A família foi informada após três semanas da descoberta do cadáver e alega omissão por parte das autoridades brasileiras
O advogado Sandro Simão, de 35 anos, natural do Rio de Janeiro (RJ), descobriu ser portador de uma doença terminal e decidiu viajar pelo mundo. Ele foi encontrado no dia 2 de julho, mas a identificação do corpo somente foi confirmada na quinta-feira, dia 22. “Se fosse ao contrário, seria caso de polícia internacional”, desabafou um familiar.
No dia 2, guardas florestais em serviço encontraram um cadáver no Denali National Park, área de preservação ambiental no Alasca, estado pouco habitado no extremo do continente americano. Na quinta-feira (22), as autoridades norte-americanas confirmaram que o corpo era de Simão.
O brasileiro desapareceu após descobrir uma doença em estágio terminal e decidir viajar pelo mundo durante os últimos momentos de vida, sem dar notícias. Na outra ponta do continente, no Rio de Janeiro, uma família se desespera por uma solução para o traslado do corpo, e aponta omissão do governo brasileiro na condução do caso.
A confirmação de que o corpo encontrado no Alasca era de Sandro veio após semanas de agonia. Conforme um familiar, que não quis ser identificado, o Itamaraty e o Consulado-Geral do Brasil nos EUA já tinham a informação de que um brasileiro havia sido encontrado no parque local, mas não repassaram o caso à família.
“Ele morreu no dia 2, as autoridades do Alasca avisaram ao consulado no dia 6. A família foi avisada no dia 20, duas semanas depois. Alguma instituição sabia dessa informação e reteve. Enquanto isso, nós estávamos desesperados, com a informação de que o Sandro estava desaparecido. Ninguém avisou. Se fosse ao contrário (um norte-americano no Brasil), seria caso de polícia internacional”, comentou o parente.
Os familiares de Sandro ainda não sabem exatamente qual foi a doença que fez o advogado deixar o Brasil e viajar pelo mundo. Ele partiu no fim de maio, com passagem de volta marcada para sexta-feira (2), exatamente o dia em que o corpo do brasileiro foi encontrado.
“Ele não entrou no voo. Começamos a pensar que havia algo estranho”, disse um familiar. “Há um histórico de perdas na família. Ele deve ter viajado para tentar nos poupar do sofrimento.”
A advogada e especialista em Direito Internacional Karina Costa foi quem se comunicou com o Itamaraty e o Consulado-Geral do Brasil em São Francisco (CA), responsável pelas questões diplomáticas no Alasca. Ela destacou a omissão do governo brasileiro com relação ao caso.
“Isso se tornou um caso de Direito Internacional, um impasse internacional que envolve um corpo de um nacional brasileiro negligenciado. Houve omissão. As autoridades brasileiras não cobraram com vigor as autoridades americanas sobre o desfecho”, afirma Costa. “Há uma mãe no Brasil esperando notícias, querendo se despedir de seu filho e homenageá-lo. É difícil até em relação ao estado do corpo. Não sabemos em quais condições ele está, onde ele ficou durante esse tempo. Nada foi informado.”
O Ministério das Relações Exteriores afirmou que “acompanha o caso e, por intermédio do Consulado-Geral em São Francisco (CA), vem prestando toda a assistência consular possível à família”.
O Itamaraty afirmou também que “está em contato com as autoridades norte-americanas envolvidas e com a família”. Sobre a identificação do corpo, informou que “é responsabilidade das autoridades dos EUA e que o Consulado vem acompanhando atentamente o processo”.
Traslado do corpo
Em relação ao traslado do corpo para sepultamento no Brasil, o Itamaraty disse que consulados podem apoiar os familiares com orientações e expedição de documentos, como o atestado de óbito, mas não há previsão de custeio, com recursos públicos, para a transferência. (Brazilian Times)