Jovens que utilizam omedicamento recreativo podem ser vítimas de problemas de disfunção erétilpsicológica
O medo de infertilidade e, principalmente, de disfunção erétil (antigamente denominada impotência sexual) ronda a cabeça de homens das mais diferentes idades. Ambas podem decorrer de fatores orgânicos ou emocionais. A terapia para disfunção erétil com o uso de medicamentos via oral se tornou muito popular no final da década de 1990, quando o Viagra passou a ser comercializado nas farmácias do Brasil. Quase 20 anos depois desse grande avanço no tratamento, o consumo da medicação por indivíduos que não necessitam tem se tornado alvo de preocupação e um possível problema de saúde pública. Em Valadares especialistas alertam sobre o consumo exagerado do medicamento, principalmente, por jovens — o oba-oba vivido por uma parcela crescente deles que, sem qualquer problema de disfunção erétil, vêm tomando o “azulzinho” (popularmente conhecido) por pura diversão, sem saber que, nessa brincadeira, enfrentam riscos de máxima potência.
Estudo aponta alto consumo de drogas para ereção por jovem; uso pode viciar
Um estudo realizado em 2008 por farmacêuticos e profissionais da saúde da Universidade Nove de Julho, em São Paulo, entrevistou 360 universitários entre 18 e 30 anos. Dentre eles, 53 afirmaram já terem feito uso de medicamentos para disfunção erétil sem prescrição médica, ou mesmo apresentarem qualquer grau da condição. Os motivos apresentados para o uso foram por curiosidade (70%), para potencializar a ereção (12%), contra ejaculação precoce (12%) e para aumento do prazer (6%).
Por serem medicamentos que não necessitam de prescrição médica, além de terem um baixo custo, após a quebra da patente do Viagra em 2010, o acesso a eles é bem fácil. Esse é um dos fatores que contribui para o uso indevido. Outro fator, segundo o urologista Luiz Gustavo Lemos, é o consumo de álcool e drogas, como o ecstasy e metanfetaminas, resultando em aumento da libido, desinibição social, podendo induzir disfunção erétil momentânea, uma vez que provocam vasoconstrição periférica, prejudicando o desempenho sexual.
“Os altos índices de consumo dessas substâncias sintéticas em conjunto aos medicamentos para impotência podem trazer diversos riscos à saúde masculina, tendo os seguintes efeitos colaterais: cefaleias intensas, desmaios, síncopes, e, em alguns casos, ereções extremamente prolongadas, com lesão da musculatura peniana. Mesmo assim, esse medicamento se tornou comum nos dias de hoje, principalmente, entre os jovens, que começam a usar na sexta-feira, para se ter um bom desempenho nas baladas durante todo fim de semana”.
Dependência psicológica — Outra consequência do consumo irresponsável de medicamentos para desordens eréteis, segundo o urologista, é a dependência – no caso, psicológica do que química. “É comum ver pacientes que, de tanto brincar de tomar remédios, passam a relatar medo de “broxar” sem eles. Ou que não se satisfazem mais com as relações mantidas sem o auxílio artificial. A pessoa acaba tendo um tipo de dependência emocional; passa a pensar que vai precisar usar para ter ereção, porém, essa medicação não produz ereção, a medicação só potencializa, prolonga e aumenta o grau de rigidez”.
Baixo valor e distribuição gratuita
Estamos em um país que, desde 2011, é vice-líder mundial de vendas de remédios para impotência sexual. Os dados são da IQVIA, instituição focada na auditoria do mercado farmacêutico. No início desta década, uma caixa de Viagra na dosagem mais baixa custava em torno de R$ 120. Nos dias atuais, quem vai à farmácia já encontra versões genéricas por menos de R$ 5.
Em 2010, o SUS também passou a distribuir gratuitamente a Sildenafila (nome do princípio ativo do estimulante). Claro que todos esses fatores fizeram com que as pílulas se tornassem acessíveis a mais homens com disfunção erétil, sobretudo, os de menor poder aquisitivo. Em contrapartida, o que médicos de todas as especialidades têm notado é que jovens adultos e até adolescentes cheios de “bala na agulha” também respondem por uma assustadora fatia desse consumo.
O farmacêutico Wesley Fernandes de Carvalho explica que o uso exagerado desse medicamento por jovens está cada vez maior em Valadares. “Na farmácia é comum jovens entre 16 a 30 anos me procurarem para pedir opinião sobre o uso do medicamento, e sempre alerto que eles deveriam fazer o uso somente depois de passar por um médico, mas, infelizmente, muitos não me escutam e alguns já se tornaram dependentes desse medicamento, mesmo sem ter problema algum de impotência sexual. Acredito que o que tem influenciado muito no uso excessivo do medicamento é o valor, que está cada vez menor. Tem farmácias na cidade que fazem promoções do medicamento a R$ 1,99”, explica o farmacêutico.
Efeitos colaterais
A Sildenafila, princípio ativo do Viagra, promove a dilatação dos vasos e tende a facilitar a ereção por até seis horas após a ingestão da pílula. Já a Tadalafila, genérico do Cialis, pode manter o efeito vasodilatador por até 36 horas. No entanto, como qualquer outro medicamento, esse grupo também pode provocar efeitos indesejados, como dores de cabeça, palpitações, rubor facial, surdez temporária e alterações visuais. Em casos de menor frequência, o homem pode apresentar um quadro de priapismo – ereção prolongada muito dolorosa que exige cuidados de emergência para preservar as funções do órgão sexual.
Segundo o médico intensivista Sérgio Naves, é arriscado o uso do medicamento por pacientes cardiopatas. “Pacientes que usam nitratos para tratar doenças cardíacas não devem tomar remédios para disfunção erétil, uma vez que há o risco de ocorrer uma vasodilatação importante que poderia provocar parada cardíaca. No caso dos jovens, o uso é para ter uma sensação de controle melhor da atividade sexual, melhorando o desempenho. Caso os jovens não apresentem problemas cardíacos o medicamento é seguro, porém, o uso abusivo e diário pode ter algum risco”, afirma Sérgio Naves.
Os profissionais entrevistados na matéria deixam o alerta para os jovens sobre o uso abusivo domedicamento e que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) façavaler a tarja vermelha – essa que consta na caixa da Sildafenila – que emteoria, determina: venda apenas mediante apresentação da prescrição médica. Naprática, as pílulas são comercializadas livremente e podem ser adquiridas porqualquer pessoa, até mesmo por adolescentes.
Angélica Lauriano | angelica.lauriano@drd.com.br