Cerca de 100 mil trabalhadores dos Correios devem entrar em greve por tempo indeterminado a partir do dia 17 de agosto. Com a pandemia da Covid-19 aumentando a demanda por entregas, funcionários devem parar os trabalhos. A categoria protesta contra o acordo coletivo de trabalho oferecido pela estatal durante assembleia. Uma nova assembleia, no dia 16, deverá oficializar a paralisação das atividades. Funcionários alegam que tiveram 70 direitos revogados: 30% do adicional de risco, vale-alimentação e auxílio-creche.
A greve foi definida em reuniões realizadas pela Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect) e outras entidades da categoria.
Entenda a situação
Em entrevista para o DRD, o vice presidente da Associação dos Profissionais dos Correios Regional de Minas Gerais (ADCAP Minas), Marcos Cesar Alves Silva, explicou que a categoria se revoltou com a decisão da estatal de entrar com a liminar, através do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que suspende vários direitos dos trabalhadores.
“O TST emitiu um acórdão que estabeleceu a vigência do instrumento por dois anos. O que aconteceu é que depois a empresa procurou o presidente do Supremo e obteve uma liminar suspendendo essa cláusula de vigência do acórdão e outra relacionada ao plano de saúde dos trabalhadores. Passou esse tempo todo e a direção dos Correios, alegando vencimento do acordo trabalhista em vigor e aproveitando-se da pandemia, decidiu retirar todos os benefícios do trabalhadores. Isso é inaceitável para nós“, declarou.
“Eles querem acabar com os direitos dos trabalhadores alegando motivos de pandemia. Não é bem assim. Os Correios continuam operando e atendendo desde o início da pandemia, inclusive, com aumento de demanda do comércio eletrônico. A verdade é que os Correios foram um dos setores que menos sofreram com a crise da Covid-19”, disse.
O sindicato reclama também das condições de trabalho. “Os trabalhadores dos Correios são, em sua maioria, carteiros e atendentes. Na média, esses trabalhadores já recebem o menor salário dentre as estatais do governo federal (o salário inicial dos carteiros é R$ 1.757,48). Não são, portanto, marajás, mas sim trabalhadores como tantos outros brasileiros, que precisam se esforçar muito para conseguir arcar com as despesas normais de uma família. Quem tem na família alguém que trabalha nos Correios sabe bem disso”, declarou em nota a ADCAP Minas.
Perguntado sobre uma possível negociação da estatal com os trabalhadores, Marcos garantiu que nenhum dirigente sindical dos Correios teve sequer oportunidade de conversar com o presidente dos Correios sobre a situação.
“Não há, portanto, nenhum cabimento a atitude da direção dos Correios de tentar forçar uma situação para reduzir a remuneração dos trabalhadores. Se chegar no dia 18 e não mudar nada, não haverá outra saída a não ser a greve dos trabalhadores”, afirmou o vice-presidente da associação.
Até a publicação desta matéria, o DRD não conseguiu falar com a assessoria de comunicação dos Correios para se manifestar sobre o assunto.
Reação do Governo
O secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, criticou a possibilidade de greve dos funcionários dos Correios em plena crise da pandemia da Covid-19. “A empresa, nos últimos 12 anos, só não entrou em greve no ano da campanha da ex-presidente Dilma em 2010. Estatais são foco das greves que atormentam o País”, escreveu Salim em sua rede social.
Privatização
As ameaças da categoria em aderir à greve ocorre em meio à pressão do Governo para a privatização da estatal. Em junho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que os Correios devem entrar na lista de vendas do governo federal para este ano, que ainda inclui a Eletrobrás, o Porto de Santos e a Pré-Sal Petróleo.
“Eles querem privatizar a estatal por quê? A gente sabe que a motivação disso é puramente ideológica. Basta olhar a situação de Portugal, que privatizou e não melhorou em nada. Falam em quebra de monopólio, mas isso não existe”, concluiu Marcos.