e que tratam da desinformação, nas mais diversas dimensões.

“A desinformação é hoje, talvez, a maior inimiga das instituições democráticas. Todos os que estão nas universidades e nos centros de produção de ciência sentem na pele, com muita força, os efeitos da desinformação, o que tem sido ainda mais intenso ao longo da pandemia de covid-19”, afirmou Fábia Lima. “Trabalhamos como nunca para gerar conhecimento, acompanhar as políticas de atendimento à população e colaborar no enfrentamento dos trágicos efeitos econômicos e sociais. E ainda precisamos travar uma batalha inglória para enfrentar a desinformação sobre vacinas, medidas sanitárias e tratamentos.”

A diretora do Cedecom ressaltou que o tema da desinformação atravessa a política, a saúde pública, a educação, os direitos humanos e outras diversas áreas. “Formação cidadã e combate à desinformação são processos de construção permanente, que fazem parte do dia a dia de nosso trabalho nas universidades. O evento de hoje simboliza um passo vigoroso em direção à proteção e ao fortalecimento da nossa ainda jovem democracia”, completou.

Linguagem acessível
O Supremo Tribunal Federal tem empenhando esforços para unificar ações para combater publicações falsas que minam a credibilidade da Corte, distorcem decisões do colegiado e, em última instância, põem em risco os direitos fundamentais a estabilidade democrática, explicou a coordenadora de Imprensa do STF, Ana Gabriela Guerreiro, integrante do comitê gestor do Programa de Combate à Desinformação. Ela participou do evento por teleconferência.

A iniciativa, lançada em agosto de 2021, promove educação midiática – mensagens no Twitter, por exemplo, utilizam linguagem acessível à maioria da população –, distribui cartilhas produzidas pelo quadrinista Mauricio de Sousa, mantém espaço para desmentidos no site do Supremo e um chatbot em parceria com o WhatsApp.

“Temos priorizado as parcerias com as universidades públicas, que representam pontes sólidas com a sociedade e nos levam para perto dos jovens”, disse Gabriela Guerreiro. “Não estamos preocupados somente com a instituição, mas também com a própria democracia. Manter o Supremo vivo e ativo é também garantir que a democracia siga viva.”

A reunião teve a presença e diretores de unidades e coordenadores dos projetos de pesquisa. À mesa, ao lado de Sandra Goulart e Fábia Lima, estiveram o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira e o professor da Faculdade de Direito Felipe Martins Pinto, presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. 

Covid-19, infodemia, eleições…    

Um dos projetos que integram o Programa UFMG de Formação Cidadã em Defesa da Democracia foi criado no início da pandemia por professores e alunos da Faculdade de Medicina e da Escola de Enfermagem. Para combater a desinformação sobre a pandemia de covid-19, o grupo publicava diariamente nas redes sociais o Boletim Matinal, com dados epidemiológicos, notícias e artigos científicos sobre prevenção, controle, vacinas e outros temas. Atualmente, Boletim tem periodicidade semanal. “Nossas publicações são replicadas em todo o país e no exterior. O projeto contribuiu e e ainda contribui muito para combater as fake news. Muitas pessoas que não acreditavam em máscaras e vacinas eram genuinamente desinformadas e mudaram sua percepção da pandemia. A informação de qualidade dá autonomia às pessoas para tomarem decisões”, afirma o professor da Medicina Unaí Tupinambás, que coordena a iniciativa.

O MediaAção: Grupo de Pesquisas em Mídia, Semiótica e Pragmatismo, sediado no Programa de Pós-graduação em Comunicação Social, investiga características da sociedade da informação na contemporaneidade. A partir de 2020, o foco foi a infodemia no contexto da covid-19. Neste ano de eleições, o objetivo central é entender como crenças se formam no contexto da polarização política e como impactam na distribuição em larga escala da desinformação, assim como o papel dos algoritmos e outros aspectos técnico-científicos. Para a coordenadora do grupo, Geane Alzamora, é preciso assumir que a desinformação é parte constituinte da sociedade contemporânea. “Estamos interessados não apenas na informação clássica, mas também na deep fake, em que vídeos são manipulados para criar discursos falsos de pessoas com papel relevante em determinado tema”, explica a professora.

No Departamento de Ciência da Computação (DCC), o projeto Eleições sem fake atua para dar transparência aos espaços midiáticos que são palco de campanhas de desinformação. Sistemas para a web auxiliam jornalistas, agências de checagem e organizações da sociedade civil. Em 2018, mais de 150 repórteres lançaram mão do Monitor do Whatsapp para a produção de matérias e checagem de fatos. Recentemente, foi criado o Monitor do Telegram. E um terceiro sistema verifica propagandas no Facebook. Usuários enviam material irregular para o projeto de forma anônima, e é possível auditar de forma independente. “Durante a pandemia, nossos sistemas também foram especialmente úteis para desmentir vídeos, áudios e imagens falsas. Esperamos estar contribuindo também nas eleições deste ano”, afirma o professor Fabrício Benevenuto, que coordena o Eleições sem Fake. O projeto é parceiro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em seus esforços de enfrentamento à desinformação.

O programa da UFMG em defesa da democracia tem a contribuição também de grupos como o Observatório da Democracia Brasileira, sediado na Faculdade de Direito, o Observatório das Eleições e da Democracia 2022, coordenado na Fafich, e o Pensar a Educação Pensar o Brasil, da Faculdade de Educação. A ele também integrada a Diretoria de Divulgação Científica (DDC), vinculada à Pró-reitoria de Extensão. As informações estão concentradas em página do Portal UFMG dedicada à iniciativa.

(Itamar Rigueira Jr.)

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