Queridos irmãos e irmãs, com a vinda de Jesus em nossa realidade humana, cumpriu-se plenamente a profecia de Isaías: “Naqueles dias, ou tempo, ouvirão os surdos… os olhos dos cegos verão” (Is 29, 18), não só no sentido material, como também espiritual: o Senhor dispôs o coração dos homens para ouvirem a palavra de Deus e abriu-lhes os olhos para conhecerem seus caminhos, seus sonhos de vida plena e sua vontade. Embora o sonho de Deus esteja sempre a se realizar, pois até hoje o mundo, os seres humanos necessitam dessas graças.
Se buscarmos no evangelho, vamos perceber que a vida de Jesus, o seu projeto, foi um fazer constante à vontade Pai, porém, um fazer constante para o outro, humanizando o que estava desumanizado, dando vigor e sentido ao seu projeto e ao plano de Salvação. Olhemos para o texto bíblico dos dois cegos de Jericó: “Tende piedade de nós, Filho de Davi” (Mt 9, 27). É sempre atual, especialmente durante os tempos litúrgicos, tempos em que em cada liturgia é de renovado anseio pela salvação, pela santidade humanizadora de Jesus. É também sempre necessário que Jesus venha libertar os homens “da obscuridade e das trevas” que os impedem de conhecer e praticar perfeitamente a vontade divina.
Queridos amigos e irmãos, a vontade de Deus não se manifesta somente através de mandamento precisos, mas também de outras maneiras diversas e em circunstâncias da nossa vida e nas vidas das pessoas que muitas vezes não valorizamos ao longo da caminhada, que criam, para cada pessoa, obrigações imprescindíveis, no seu estado de vida. É preciso percorrer o caminho, tomando consciência de que estão em primeiro lugar os deveres do próprio estado de vida, que é pronto determinante para cada pessoa o seu processo cotidiano, colocando diante desse processo a vontade de Deus. Para um religioso, para um sacerdote, para um leigo são indicadas as funções que lhe são atribuídas, em cada circunstância e realidade em que se encontra. Seguem-se os deveres inerentes às outras situações dispostas ou permitidas no próprio chamado por Deus, por um discernimento, diante das realidades adversas da vida: saúde ou doença, riqueza ou pobreza, aridez ou um conforto espiritual, contradições ou sucesso, infelicidade ou consolações. Todo esse caminho e processo deve ser vivido e discernido olhando para a ternura amorosa de Deus, que “em todas as coisas coopera para o bem dos que o amam” (Rm 8, 28). Olhando para essas circunstâncias, vamos perceber que Deus no apresenta particulares deveres e compromissos, para aprendermos com paciência, caridade ou, então, desapego, sacrifício e generosidade. Seguindo esse caminho, que é um dever, temos a segurança de andar ou estar na vontade de Deus, de crescer no seu amor.
Assim sendo, podemos pensar e trazer no nosso coração o que o papa Bento XV, em 1920, nos diz: “Consiste propriamente a santidade só na conformidade à vontade divina, expressa no contínuo e exato cumprimento dos deveres do próprio estado de vida de cada um”. De modo algum consiste a santidade em obras extraordinárias: encontra-se essencialmente na linha da responsabilidade e do dever! Está, portanto, ao alcance de todo ser humano de boa vontade, ultrapassando o individualismo. Requer de cada um o cumprimento do dever, generoso e constante: sem negligência, solícito em fazer a vontade de Deus em cada ação, pronto a abraçar com amor cada expressão de sua vontade. Constante: em todas as circunstâncias e situações, ainda nas menos felizes e desagradáveis, nos momentos obscuros de tristezas, cansaço, aridez e, assim, cada dia ao longo da caminhada da vida, a “virtude fora do comum se exige para cumprir com atenção, piedade, íntimo fervor de espírito, todo o conjunto de coisas comuns que enchem nossa vida cotidiana” (Pio XI).
Fazendo esse caminho, tanto mais fácil será esse exercício quanto mais souber cada ser humano olhar, à luz da fé, todas as particularidades e realidades de sua vida, habituando-se a nelas reconhecer indicações da vontade de Deus e da sua presença humanizadora. Quem deverá amar o Senhor apenas percebe ser de sua vontade qualquer coisa, cumpre-a sem hesitar, embora possa custar-lhe muito: cansaço, dor e sofrimento. Certas resistências nossas dependem menos de nossa má vontade, ou indisponibilidade, do que de não percebermos, de não reconhecermos a vontade de Deus. Em momentos importantes e decisivos, é o espírito de fé que deve nos iluminar. “Para que, como boa semente, cresça a caridade e frutifique, deve, todo fiel, ouvir de bom grado a palavra de Deus (mesmo tácito, incluída nas circunstâncias da vida) e, com o auxílio da graça de Deus, pôr em prática a vontade de Deus”. (LV 42)
Um fraterno abraço.
por Gilberto Faustino Braz | Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima.
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