A caixa de som potente, que vibra no ritmo da batida de algo que lembra o estilo musical latino reggaeton, é um convite para os ouvidos atentos e curiosos de quem percebe a movimentação diferente na praça Getúlio Vargas, no bairro de Lourdes. Era início de tarde da primeira sexta-feira de outubro, e ao lado de uma das quadras esportivas um grupo de idosas chamava a atenção, pela empolgação e animação, naquilo que parece ser uma aula de zumba.
Os olhares atentos seguem fixos os movimentos e passos do instrutor de dança. A ginga para mexer o corpo na sintonia da música parece ser algo simples, como se não houvesse esforço. Em poucos minutos, a praça se torna uma espécie de academia ao ar livre, e mais gente começa a se aproximar do grupo de idosas.
Alguns ensaiam o que parece ser uma ação instintiva do corpo de balançar a cabeça e os braços no ritmo da música. Os mais tímidos não se arriscam muito, e seguem apenas na batida do pé. Sentados debaixo de uma árvore, que os protege do mormaço daquele dia nublado, assistem à aula de zumba.
“Dá licença, idosos chegando na praça!”
Na tarde desta sexta-feira (7) aconteceu o “Dá licença, idosos chegando na praça!”, no bairro de Lourdes, em Governador Valadares. O evento foi organizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social e faz parte das comemorações do dia internacional do idoso. A programação contou com aulas de dança, palestra de prevenção de acidentes, consultoria jurídica e promoção da qualidade de vida na terceira idade.
Segundo a coordenadoria de Apoio ao Idoso, o formato desse tipo de ação já acontecia nas unidades CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) nos bairros de Governador Valadares, porém desta vez a ideia foi ampliar as atividades e reunir os idosos em um mesmo local, com uma programação durante toda a tarde, buscando estimular o contato social e informar sobre o serviços disponíveis no município para quem é da terceira idade.
“Nós planejamos esse evento com a intenção de tirar o idoso de casa, para ele sair da zona de conforto, conviver socialmente, conhecer e participar dos programas sociais que existem no município aqui para eles”, explicou a coordenadora do evento, Dirce Pereira Albino.
A artista plástica Geralda Luiza Pereira de Sá, mais conhecida como Digêra, levou para uma praça a exposição de quadros. Pinturas que misturam em meio a tinta e tela lembranças e superação, com inspiração na família.
“Eu estou saindo de várias situações de família pós-covid, uma situação difícil, em que eu fiquei um pouco emocionada. [O convite para a exposição] me trouxe uma alegria de poder retornar, porque eu fiquei quase três anos parada, sem fazer nenhuma exposição, sem pintar praticamente. Mas agora eu estou de volta, e com muita alegria eu vim fazer essa exposição, porque eu pretendo, daqui pra frente, tocar o meu trabalho e atender os convites que tenho recebido para fazer exposição”, disse, emocionada, a artista plástica Digêra.
Representantes do Corpo de Bombeiros, OAB, INSS, da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e alunos de oito cursos da área da saúde da Universidade Vale do Rio Doce participaram do evento, dando orientações sobre qualidade de vida na terceira idade.
“Sem dúvida, a gente vê muitas mudanças. Cada vez mais o aumento da expectativa de vida tem acompanhado os desafios que o envelhecimento traz, desafios esses que vêm mudando com o passar do tempo, o que inclui até mesmo a divulgação do direito das pessoas idosas, tanto na questão da saúde quanto na questão social”, explicou Geane Alves Dutra, coordenadora do Centro de Atendimento Interdisciplinar ao Idoso da Universidade Vale do Rio Doce.
A dona Eva, de 73 anos, é participante de carteirinha do Centro de Atendimento Interdisciplinar ao Idoso e hoje veio passar a tarde na praça. Visitou todas as tendas montadas no local; tomou chá, conheceu receitas novas, ganhou uma massagem nas costas e também aproveitou para colocar a conversa em dia. Morando sozinha, poder conversar e estar com outras pessoas tem sido parte da rotina da idosa.
“Eu faço fisioterapia, faço nutrição, vou na fonoaudióloga, na hidroginástica, e fazer tudo isso faz a diferença para mim. Eu moro sozinha, sou eu e Deus e uma cachorrinha. Então lá é o meu segundo lar. Eu fico lá, é praticamente a minha segunda família. Terça-feira tem fisioterapia, na quarta-feira tem hidroginástica, agora vai começar a ter um coral também para a gente cantar”, disse Eva Silveira Leite.