As últimas movimentações do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mostram que o economista perdeu capital político no Congresso. E, no sentido contrário, Maia se fortaleceu como “pai” da reforma da Previdência.
Considerado no começo do governo Bolsonaro como um “superministro”, o economista era blindado por líderes partidários e a cúpula do Congresso. Seu comportamento errático e uma crescente desconfiança do mercado têm afastado os parlamentares.
O secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, que é ex-deputado, é apontado hoje como o principal nome da articulação com a equipe econômica, mais do que Guedes.
Além disso, Maia tem se fortalecido cada vez mais em seu papel de fiador independente das reformas. O parlamentar chamou para si (e consequentemente para a Câmara) a Previdência, e seguiu caminho ainda mais solo no caso da tributária, que já chega à fase de comissão especial à revelia do governo.
A própria relação de Maia com o ministro, então seu protegido, mudou de tom. Depois que Guedes criticou o relatório de Samuel Moreira (PSDB-SP), na sexta-feira (14), o presidente da Casa afirmou que o governo era uma “usina de crises”.
A fala pegou muito mal entre os líderes partidários, que ficaram surpresos com o arroubo de Guedes e respaldaram a crítica do presidente.
A avaliação é de que, ao criticar tão duramente um texto construído sob a asa de Maia, o ministro foi desleal com o deputado, que o manteve até a semana passada protegido dos atritos entre Executivo e Legislativo.
Na quarta-feira (12), durante reunião de apresentação de parte do relatório da reforma, ele chegou a dizer que o ministro da Economia é um dos poucos membros do Executivo a negociar com o Parlamento.
Pesa também no distanciamento do Legislativo do ministro a avaliação de que ele não tem mais o apoio irrestrito do mercado. A avaliação é de que, hoje, Maia tem mais respaldo para tratar de questões econômicas do que o próprio titular da Economia.
Apesar do episódio de sexta-feira ter dado materialidade às críticas, a relação com o ministro vem sendo corroída há tempos. Os deputados acusam Guedes de arrogância e desaprovam sua inexperiência com política.
Parlamentares já reclamaram que, durante reuniões, o ministro monopoliza a fala e perde interesse quando a palavra passa para um dos interlocutores.
Além disso, havia o sentimento de que a equipe econômica ficaria de fora do embate ideológico com a “velha política” e o PT. No entanto, passou-se ao entendimento de que Guedes seria mais parecido com outros membros da gestão Bolsonaro do que se imaginava.
Por exemplo, parlamentares descreveram como desastroso um encontro que o ministro teve com a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), em fevereiro.
O ministro usou o encontro para criticar na frente da petista, em ao menos três momentos, o ex-presidente Lula, dizem. Enquanto isso, Maia e Marinho fazem esforço para apaziguar a relação com governadores da oposição e convencê-los a apoiar a reforma da Previdência, pauta prioritária da pasta comandada por Guedes.
por ANGELA BOLDRINI FOLHAPRESS