Bispo da Diocese de Governador Valadares ressalta importância da campanha deste ano que indica o diálogo como compromisso de amor
Foto cartaz
A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 tem início a partir de amanhã (17) com o tema Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. A campanha sempre inicia na Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa. Na Catedral de Santo Antônio, amanhã (17) haverá uma missa das Cinzas e de Abertura da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, a partir das 7 horas.
A Campanha da Fraternidade é realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) anualmente desde 1964, sendo que a partir do ano 2000, de cinco em cinco anos a propositura da campanha é ecumênica. O texto-base da campanha deste ano foi escrito por membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) com a direção-geral da CNBB dando o aval. No texto contém críticas à negação da ciência neste período de pandemia, desrespeito de igrejas ao distanciamento social, ações do governo federal em relação ao enfrentamento da Covid-19, além de indicar a existência de uma cultura de violência por causa do discurso de ódio contra mulheres, negros indígenas e pessoas do grupo LGBTIQ+, situação que gerou insatisfação em alas mais conservadoras da igreja católica.
De acordo com o bispo da Diocese de Governador Valadares, Dom Félix, a Campanha da Fraternidade é um dos modos de viver o tempo da Quaresma e, desde 1964, ela tem como objetivo despertar a solidariedade dos fiéis e dos cidadãos em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social e Ecológica da Igreja. “Tendo seu momento forte no período quaresmal, somos convidados a contemplar o mistério da Cruz de Cristo a fim de realizar uma conversão profunda de nossa vida, isto é: deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. Um coração que se converte está disposto a amar e servir, assim como Cristo fez e nos ensinou”, destaca o bispo.
Dom Félix ressalta que a caridade cristã é resposta de uma vida impelida pelo amor de Cristo, levando a amar o bem comum e a buscar o bem de toda pessoa, considerando-a também em sua dimensão social. “Por isso, assumir a Campanha da Fraternidade é abraçar mais uma oportunidade para vivermos o amor como serviço ao próximo e a fé como missão. É se envolver com cada pessoa que encontramos no caminho. É agir como o Bom Samaritano: ver, compadecer, cuidar e dialogar”.
O bispo da Diocese de Governador Valadares reafirma a importância do diálogo enquanto compromisso de amor, pois a sociedade está inserida em um cenário marcado por polarizações, ódios, ausência de escuta, individualismo e indiferença. “Por isso, somos convidados a recuperar nossa capacidade de relação, tolerância e fraternidade, e a edificar um novo humanismo alicerçado na ética cristã. Não podemos permanecer indiferentes a esta realidade que banaliza a vida, gera conflitos, violências, discriminações e radicalizações. A campanha deste ano surge como ocasião preciosa para redescobrir a força e a beleza do diálogo como caminho de relações mais amorosas, de convivência fraterna e da alegria do encontro como experiências humanas irrenunciáveis, em meio a crenças, ideologias e concepções diferentes, num mundo cada vez mais plural. É preciso reaprender a dialogar”, disse.
Sobre as críticas de grupos mais conservadores referentes ao texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, Dom Félix entende que as polêmicas levantadas contra a Campanha da Fraternidade são profundamente farisaicas e ideológicas, pois se prendem a detalhes secundários (quem escreveu o texto, pontos destoantes da doutrina católica) deixando de lado o que é essencial, a busca por diálogo em vista da unidade e da verdadeira fraternidade. “Sem esquecer que a unidade se faz na diversidade, no respeito pelo diferente, sem querer ser o dono da verdade. Os temas refletidos são para que nos posicionemos a favor de Cristo e de seu Reino ou contra. E muita gente está contente com a vida errada que leva e não tem nenhuma preocupação com a conversão e com o seguimento de Jesus. Pelo contrário, criticam os posicionamentos da Igreja porque eles questionam uma porção de práticas que precisam ser mudadas na vida dos cristãos e dos cidadãos em geral. Neste ano, a Igreja nos chama a atenção para o diálogo e a unidade em Cristo, que só será possível se nos colocarmos à escuta do Evangelho, sobretudo, neste tempo de polarização, onde as pessoas expõem o que pensam nas redes sociais e agridem aqueles que pensam de forma diferente como se fossem inimigos que devem ser eliminados. Porém estabelecer diálogo com o diferente era o modo de Jesus evangelizar. Logo, a unidade não está naqueles que pensam como eu ou diferente de mim; a unidade está em Cristo. É Cristo quem fez e faz a unidade”.
Dom Félix explica que a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano a única coisa que o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC) pede é o diálogo, o amor e a vida para os que são diferentes, independente de suas opções e princípios e não entende o porquê das polêmicas. “Creio que Jesus teria a mesma postura para com eles. Por isso, não tem sentido algum tanta polêmica. A campanha é para criar fraternidade entre os cristãos – e não mais divisão! É para reaprender a dialogar – e não para acirrar a falta de diálogo, agora entre os próprios católicos”, finaliza.