GOVERNADOR VALADARES – Shirley Djukurnã Krenak, uma líder indígena do Vale do Rio Doce, será a primeira mulher do povo Borum do Watu a receber o título de ‘Doutora Honoris Causa’, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A honraria, concedida àqueles que se destacam em sua área de atuação, foi aprovada pelo Conselho Superior (Consu) no último dia 10 de novembro.
Shirley é reconhecida por aproximar a universidade com os povos originários e seus saberes ancestrais. A líder indígena foi uma das primeiras indígenas do Brasil a ingressar em um curso superior no final dos anos 1990. Entre as mulheres oriundas dos povos originários, apenas ela e Eva Potiguara possuem o título de ‘Doutora Honoris Causa’.
“Como primeira mulher Krenak e primeira mulher indígena de Minas Gerais a receber esse título só fortalece ainda mais a nossa luta dentro dos espaços nacionais e internacionais. Tenho certeza que o meu povo está muito bem representado, no que se diz a respeito a essa questão de ecoar a nossa história para o mundo todo. É reconhecimento de história, é reconhecimento de vida, mas também é reconhecimento de tudo que eu aprendi nos espaços educacionais, na qual eu fiz parte e ainda faço parte. É sobre está aqui, é sobre viver aqui, é sobre lutar aqui nesse território sagrado”.
Reconhecimento histórico
Shirley considera a condecoração uma conquista histórica para a trajetória de resiliência dos Krenak no Vale do Rio Doce. Assim, ela espera que o título possa impulsionar a luta de todas as mulheres indígenas em busca de uma existência e de um futuro mais digno.
“Para mim foi uma surpresa muito grande esse título de ‘Doutora Honoris Causa’. Eu fiquei muito feliz porque a gente vem realizando muitas atividades, ações e trabalhos pautados nas ações que desrespeitam a Mata Atlântica. Trabalhando muito em prol de ações das mulheres indígenas dentro do processo de direitos humanos contra o feminicídio. Eu acho que a história do meu povo é muito forte diante de todo o estado de Minas Gerais e do mundo devido a toda resiliência de buscar sobreviver diante a um quadro ambiental bem maltratado no nosso estado”.
“Quando vem um reconhecimento tão importante como esse, através de um coletivo da universidade, em que todos estão por dentro da história que eu carrego, de todo o trabalho que eu faço, isso é de uma honra muito grande”.
Shirley Djukurnã Krenak
Embora aprovado pelo Consu, o título de ‘Doutora Honoris Causa’ ainda não foi oficialmente entregue a Shirley Krenak. Ainda resta à UFJF realizar a cerimônia.
Biografia de Shirley Krenak
Influenciada pelo pai, Waldemar Itchochó Krenak, outra importante liderança dos Borum, Shirley começou a lutar em prol dos povos originários ainda jovem. Ela se destacou por disseminar os saberes ancestrais e chamar a atenção da população para a realidade do planeta e os problemas enfrentados pela humanidade.
Shirley, também é conhecida pelos codinomes ‘Djukurnã’ e ‘Krenak’, que significam, respectivamente, “espírito novo” e “cabeça da terra”. A professora tem dedicado sua vida à luta constante contra todas as investidas em desfavor das águas dos rios e do meio ambiente. Além disso, a sua biografia também marca a luta na preservação dos territórios, da cultura, da história e da existência dos indígenas.
Produção intelectual
O processo de divulgação e defesa dos conhecimentos dos povos originários levou Shirley à literatura. Ela é autora da cartilha ‘Krenak Ererré’, publicada em 2019. Outra obra da escritora é o livro ‘Borum Huá Kuparak’ [que em português recebeu o título ‘A Onça Protetora’], de 2009. Além disso, Shirley trouxe importantes contribuições para o vocabulário indígena colaborando no ‘Dicionário Krenak-Português’, lançado em 2010.
Em 2020, Shirley fundou o Instituto Shirley Djukurnã Krenak (ISDK), uma organização sem fins lucrativos. O objetivo é desenvolver o engajamento social, pela educação, em prol do meio ambiente e da biodiversidade. A instituição se dedica a lutar pelos direitos dos povos indígenas, atuando, inclusive, para proporcionar segurança alimentar de grupos de Minas Gerais.
Shirley atua em conjunto com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), nos ministérios da Justiça e dos Povos Indígenas e demais órgãos do governo nas pautas envolvendo os povos originários. Além disso, fora do Brasil, ela já participou de eventos importantes ligados às pautas indígena e ambiental, como a Convenção das Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU). Através de Shirley, a voz dos povos ancestrais já ecoou em fóruns e discussões em diversos países.
*As informações da biografia de Shirley Djukurnã Krenak é da Universidade Federal de Juiz de Fora