Donos de restaurantes relatam incertezas sobre o futuro com a onda roxa

Redução de mão de obra, queda nas receitas e prejuízos foram algumas das consequências para quem trabalha no ramo

A vigência da onda roxa, a fase mais restritiva do Plano Minas Consciente, do governo do estado, inicialmente iria até 31 de março, mas foi prorrogada até o dia 4 de abril, data em que se encerra o feriado da Semana Santa. Um dos setores impactados com as restrições é o de restaurantes. De acordo com alguns proprietários desses estabelecimentos em Valadares, as modalidades delivery e entrega no balcão não suprem as necessidades no momento e o prejuízo é certo.

Durante este um ano de pandemia, os restaurantes e lanchonetes vivenciaram muitas restrições. Em certo momento, trabalhavam só com delivery e retirada no balcão, mas depois voltaram a funcionar, recebendo clientes presencialmente. Como a proliferação da covid-19 aumentou, o Governo de Minas decretou a onda roxa em todo o estado, e Valadares voltou a aderir ao Plano Minas Consciente, no dia 17 de março. Com isso, os restaurantes e bares tiveram que voltar com o trabalho específico de retirada no balcão ou delivery.

Roni Silva Pereira atua há 15 anos no ramo de restaurantes e hoje é proprietário de um estabelecimento localizado na avenida José Ivair Ferreira Mattos, no bairro Lagoa Santa. Ele relata que, devido à pandemia, teve que diminuir o tamanho do restaurante pela metade e acredita que a onda roxa seja ineficaz. “Estamos com os olhos vendados, sem rumo algum. A onda roxa em nossa região não terá eficácia alguma, devido a grande parte dos serviços ser considerada essencial. O impacto está sendo violento nos pequenos grupos não essenciais. O delivery representa apenas 20% do faturamento. Com isso, não supre as despesas fixas. Devido à pandemia, reduzi o restaurante pela metade. Antes tinha 50 mesas, e hoje, só 22 mesas. A maior dificuldade é manter os custos fixos, como aluguel, folha de pagamento, tributos, água, luz, dentre outros, além de ter de reduzir a mão de obra”, disse.

Welliton Pereira de Almeida é proprietário de um restaurante na rua Marechal Floriano, região central de Valadares. Ele também ressalta que a entrega no balcão e o delivery não são a mesma coisa de ter o restaurante aberto. De acordo com ele, o estabelecimento atendia muitas pessoas que vinham de fora da cidade, mas, com a restrição, as coisas ficaram mais difíceis. “Essa onda roxa é muito difícil pra gente que é comerciante. No meu caso, que tenho um restaurante, não é diferente. Atendo muita gente de cidades vizinhas e esse pessoal não está vindo mais à cidade. Não tenho o delivery com motoqueiro próprio, só Ifood, mas a venda é baixa. Fica muito difícil trabalhar. O que estou fazendo é entregar marmitex na porta, quando as pessoas ligam e vêm pegar.”

Welliton lamenta não poder receber os clientes em seu restaurante, situação que tem deixado um prejuízo pela redução de receitas (Foto: Arquivo Pessoal Wellinton Pereira de Almeida)

Essa situação impacta financeiramente e Wellinton considera o momento muito complicado, pois as despesas continuam as mesmas, enquanto as receitas diminuíram. “Não dá pra arcar com todas as despesas, pagamentos, e a empresa fica com um déficit. Não tem como suprir tudo, já que a receita não tem entrado. A gente tem que apelar para o dinheiro extra, tirar de algum lugar. Enfrentamos muitos problemas quando não se tem clientes para almoçar no restaurante e ficamos sem receita. Enquanto isso, as contas vêm chegando, como IPTU, taxa de lixo, IPVA, dentre outros. Não tendo receita, como que faz? Se não tiver de onde tirar uma segunda fonte, você acaba fechando as portas e não abre mais.”

Para Welliton, o comércio não pode pagar a conta pela alta dos números da covid-19. Ele ressalta que em seu restaurante os cuidados e protocolos de saúde sempre foram cumpridos. “Tem um ano de pandemia e entendo que o comércio não é o vilão. O principal causador disso tudo são as festas clandestinas. Aqui no meu restaurante as pessoas entravam de máscara, usavam álcool em gel, e quando o cliente saía, nós higienizávamos mesas e cadeiras para poder receber outros que entravam. Tive que demitir funcionários, pois não aguentei ficar. Vamos ver até quando vai ser a onda roxa, para saber se dá para contratar novamente.”

Leide Ramalho é proprietária de uma pizzaria na rua Marechal Deodoro, também na região central de Valadares. Ela explica que teve que diminuir o número de colaboradores e não sabe como fará se a onda roxa for estendida. “De 40 colaboradores, reduzi para 23. Agora, com esse segundo lockdown, não sei como vou fazer. Meu estabelecimento é projetado para o presencial, por isso a equipe é grande. Precisamos de reportagem que mostre que nós seguimos os protocolos muito mais do que nos supermercados e ônibus. O decreto é injusto para as pequenas empresas.”

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