CAMILA ZARUR
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), elogiou o presidente Lula e o chamou de “político experiente”.
A declaração, dada no contexto das chuvas que atingiram o estado no fim de semana, vem na esteira dos elogios feitos pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, ao mandatário petista. Falas essas que desagradaram o ex-chefe do Planalto Jair Bolsonaro, correligionário do líder partidário e do governador fluminense.
“No momento de crise, pouco importa o lado político. Vejo como natural Lula ter procurado o Paes primeiro. Mas ele não deixou de me ligar quando eu o procurei. Um político experiente não faria nada contra o povo para me atingir. Ainda mais pela grandeza do cargo. Eu não ataco, não sou inimigo dele, nunca fomos”, disse Castro, em entrevista à CNN Brasil nesta terça-feira (16).
Bolsonaro, por sua vez, já tinha usado suas redes sociais, na segunda-feira (15) para criticar o fato de Lula não ter ido ao Rio para acompanhar os estragos causados pelo temporal.
O chefe do Planalto estava em Brasília e ligou para os prefeitos do Rio, Eduardo Paes (PSD), e de Belford Roxo, Waguinho (Republicanos), para conversar sobre os impactos do temporal.
“Por onde anda o Lula, braço do Eduardo Paes, para ajudar o Rio de Janeiro nestas enchentes causadas pelas chuvas das últimas horas? Ah, ele está viajando pelo mundo com o seu par, assim como o ocorrido no Rio Grande do Sul”, escreveu Bolsonaro em seu Instagram, fazendo menção ao fato do presidente ter demorado para visitar o estado sulista, devastado por fortes chuvas no ano passado.
A fala de Castro foi feita ainda em meio a uma fissura no PL pela repercussão de falas de Valdemar elogiosas a Lula.
Na sexta-feira (12), Valdemar elogiou Lula pela escolha do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski para comandar o Ministério da Justiça. Além disso, começou a circular na semana passada um vídeo editado de uma entrevista de dezembro de Valdemar, com trechos em que ele, entre outras coisas, diz que Lula tem prestígio e popularidade.
A declaração de Valdemar causou revolta a Bolsonaro, que chegou a mencionar a possibilidade de “implosão do partido” por “declarações absurdas”, sem citar o dirigente.
Bolsonaro se filiou ao PL em novembro de 2021, após ter passado dois anos sem partido. Na eleição passada, o partido que era tradicionalmente do centrão aumentou exponencialmente seu espaço na Câmara, o que também impulsionou o acesso da sigla aos fundos eleitoral e partidário.
Hoje, o PL é o partido com a maior bancada da Câmara. Há, porém, entraves entre bolsonaristas e membros da sigla que já estavam na legenda antes da chegada do ex-presidente como é o caso de Cláudio Castro.
O governador do Rio entrou para o PL em maio de 2021, ainda no seu primeiro mandato no Palácio Guanabara. Embora sempre tenha se colocado como um político conservador de direita, o chefe do Executivo estadual já teve momentos em que preferiu manter certa distância de Bolsonaro para não atrapalhar seus planos políticos no Rio.
À época em que Bolsonaro se filiou ao PL, Castro mantinha conversas para fazer uma aliança informal com o atual presidente visando a corrida eleitoral de 2022. Esse diálogo era feito principalmente entre o chefe do gabinete do governador, Rodrigo Abel, que já foi filiado ao PT, e o deputado federal Washington Quaquá, um dos vice-presidentes nacionais do Partido dos Trabalhadores.
A ideia era montar um palanque extraoficial apelidado de ‘Castro-Lula’, para conseguir o voto de eleitores que se identificavam com os dois políticos. A estratégia também era uma tentativa de levar a imagem do governador mais ao centro, já que tinha sido eleito em 2018 como vice de Wilson Witzel, que se elegeu na onda bolsonarista daquele ano.
A chegada de Bolsonaro ao PL, porém, restringiu os movimentos de Castro. E, diante da popularidade do ex-presidente, o governador passou a atrelar mais sua imagem à do líder bolsonarista ao longo da campanha à reeleição.
Hoje, Castro se equilibra entre manter uma proximidade com Bolsonaro, mirando já as eleições de 2026, ao mesmo tempo que não quer se afastar de Lula. Como governador, ele precisa ter o apoio do presidente para atender aos interesses do estado, seja para o envio de tropas nacionais para conter a escalada da violência no Rio ou para repassar verbas federais em casos de desastres climáticos.
Por outro lado, Castro pensa nos seus próximos passos políticos, visto que não poderá se reeleger em 2026. O plano do atual governador é se postular como candidato ao Senado pelo estado, que elegerá duas cadeiras no próximo pleito federal. Para isso, Castro acredita ser melhor se manter ao lado de Bolsonaro, tentando absorver parte da popularidade do bolsonarista e se beneficiando dos recursos vastos do partido.