Por: Agnaldo Souza e Massillon Neves
Comemorado desde 1927, em homenagem aos cem anos de fundação dos dois primeiros cursos de ciências jurídicas do país, o Dia do Estudante tem um significado mais amplo neste ano. Por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus (covid-19), estudantes do Brasil e do mundo precisaram se adaptar às plataformas digitais para continuar com o aprendizado.
As aulas, que antes eram presenciais, agora acontecem totalmente on-line, por meio de chamadas de vídeo e lives. Mas não foi só isso. Para conseguir manter o ritmo de aprendizagem, as provas passaram a ser aplicadas por meio de documentos virtuais, bem como trabalhos enviados por e-mail e apresentações por videoconferência, o que, no começo, foi um desafio para os estudantes que tentaram acompanhar essas transformações.
Webert Arão, de 22 anos, é aluno do curso de Farmácia na Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV), e contou que essa adaptação não foi fácil. “Foi um momento muito difícil. No começo eu tive a sensação de medo, muitas dúvidas de como as coisas seriam e, com isso, também vieram as frustrações de vários projetos planejados para este ano. Tudo foi novo para nós, e adaptar-me a esse ‘novo normal’ foi um desafio, mas deu certo. É claro que sempre respeitando o isolamento social e as medidas de profilaxia contra a covid-19”, contou.
Bárbara Brandão, aluna do curso de Jornalismo na Universidade Vale do Rio Doce (Univale), contou que mudanças não são fáceis e que até o corpo docente enfrentou dificuldades para se adaptar.
“Adaptar a algo novo nunca é fácil. Tratando-se de uma nova forma de ensino, pior ainda. Eu nunca tive nenhuma experiência de ensino on-line. Então, no início era difícil me concentrar nas aulas. Além da correria que foi pra meio que criar uma nova forma de relacionamento entre aluno e professor, era como se os professores estivessem testando diversas formas de fazer acontecer até encontrar a que fosse melhor pra maioria”, contou.
Segundo a pedagoga do Núcleo de Educação a Distânica da Univale, Wildma Mesquita, esta pandemia impactou muito a educação, e a aprendizagem dos alunos também foi afetada.
“A pandemia impactou todas as relações e processos. O que não foi diferente com a aprendizagem dos alunos. O impacto depende muito do nível. Por exemplo, os alunos da educação básica (fundamental I), requerem mais atenção e apoio da família para a compreensão dos novos processos. Os alunos do fundamental II e do ensino médio são um pouco mais autônomos e compreendem melhor a situação que estamos atravessando. Já os adultos, no ensino superior e pós-graduação, têm uma percepção clara do atual momento. Mas, de qualquer forma, foi necessária uma adaptação ao ensino remoto emergencial, e foi o melhor que aconteceu, para a educação não parar”, declarou.
Até o temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sofreu mudanças com esta pandemia, como conta a formanda do curso de pedagogia do Pitágoras Larissa Murer. “A apresentação do meu TCC foi super desafiadora. Ela foi ao vivo e on-line, através de um link que a instituição nos enviou, com horário agendado. Tive apenas dez minutos para apresentar todo o meu trabalho, o que foi um desafio, já que sou uma pessoa que adora falar. Mas, tirando o nervosismo, a banca foi muito compreensiva com a situação, e graças a Deus fui aprovada com a média altíssima”, contou.
Com o isolamento social, as aulas presenciais deixaram de ser uma opção e, além de escolas e universidades terem fechado as portas, repúblicas também acabaram ficando de lado, já que grande parte dos alunos tiveram de retornar para suas cidades.
Sônia Mara Ferraz, de 54 anos, proprietária de uma república no centro de Valadares há 15 anos, contou que acabou sendo prejudicada pela pandemia e que precisou fazer um acordo para conseguir manter os alugueis. “Essa quarentena nos prejudicou bastante. Atualmente, são 17 alunos alugando quartos na república, mas eu tive que reduzir os aluguéis em 45% para manter-los. Ainda assim, quatro alunos saíram”, contou.
“Sem dúvidas, neste ano essa data tem um gostinho diferente. Ser estudante é ser um agente da transformação social, é querer quebrar os paradigmas das estruturas sociais e, em meio a uma pandemia, a ciência, o pensamento crítico, reflexivo e científico foram fortemente questionados, muitas vezes deixados de lado pelo achismo e pela opinião pública. Neste ano, o significado do Dia do Estudante pra mim é de fortalecer a ciência e as universidades”, considerou o estudante Webert Arão.