O Rio? É Doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
Acima, os versos de Drummond revelam os ais, como ele bem o disse, dos mortos e dos sobreviventes de Brumadinho, diante da tragédia ocorrida neste fim de semana, em que todos foram surpreendidos pela catástrofe de lama que cobriu corpos, esvaziou almas, entristeceu as Gerais. E tudo isso por quê? Em nome da ambição desenfreada dos que visam o capital do minério, mas se esquecem do ser humano que sustenta tudo isso.
Há três anos Mariana chorou e todos os que vivem às margens do rio Doce também, ao ver as águas sangrando, os peixes em agonia de morte, uma cidade inteira despojada, centenas de famílias desalojadas, somando-se a isso a subvivência de seus dias. Vimos a indiferença das autoridades, que não deram o apoio devido aos acidentados. Vimos a falta de responsabilidade da presidência da época, que só apareceu uma semana depois, e logo sumiu sem dar amparo legal ou humanístico à população arrasada, necessitando de palavras de apoio de seus líderes Dilma e Pimentel.
E quem disse que fizeram justiça? Não ergueram casas; pagaram uma quantia ínfima às famílias, que, pobres coitados, não souberam e não sabem como recorrer para ter os direitos preservados. A água imprestável não serve para saciar a sede dessas paragens e a população das cidades, como Valadares, paga para ter água em suas casas em condições razoáveis e caras. E agora, novamente, outro desastre. Sim, porque o primeiro foi tratado com frieza pelas autoridades. Os criminosos continuam à solta e a lei não tem sido suficiente para se fazer justiça. Basta ver a situação de alguns pescadores que não mais vivem do seu trabalho, bem como a dos pequenos agricultores, hoje impotentes. As autoridades maiores, indiferentes, deram seu desprezo ao rio Doce, que continua não mais correndo, mas deslizando, cansado, e como pode cumpre o seu papel em meio ainda a destroços ruídos pelo tempo.
Agora em Brumadinho, embora a desgraça tenha sido grande, o povo sentiu a assistência governamental: governador e presidente acudiram, e tem sido grande a ajuda recebida. Mas, e a Vale? Continuará indiferente aos destinos dos seres que circundam suas barragens. A lei protegerá agora as vítimas? Esperamos que sim. Ao verificar a chegada do pessoal de Israel, pode-se perceber a diferença entre o governo que se foi, desgraçadamente inoperante, e o novo que não tem dormido, preocupado com a situação.
Quem assistiu pela TV os estragos pode perceber a extensão de uma guerra. Os animais atolados e os olhares tristes daquelas vaquinhas brancas que não entendiam a extensão de tudo. Cães com lama e os focinhos sujos acompanhavam milhares de aves mortas, não se falando da vegetação, que nunca mais será a mesma. Já imaginaram nas florestas próximas quantas mortes ficarão no anonimato das matas? Será que a humanidade necessita disso tudo? Comerão, por acaso, minério para saciar a fome e a sede no futuro?
Agora, novas medidas mais duras deverão ser tomadas, sob pena de um futuro terrível para os homens se avizinharem. Leis que devem ser cobradas rigidamente; consciência maior da Vale perante o País e as demais nações. Sua irresponsabilidade a partir de agora estará coberta de lama e de sangue.
Antônia Izanira Lopes de Carvalho