Depois de 20 dias preso injustamente, Maxsuel comemora liberdade em Santana do Paraíso

A delegada que estava no caso pediu a soltura dele, ao indicar que Maxsuel não era o autor dos dois roubos dos quais era acusado. Com essa situação, o Ministério Público acabou se manifestando a favor e a decisão foi protocolada pelo juiz

Alívio pela liberdade, alegria pela mobilização de familiares e amigos nas redes sociais, além de ressaltar que a luta contra o racismo continuará. Esse é o resumo de sentimentos de Maxsuel Vieira Ribeiro, 35 anos, morador de Santana do Paraíso que ficou preso por 19 dias, após ser acusado de dois roubos no Vale do Aço. Ele foi liberado ontem (3) e teve uma recepção calorosa no bairro Parque Caravelas, em Santana do Paraíso, município do Vale do Aço que fica a 101 quilômetros de Governador Valadares.

Em entrevista ao DRD, Maxsuel falou sobre o misto de sentimentos nesse período entre a prisão e a liberdade, principalmente a angústia por ser acusado de algo que ele garante que não cometeu. “Ter sido preso injustamente é um sentimento de tristeza, angústia e dor. Perguntava a Deus o tempo todo por que eu, por que comigo, porque eu não fiz, por que a verdade não aparece? Estar livre é muito bom, reencontrar as pessoas que a gente mais ama, família, amigos e ver que tem tanta gente que gosta de mim. Pessoas do meu bairro e de outras cidades que mandaram mensagem e acreditaram em mim, mesmo sem eu dizer uma palavra sobre ser ou não inocente.”

Privado da liberdade e temendo pelo futuro, Maxsuel revelou que passaram muitas coisas pela sua cabeça enquanto esteve preso, e chegou ao limite de suas emoções. “Passei muito medo. O ser humano vai ao limite das emoções, do que pode raciocinar, de estar preso, privado da liberdade e sendo injustiçado. É bem confuso. A gente pensa em morrer, pensa que as pessoas tinham abandonado a gente, pensa que não tinha ninguém aqui fora ajudando. Uma palavra que define a cadeia é inferno.”

O sentimento de medo também foi compartilhado pela mãe de Maxsuel, Ana Inês Vieira Ribeiro, que veio de Caraí, município do Vale do Jequitinhonha, para o Vale do Aço a fim de dar apoio ao filho. “Só Deus sabe como fica o coração de uma mãe em uma situação como essa. Foram dias de angústia e de muita preocupação, sem saber como meu filho estava naquele lugar. Mas graças a Deus, e com a ajuda da família e dos amigos, conseguimos a liberdade dele. Esperamos que a justiça seja feita. A liberdade foi concedida, mas a luta continua.”

Essa luta de que Ana fala é sobre o combate ao racismo estrutural, conforme explica o irmão mais velho de Maxsuel, Vitor Ribeiro, que veio junto com a mãe para o Vale do Aço. “Sou irmão mais velho do Max, ele é meu irmão mais novo, somos três irmãos. Esses 19 dias que ele permaneceu preso foram de muita angústia, mas ao mesmo tempo também de muita luta. Graças a Deus a liberdade foi concedida e a luta continua. Tivemos aí mais um caso de racismo estrutural, e é muito importante o compartilhamento das informações. Somos uma família unida, de fé, e com ajuda de todos conseguimos a liberdade dele. É um alívio para todos nós, e é isso que prevalece. Só conseguimos a liberdade dele por causa dos compartilhamentos. Toda a sociedade precisa lutar para que esse racismo estrutural possa acabar e as pessoas tenham mais conhecimento do que isso pode causar. A gente agradece a todos que compartilharam e abraçaram nossa luta. Deus abençoe a todos mais uma vez.”

Maxsuel também destaca que, para ele, a acusação que enfrentou é fruto do racismo estrutural, situação com que ele convive constantemente. “Eu me conhecendo, sabendo como as pessoas que me conhecem e convivem comigo, depois de ter saído da prisão e sabendo quem foi a pessoa que me acusou e o que ela alegava e não quis retirar a queixa, eu realmente não entendi. Não sei o que se passou na cabeça dessa pessoa e também na cabeça dos policiais, que me tratavam como criminoso o tempo todo. Em relação ao racismo, ele é real. Não é a primeira situação que eu vejo ser parado por um policial ou ser tratado diferente por outras pessoas por ser negro; não é a primeira vez que me acontece. Venho passando por situações parecidas, mas dessa vez extrapolou. Me prenderam por um crime que não cometi, me acusaram de uma forma que eu não entendi o que estava acontecendo. É aquela coisa: entre o branco ou o negro, o negro é o culpado. É complicado, mas a gente aprende a lidar. Dói, passamos por tantas vezes que a gente deixa para lá, mas não deveria ser assim.”

Maxsuel revelou que, por ser negro, passa por muitas situações desconfortáveis de racismo (Foto: Divulgação)

A movimentação dos amigos, da família, das pessoas que o conheceram e até aquelas que não o conheciam, mas se engajaram na luta por sua liberdade, deixou Maxsuel muito feliz. “Fiquei fascinado, foi uma das melhores coisas que eu vi quando saí da prisão. De como as pessoas acreditam, me conhecem e sabem do meu caráter, até mais do que eu. Eu não tenho palavras para descrever pelo tanto de pessoas que gostam de mim, tantas pessoas que me amam e realmente acreditavam em mim. É reconfortante sair de um lugar que é uma escuridão e ir chegar a um lugar que parece estar chegando ao céu. É prazeroso receber o carinho e reconhecimento das pessoas por aquilo que você fez a vida toda. É coisa de Deus.”

Sobre o futuro, se vai buscar na justiça algum tipo de reparação, Maxsuel indica que ainda tem conversado com muitas pessoas para saber o que fazer. “Eu ainda estou sendo orientado quanto a isso. Nunca precisei de um advogado, nem sabia como contratar esse tipo de serviço. A minha advogada e outras pessoas estão me orientando quanto aos meus direitos e outras coisas. Eu ainda não tenho uma resposta sobre se vou ou não entrar na justiça, de pedir uma reparação, mas provavelmente sim. Perdi tudo: tempo, trabalho e emocional. Acredito que uma reparação não vai mudar as coisas, mas futuramente vou estar mais orientado sobre isso e o que fazer, qual o passo a ser dado.”

O caso

Depois de ser identificado como autor de dois roubos por duas mulheres, Maxsuel foi preso no dia 15 de julho deste ano. Um dos roubos aconteceu no bairro em que ele mora, no Parque Caravelas, em Santana do Paraíso, no dia 15 de julho. O outro foi no bairro Veneza, em Ipatinga, no dia 6 de julho. Ele foi preso após militares o abordarem em uma moto, por apresentar características semelhantes às relatadas pelas vítimas e identificadas nas imagens. Uma busca chegou a ser feita na casa de Maxsuel, e nada foi encontrado.

Segundo amigos e familiares, Maxsuel estaria trabalhando no momento dos crimes e ele não estava com os materiais roubados. Ainda disseram que no boletim de ocorrência constava que a pessoa que praticou o roubo teria 1,80 de altura, mas Maxsuel tem 1,60. Depois disso, eles se movimentaram para recolher provas e protestar sobre a prisão, considerada injusta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM