Bolsonaro diz que ‘política mudou’ e que não é preciso pacto no papel para governar

FOTO: Divulgação

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que “a política mudou”, criticou proposições populistas e disse que não é necessário “pacto assinado no papel” para que Executivo e Legislativo caminhem juntos, ao participar de cerimônia militar na capital paulista.

O evento do Exército em São Paulo, nesta quarta-feira (3), marcou a troca de chefia no Comando Militar do Sudeste. O general Luiz Eduardo Ramos deixa o posto para assumir a Secretaria de Governo da Presidência, onde substitui o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

“Nós não precisamos de pacto assinado no papel. O pacto que nós precisamos, com o Poder Legislativo e com o Poder Executivo, é o nosso exemplo, de votarmos matérias, de apresentarmos proposições que fujam do populismo”, discursou Bolsonaro.

“Ajudaremos, e muito, a resgatar a credibilidade de nossas instituições”, disse o presidente, voltando-se para Ramos. Ele afirmou que o passado do general como assessor parlamentar será útil na tarefa dele de coordenar a articulação política do Planalto com o Congresso.

O pacto que o governo chegou a negociar com os Poderes Legislativo e Judiciário para melhorar a interlocução está travado. O documento não foi assinado e, um mês depois de ser negociado, acabou indo para a gaveta.

“O que nós queremos e podemos fazer com a nossa união é um Brasil melhor para todos. Isso tem que sair do papel, tem que sair do discurso fácil de político”, falou o presidente na cerimônia.

“Nós temos que dar exemplo. Nós, Executivo e Legislativo. E daremos exemplo para o Brasil realmente chegar no local dos sonhos de todos nós”, acrescentou.

Bolsonaro disse ainda que o povo é “muito mais importante que qualquer instituição nacional” e que só deve lealdade completa à população.

“Vocês é que conduzem o nosso destino. E a vocês, povo brasileiro, somente a vocês, eu devo lealdade absoluta. Contem comigo, porque eu sei que conto com vocês”, afirmou.

“O Brasil é um país que não só tem tudo para dar certo. É um país que vai dar certo”, enfatizou o presidente, diante da plateia de militares. “A política mudou. Se eu jurei um dia dar a vida pela minha pátria, como vocês, o que seria um possível sacrifício do mandato pelo bem de todos nós?”

O futuro ministro deixa a tropa considerada mais importante do Brasil, com cerca de 22 mil militares, e vai para o Planalto com a missão de apaziguar os ânimos entre os militares da ativa e os do governo.

O militar é próximo de Bolsonaro desde os anos 1970. Na cerimônia no Exército, ele se referiu ao presidente como “estimado amigo”. O novo chefe devolveu a gentileza: “Grande amigo que mora no meu coração”.

Ramos substitui Santos Cruz, que foi demitido do governo no dia 13 de junho, após atritos com filhos do presidente e com a ala do Planalto ligada ao escritor Olavo de Carvalho. O novo titular da pasta toma posse hoje.

À frente do Comando Militar do Sudeste ficará Marcos Antonio Amaro dos Santos, que é general desde março de 2018. No Exército desde 1974, ele já atuou na Presidência da República, como adjunto da Casa Militar e do Gabinete de Segurança Institucional, no governo Dilma Rousseff (PT).

Ele foi segurança pessoal da presidente e acompanhava a petista em viagens e em passeios de bicicleta por Brasília.

O governador João Doria (PSDB) também compareceu ao evento no Comando Militar do Sudeste, no Paraíso (zona sul de São Paulo). No palco estavam políticos como o ex-presidenciável Levy Fidelix (PRTB), deputados do PSL e os apresentadores de TV José Luiz Datena e Otávio Mesquita.

Bolsonaro chegou ao lado de Doria, acompanhado do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) e dos ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa).

O presidente e o governador se reencontraram após uma semana em que tiveram divergências relacionadas ao imbróglio sobre a possível saída da Fórmula 1 de São Paulo. A transferência do GP Brasil para o Rio, defendida por Bolsonaro, desagrada a Doria.

Uma semana atrás, o tucano reagiu com ironia à fala de Bolsonaro de que havia 99% de chances de a prova migrar para o Rio. Disse que “só a cavalo” é possível chegar a Deodoro, circuito que passaria a sediar a prova.

Em seu discurso nesta quarta, Bolsonaro disse a Doria que reconhece os desafios de governar um estado e o cumprimentou pelo desempenho, colocando-se como paulista: “Parabéns pela forma como conduz o meu, o nosso estado de São Paulo”.

No fim da solenidade, a banda do Exército tocou “Amigos para Sempre”, enquanto as comitivas deixavam o palco. Doria não discursou na cerimônia militar e foi embora do local antes do presidente.

Pessoas próximas ao tucano minimizaram o impacto da rusga dos últimos dias e disseram que o estresse entre os dois era momentâneo, por envolver uma disputa, a da F-1, na qual ambos estão empenhados.

Como informou o jornal Folha de S.Paulo, o líder do PSDB foi aconselhado por aliados a evitar embates desnecessários com o presidente, sua equipe e seus filhos. Doria é desde já apontado como postulante ao Planalto em 2022, embora hoje negue em público a intenção.

Nos últimos dias, Bolsonaro contribuiu para antecipar o calendário da sucessão. Ele afirmou não descartar disputar a reeleição e passou a dizer abertamente que vê Doria como candidato.

Na sexta-feira (28), o tucano afagou o ministro Sergio Moro (Justiça), ao entregar a ele a Ordem do Mérito, principal honraria do governo paulista, e exaltar o ex-juiz como símbolo do combate à corrupção e ao crime organizado.

por JOELMIR TAVARES FOLHAPRESS

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