Dinamarca prorroga suspensão de vacina de Oxford; 18 países retomaram imunização

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – Em caminho diverso do da maioria dos países europeus, a Dinamarca prolongou por mais três semanas a suspensão do uso da vacina contra covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca.


O imunizante chegou a ser suspenso total ou parcialmente em 21 países no começo do mês, após o alerta de que poderia causar acidentes vasculares graves em casos raros. Uma comissão especial formada pela agência regulatória europeia (EMA) estudou os eventos e concluiu que não havia sido possível estabelecer uma relação de causa e efeito.


Dos 21 países, 18 –entre eles Alemanha, França, Itália e Espanha– voltaram a aplicar a vacina após a recomendação da EMA, que afirmou que os benefícios de usar a vacina superam os riscos de que seja ela a causadora dos acidentes vasculares.


Isso porque os médicos já estabeleceram que a própria Covid-19 causa acidentes vasculares, além de outras reações graves e até a morte, e a vacinação é capaz de evitar dezenas de milhares de mortes, enquanto o efeito colateral, se comprovado, aconteceria em grau muito menor (menos de dez casos a cada 1 milhão de vacinados).


No anúncio feito nesta quinta (25), a autoridade de saúde dinamarquesa afirmou que está fazendo estudos independentes. “Estamos confiantes de que seremos capazes de descobrir a extensão e a possível correlação entre os efeitos colaterais e a vacina e, combinados com análises e conclusões da EMA, teremos um sólido base sobre nossa decisão final sobre o uso da vacina da AstraZeneca “, disse o diretor-geral do órgão, Soren Brostrom.


Além da Dinamarca, seus vizinhos Noruega e Suécia ainda não haviam retomado o uso do produto até esta quinta.
Antes da decisão da EMA, o chefe do serviço de hematologia do Hospital Universitário de Oslo, Pal Andre Holme, afirmou ter evidências de que, em três pacientes, a vacina provocou uma resposta imunológica exagerada que afetou as plaquetas, causando coágulos.


No Brasil, onde a vacina da AstraZeneca é o principal imunizante do governo federal, os eventos adversos considerados graves registrados no primeiro mês de campanha de vacinação representam 0,007% das doses aplicadas no período, segundo relatório divulgado pelo Ministério da Saúde. Até agora não há confirmação de que eles tenham relação com os imunizantes.


A grande maioria é de efeitos sem gravidade, como dor de cabeça, dor em geral e dor muscular (mialgia), além de febre, náusea e diarreia. Segundo o presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, por se tratar de vacinas em uso há pouco tempo, é preciso investigar os casos de maneira cuidadosa, mas nunca houve associação de eventos tromboembólicos com vacinas.


A autoridade de saúde da Dinamarca afirmou que a suspensão mais prolongada do uso da vacina da AstraZeneca vai atrasar sua campanha de imunização, até então uma das mais bem-sucedidas no bloco europeu. “No entanto, as vacinas já estão na geladeira. Se decidirmos recomeçar, podemos distribuir e usar as vacinas rapidamente “, afirmou Brostrom.


As dificuldades de vacinação preocupam a Comissão Europeia num momento em que a Europa vê crescer uma terceira onda da pandemia de Covid-19. Dos 27 países do bloco, 19 apresentam aumento no número de novos casos, 15 recebem cada vez mais pessoas em seus hospitais e 8 registram crescimento no número de mortos.


Variantes mais contagiosas e mais letais, como a B.117, que já está em 25 dos 27 membros do bloco, são uma das principais causas da nova onda, além da perda de impacto de medidas de restrição de circulação. Nos últimos dias, países como França, Itália, Bélgica e Alemanha anunciaram mais restrições.


ENTENDA A AVALIAÇÃO


Por que o regulador europeu (EMA) fez novas investigações sobre a vacina de Oxford/AstraZeneca?


Porque países relataram a ocorrência de coágulos sanguíneos em pessoas nos quais o imunizante foi aplicado.


Quais foram os problemas relatados?


Os mais preocupantes foram coágulos sanguíneos associados a níveis baixos de plaquetas sanguíneas (elementos no sangue que ajudam a coagular), com ou sem sangramento, e casos raros de coágulos nos vasos que drenam o sangue do cérebro.


Com que frequência aconteceram esses problemas?


Em cerca de 20 milhões de pessoas vacinadas na Europa até 16 de março, foram notificados 7 casos de coágulos em vários vasos sanguíneos (coagulação intravascular disseminada, DIC) e 18 casos de coágulos nos vasos do cérebro (CVST). Os casos notificados foram quase todos em mulheres com menos de 55 anos.


Quais as conclusões da análise?


O comitê de segurança concluiu que:


os benefícios da vacina no combate à covid-19 (que por si só resulta em problemas de coagulação e pode ser fatal) superam o risco de efeitos colaterais;


o imunizante não está associado a um aumento do risco geral de coágulos sanguíneos (eventos tromboembólicos) nas pessoas vacinadas;


não há evidência de um problema relacionado a lotes específicos da vacina ou a locais de fabricação específicos;
não foi possível comprovar que a vacina tenha provocado os casos de DIC e CVST, mas essa hipótese também não foi descartada e merece uma análise mais aprofundada.


Como as conclusões afetam a vacinação?


A EMA recomenda que a vacinação prossiga normalmente, já que os riscos são raros e os benefícios são comprovados. Mas fará alertas de cuidado para pacientes e equipes de saúde.


Que alertas foram feitos aos pacientes?


Devem procurar assistência médica imediata e mencionar sua imunização recente se tiverem qualquer um destes sintomas após receber a vacina:


falta de ar;
dor no peito ou estômago;
inchaço ou frio em um braço ou perna;
dor de cabeça grave ou piorando ou visão turva após a vacinação;
sangramento persistente;
vários pequenos hematomas, manchas avermelhadas ou arroxeadas ou bolhas de sangue sob a pele.

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