Despojos da poeta e integrante da Inconfidência Mineira foram levados até o espaço de memória do movimento, em Ouro Preto
OURO PRETO – A poeta e heroína da Inconfidência Mineira, Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira foi homenageada na cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, nesse domingo (21), em Ouro Preto, por sua participação ativa no período emblemático da história de Minas Gerais, em 1789.
Durante a cerimônia, o Museu da Inconfidência recebeu uma porção de terra do túmulo onde a poeta esteve enterrada, em São Gonçalo do Sapucaí, no Sul de Minas, desde 1819. Os despojos foram levados até o Panteão dos Inconfidentes pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, acompanhado da primeira dama Christiana Renault, esposa do vice-governador mineiro, Professor Mateus.
Bárbara Heliodora nasceu em 1759, em São João del-Rei, e foi casada com o inconfidente Alvarenga Peixoto. Membro da aristocracia, a poeta teve uma excelente educação, gostava de música e poesia, se tornou uma das pioneiras da literatura brasileira. Heliodora e Alvarenga Peixoto cediam a casa para as reuniões do movimento, daí veio o título de “Heroína da Inconfidência Mineira”.
No Panteão dos Inconfidentes, a lembrança de Bárbara Heliodora ficará ao lado de outros inconfidentes, como Tiradentes e o marido Alvarenga Peixoto. A oficialização da poeta entre os heróis da Inconfidência Mineira representa uma forma de corrigir um equívoco histórico, já que à época, por ser mulher, a ativista não obteve o devido reconhecimento como parte indissociável da memória de nosso estado.
O vice-governador, Professor Mateus, acredita que a homenagem marca a integração de Bárbara Heliodora dentro do reconhecimento da conjuração.
“Durante muito tempo se questionou qual é o papel de Bárbara Heliodora no movimento da Inconfidência, e trazer os despojos dela para se juntar aos do seu marido no museu, ao lado dos inconfidentes, mostra respeito e consideração à história de uma mulher que representou muita convicção mineira na defesa da liberdade”.
Ele destaca ainda a firmeza demonstrada pela homenageada, tal qual a simbologia que Tiradentes representa para os Inconfidentes. Tiradentes representa a liberdade como Bárbara Heliodora representa a convicção em uma causa. Acho que tivemos a oportunidade neste ano de reforçar que a liberdade não é somente um valor e é preciso uma convicção para a defesa dessa liberdade. E Bárbara Heliodora representa muito bem essa convicção”.
Memória respeitada
O teatrólogo Icaro Claudinei Alba, de 56 anos, descendente da inconfidente homenageada em 2024, frisa a importância que isso traz para o reconhecimento tão almejado pela família.
“Estamos há alguns anos tentando colocá-la no Panteão junto com os outros homens que participaram da Inconfidência Mineira. Ela foi escritora, ajudou o marido a não entregar os demais inconfidentes, que estavam sob risco de morte”, conta.
“É aqui em Ouro Preto com os inconfidentes que nasce o ideal de liberdade diante de Portugal e que também nasce a literatura e a arte do Brasil. Hoje ela não pertence mais à minha família, ela é um mito, um ideal de liberdade e cultura que pertence ao Brasil todo. A memória de Bárbara Heliodora é um exemplo não só pra mim e pra minha família, mas para toda pessoa que quer fazer algo de bom para o Brasil, mesmo que ao custo de um sacrifício pessoal, da sua família e da sua comunidade”, celebra Ícaro, que ajudou a desembargadora Mônica Sifuentes, presidente do Tribunal Regional Federal da 6ª região (TRF-6), a escrever seu livro “Um Poema para Bárbara”, em 2014.
Mônica Sifuentes também acompanhou o governador e a primeira-dama na cerimônia em que levaram os despojos da poeta até o Panteão dos Inconfidentes. “Isso resgata a importância da mulher nesse movimento, coisa que até pouco tempo atrás não era colocado em evidência, a Inconfidência Mineira era um movimento feito especificamente por homens” pontua Mônica Sifuentes.
A presidente do TRF-6 lembra que a ideia de ter Bárbara Heliodora no Panteão já tinha sido cogitada em 1949, quando o espaço passou a receber a lembrança dos demais inconfidentes. Quando ela sugeriu esse ato, nos últimos anos, a proposta foi aceita e tocada em conjunto pelo prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, pelo secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult), Leônidas de Oliveira, pelos descendentes e pela diretoria do Museu dos Inconfidentes.
“Agora, a História está recuperando essa participação feminina no movimento, uma participação intensa e forte que possibilitou que o movimento se espalhasse inclusive depois que os principais membros foram condenados, elas tiveram que suportar os efeitos daquela condenação, demonstrando a força e a bravura da mulher mineira”, complementa Mônica Sifuentes.