Em 31 de dezembro de 1937 foi criado o município de Figueira, desmembrado de Peçanha por ato do governador Benedito Valadares. O decreto-lei nº 148, de 17 de dezembro de 1938, mudou o nome para Governador Valadares. A tradição conta que, entre as pessoas de destaque da época, apenas Gil Pacheco e o engenheiro Justino da Conceição Júnior, futuro “chefe” da UDN, não colocaram o nome no abaixo-assinado pela mudança do nome. O nome Figueira tornou-se oficial em 1923, por ato do presidente do Estado de Minas Gerais. É curioso o fato, porque em nenhum ato anterior e nem no uso corrente foi usado alguma vez o nome Santo Antônio da Figueira, mas, apesar disso, uma lei de 7 de setembro daquele ano determinou que Santo Antônio da Figueira passasse a se chamar Figueira.
Nos anos 1920 a vida urbana de Figueira girava em torno de uma única rua, conhecida como rua Direita (Prudente de Morais). Os trilhos da estrada de ferro ficavam à esquerda e o rio passava à direita, no sentido da atual Catedral, construída no outeiro (única elevação próxima ao rio). A Estação Ferroviária ficava no ponto onde estava projetado o início daquela que seria, futuramente, a principal avenida da cidade (local onde é Fórum). Próximo à Estação Ferroviária havia um enorme descampado, de onde o vento erguia paredes de poeira de vários metros. A ocupação da referida avenida iniciou-se modestamente, mas o centro urbano da futura cidade ainda era coberto de mata e a avenida era o início da picada que atravessa a Mata do Pela Macaco, em direção à cidade de Peçanha, que ficava a quatro dias de viagem. Além da rua Direita existia uma outra pequena, mais próxima do rio (Sá Carvalho), que terminava numa travessa que descia para as margens do rio (início da rua São Paulo). Esse era o fim do núcleo urbano. Nessa travessa, conhecida como “sabuco”, ficava a zona boêmia.
Em 1930 a vila de Figueira, com 2.103 habitantes, já ocupava uma posição de polo regional. Além de receber a produção de café e madeira, destinada à ferrovia, em Figueira chegavam, todos dias, tropeiros vindos de longe, carregados de toda sorte de mercadorias, tais como feijão, milho, farinha, rapadura, queijo e toucinho. De volta, levavam sal, querosene, tecido, ferramentas e utensílios diversos. O comércio foi dominado pela firma capixaba Mafra & Irmãos, até 1930, quando faliu, devido à crise do café de 1929. Figueira já tinha iniciado sua expansão para a parte que havia sido planejada, em 1915, com casas, armazéns e outros estabelecimentos na atual rua Marechal Floriano e nos inícios das ruas Peçanha e Barão do Rio Branco, além da avenida Minas Gerais. Na década de 1930 a base da economia era a mesma da região do Rio Doce: café, madeira e início da pecuária bovina. A madeira e o café sustentaram a receita da ferrovia Vitória a Minas, mas era ainda madeira exportada na forma de tora. Com a abertura da estrada de rodagem de Figueira para Teófilo Otoni, em 1934, ocorreu a expansão da pecuária. Mas ainda não tinha a expressão que viria a adquirir com as invernadas, na década de 1940, quando as reses compradas magras passaram a ser engordadas e vendidas aos frigoríficos do Rio de Janeiro.
O comércio era bem diferente do que existe hoje. Os comerciantes vendiam de tudo, de tecidos a cereais, de ferragens a armarinho, chapéus e calçados. Ofereciam tanto armas e munições como sal amargo, bicarbonato e quinino, usado contra a malária (extraído da planta cinchona, ou quina). Vendiam dentaduras e óculos, que vinham prontos e o freguês experimentava para ver o que servia. Os mesmos estabelecimentos compravam tudo o que lhes traziam os lavradores e extrativistas, de produtos agrícolas às drogas da floresta e couros de onça. Os únicos estabelecimentos especializados eram os de secos e molhados, porque os outros não recusavam nada na hora de comprar e vender.
Em 1930, a maior parte das matas ainda estava de pé. Porém, a floresta não duraria muito, pois se iniciava a era das grandes siderúrgicas devoradoras de matas, com destaque para a Belgo Mineira (atual ArcelorMittal Aços Longos), e a era das grandes serrarias estava próxima, bem como a expansão da pecuária não tardaria a substituir floresta por capim colonião. Essa expansão econômica possibilitou a inauguração da primeira agência bancária, em 1931, pertencente ao Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais. Antes, o banco operava com um representante da agência de Itabira, na pessoa do comerciante e pecuarista Gil Pacheco. Por interferência deste, decidiu-se por abrir a agência local. Outros bancos também funcionavam através de agentes que os representavam, como o Banco do Brasil, representado pela firma Mafra e, depois da falência dessa empresa, pelo comprador dela, Seleme Hilel.
Em 1934 já tramitava o processo pela emancipação de Figueira, tendo recebido adesão de várias localidades, querendo fazer parte do novo município, tais como Itanhomi, Pedra Corrida, São Sebastião do Brejaúba, Naque e Cachoeira Escura. Em 1935 foi organizado o “Partido Emancipador de Figueira”, chefiado por Gil Pacheco, Otávio Soares e o vereador Mário Rocha, destinados a comandar a luta pró-emancipação.
Prof. Dr. Haruf Salmen Espindola | Professor do Curso de Direito da Univale | Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT | Doutor em História pela USP