Em meio à fumaça das queimadas da região de Mato Grosso, o avião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), precisou arremeter antes de pousar em Sinop, no norte de Mato Grosso, nesta sexta-feira (18).
“Meu avião arremeteu pela segunda vez na minha vida. A visibilidade não estava boa. Estamos vendo focos de incêndio pelo Brasil, isso acontece há anos”, afirmou Bolsonaro em inauguração solene de uma usina de etanol de milho da Inasa, que opera há cerca de um ano.
Bolsonaro não mencionou medidas de combate ao incêndio, cujos focos explodiram na região do Pantanal neste ano. Na cidade de Sinop, que fica próxima ao cerrado, os Bombeiros atenderam 32 focos de incêndio de julho a setembro. No mesmo período do ano passado, foram 16.
“Interessa aos nossos concorrentes nos atacarem”, afirmou, citando também que “os outros queimaram tudo no país deles”, uma resposta às críticas negativas de governos internacionais sobre a condução no desmatamento da Amazônia.
Setembro de 2020 será o mês com maior número de queimadas já registrado na história do Pantanal, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Com aumento dos focos de calor em agosto e setembro, o instituto registra mais de 15,8 mil focos no Pantanal desde o início do ano, o maior número desde 1999, quando iniciou o monitoramento.
Agravada por um período de seca na temporada de chuvas, a situação está descontrolada mesmo diante da atuação de brigadistas. Além de chuva abaixo da média para o período, as temperaturas aumentaram na região do bioma, com ventos que já vieram de regiões secas e quentes.
A Delegacia de Meio Ambiente do estado investiga a ação humana nos incêndios. O presidente também mencionou brevemente a questão indígena dizendo que “índios são irmãos e parceiros” que merecem suas terras, “mas dentro da razoabilidade”.
Parte das terras tem sido afetada pelo incêndio, caso da Baía dos Guató, em Mato Grosso, que teve ao menos 83% da sua área destruída nas últimas semanas, de acordo com o ICV (Instituto Centro de Vida), o que corresponde a 101 parques Ibirapuera, como mostrou a Folha.
O evento estava lotado da base fiel do presidente, com grupos de ruralistas, associações agropecuárias e políticos regionais. Eles ovacionaram Bolsonaro, Tarcísio Freitas, ministro da Infraestrutura, e o General Augusto Heleno, ministro do GSI.
Já o governador Mauro Mendes (DEM-MT) teve de elevar o tom para conseguir discursar diante de vaias que perduraram durante sua fala. A organização do evento estimou a presença de 2.000 pessoas. O pátio da fábrica, com tratores rurais estacionados, tinha faixas erguidas que diziam “Mato Grosso fora da Amazônia Legal. Precisamos crescer para produzir” e “Duplicação da BR-163, importante para Mato Grosso. Essencial para o Brasil”.
A 500km de Cuiabá, Sinop, um município de pouco mais de 40 anos, vocação agropecuária e com presença de muitos agricultores do Sul, fica às margens da BR-163, uma das principais vias de escoamento agropecuário do Mato Grosso.
A duplicação da via e a totalidade de seu asfaltamento são um pleito do agronegócio há anos.
“Até o ano que vem, terminamos a duplicação de Rondonópolis a Cuiabá e vamos dar solução para a questão da rota do Oeste”, afirmou o ministro da Infraestrutura. Ele recebeu aplausos do público que pedia solução para a BR-163. Freitas também citou avanços para destravar nós logísticos para o escoamento da região, que sofre de gargalos logísticos de armazenagem e escoamento para os portos.
De acordo com agropecuaristas ouvidos pela reportagem, o asfaltamento dessa rodovia foi um bom sinal do governo para sua base de apoio.
“O governo destravou a logística, asfaltou parte da 163 que estava pendente, tem planos avançados para a Ferro Grão”, diz o empresário Fernando Porcel, empresário e representante da Acrimat (Associação dos Criadores de MT) para o Médio Norte.
Em fevereiro, Bolsonaro inaugurou a obra de pavimentação de um trecho de 51 km que liga Mato Grosso aos portos de Miritituba (PA).
Outro feito considerado obra bolsonarista nas redes sociais, o asfaltamento de Jaciara e Serra do São Vicente, foi iniciado em 2014 e finalizado em 2018, conforme mostrou a Agência Lupa em 2019. De Sinop, o presidente foi a Sorriso, a 85km, fazer a entrega de títulos de lotes rurais. Depois, deve almoçar em uma fazenda local.
(Com informações do FOLHAPRESS)