Ensino médio sai do marasmo e tem avanço inédito, mas só dois estados batem meta

Todas as redes estaduais de ensino médio do país registraram, de forma inédita, avanço no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2019. Apesar da reação, apenas dois estados superaram as metas no indicador e os níveis de desempenho ainda permanecem baixos.

Parte dos resultados do Ideb foi divulgada nesta terça-feira (15) pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido). O indicador, principal termômetro da educação brasileira, é calculado a cada dois anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do MEC (Ministério da Educação).

São levados em conta no Ideb o desempenho de estudantes em avaliação de matemática e língua portuguesa, chamada Saeb, e as taxas de aprovação escolar. A avaliação federal é feita ao fim de três etapas: anos iniciais (5º ano) e finais (9º ano) do ensino fundamental e ainda o ano final do ensino médio. Também houve avanços no fundamental.

O ensino médio é considerado um dos maiores desafios da educação brasileira. O governo Bolsonaro não implementou políticas de apoio para essa etapa até agora e segue, desde o início de 2019, ausente em ações da educação básica.

De cada dez alunos na etapa, oito estão em escolas ligadas às secretarias estaduais de Educação. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez uma breve fala nesta terça-feira (15) durante a apresentação oficial dos resultados. Ribeiro disse que a postura atual do MEC é de diálogo com as redes de ensino – articulação falha sob a gestão do ex-ministro Abraham Weintraub.

“Não somos donos da verdade, claro que temos uma linha, temos um propósito com relação a educação, com relação a valores, com relação a princípios, isso deve prevalecer. Estou comprometido com esses valores, mas acredito que cada um dos educadores, dos secretários, têm contribuição que pode nos ajudar”, disse ele, em evento na sede do Inep, em Brasília.

O ministro exaltou os professores, ressaltou que não é de partido político e que não representa a bancada evangélica. Ribeiro, que é pastor presbiteriano, não acompanhou a apresentação dos dados e não se dispôs a atender jornalistas.

O ensino médio foi um dos focos do MEC sob o governo Michel Temer (MDB), quando houve atenção à ampliação ao ensino integral e reforma da estrutura da etapa e finalização da Base Nacional Comum Curricular (ambas as políticas ainda em implementação).

“Vejo os dados como resultado da politica de educação em tempo integral, extremamente exitosa, também mostra que foco e investimento na área de educação dão retorno”, disse o ex-ministro da Educação Mendonça Filho.

“Criou-se uma competição virtuosa entre estados, o que tem de ser uma política de Estado e contínua”. Em 2019, o governo Bolsonaro esvaziou políticas de educação básica. Até o meio daquele ano, o MEC não havia executado nenhum centavo nos programas de apoio ao ensino médio, como o jornal Folha de S.Paulo revelou na ocasião.

Criado em 2007, o Ideb estipulou metas por escolas, redes de ensino e para todo o país. A edição realizada em 2019 foi a primeira em que todas as redes estaduais conseguiram avançar no indicador.

Na média dessas redes, o Ideb do país passou de 3,5 em 2017 para 3,9 no ano passado. Foi o maior avanço desde que o indicador foi criado – depois de praticamente ficar estagnado desde 2009, quando o índice era de 3,4.

Goiás teve, a exemplo de 2017, a maior nota em 2019: de 4,7. O estado integra com Pernambuco as únicas duas redes que atingiram as metas do indicador para o ano passado. O Espírito Santo aparece em segundo lugar, com Ideb 4,6 e tem a maior média do Saeb em matemática (289,14) e em língua portuguesa (286,95). O que revela, por sua vez, como os indicadores ainda permanecem em patamares baixos – consideradas ideais notas de 350 e 300, respectivamente.

Mesmo os estudantes do 3º do ensino médio do Espírito Santo não alcançam, na média, competência para determinar, em matemática, a probabilidade da ocorrência de um evento simples. Em português, não são capazes de reconhecer ironia e efeito de humor em crônicas e entrevistas.​

O estado com o maior salto desde a última edição foi o Paraná, que cresceu 0,7 ponto e alcançou um Ideb 4,4 no ensino médio. O atual secretário de Educação do estado, Renato Feder, chegou a ser convidado a assumir o MEC, mas Bolsonaro acabou desistindo da indicação.

A alta paranaense deixou São Paulo para trás no indicador. Líder no ensino médio do país até 2015, o estado mais rico do país agora aparece em 5º, com Ideb 4,3. O menor Ideb do país, de 3,2, foi registrado pelo Pará -que ainda assim subiu 0,4 ponto, o maior salto já registrado.

São também do Pará as menores notas no Saeb. Em matemática, com 246,08 pontos, os estudantes não conseguem reconhecer os zeros de uma função dada graficamente. Também não têm competência, na média, para reconhecer opiniões divergentes sobre o mesmo tema em diferentes textos.

FOLHAPRESS

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