GOVERNADOR VALADARES – “Torto Arado”, do autor baiano Itamar Vieira Júnior, foi a obra vencedora do Prêmio Jabuti de 2020, na categoria Romance Literário. O livro foi analisado pela aluna do 5º período de Direito da UNIVALE, Iassmyn Vitoria Costa, e pelos professores Bernardo Gomes Barbosa Nogueira e Islane Archanjo Rocha Martins, no artigo “Torto Arado: uma leitura interdisciplinar de território quilombola a partir do Direito e da Geografia Cultural”, publicado na Revista Literatura em Debate, periódico ligado ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, do Rio Grande do Sul.
Iassmyn destaca que o artigo se propôs a apontar a importância da efetivação do direito à literatura, devido à influência dessa manifestação artística na formação do ser humano. O trabalho, acrescenta a estudante, faz uma leitura interdisciplinar entre a obra Torto Arado e o território quilombola, a partir do Direito.
“O texto literário Torto Arado trata de um Brasil que abandonou os povos tradicionais, marcados por histórias de luta, luto, desigualdade e desapropriação. Isso nos permite refletir que a literatura captura a realidade, e o envolvimento com ela possibilita um olhar crítico sobre emergências sociais. Fico grata por ter tido a oportunidade de publicar um artigo em um periódico de alta qualidade e rigor científico. Além de contribuir para comunidade científica, a publicação também contribuiu muito para meu currículo acadêmico, pois acredito que muitas oportunidades virão”, disse Iassmyn.
Para a professora Islane, as observações feitas no artigo são necessárias, considerando a invisibilidade dispensada aos povos tradicionais, que ela classifica como “tão caros à nossa história brasileira”, e que a análise foi realizada sob a ótica do território simbólico-cultural quilombola.
“É um texto importante para mim, pois o reconhecimento do território quilombola foi objeto da minha dissertação, fruto do mestrado em Gestão Integrada do Território. Torto Arado é uma obra fictícia, mas que apresenta situações que marcaram a história brasileira e ainda podem ser encontradas em muitas partes do Brasil. Nesse sentido, a literatura é utilizada como fonte para a reflexão crítica do Direito através do romance, no que toca aos povos tradicionais quilombolas e à sua proteção jurídica étnica. A literatura tem papel formador da personalidade e desvelador de histórias. Os povos quilombolas são vozes que, mesmo oprimidas, constituíram o processo civilizatório nacional, e que costumam ser resgatadas por meio de produções literárias, com encargo de denunciar as mazelas sociais, infelizmente, ainda existentes”, comentou Islane.
Bernardo Nogueira acrescenta que o artigo foi desenvolvido a partir de projeto de pesquisa aprovado pela Assessoria de Pesquisa e Pós-Graduação (APPG). O professor entende que a Literatura é uma forma de evidenciar e constituir uma resistência em prol das comunidades originárias, garantindo que a memória desses povos não seja perdida.
“A partir de uma análise da obra Torto Arado nós mostramos como o reconhecimento de territórios quilombolas é absolutamente necessário para a preservação territorial, cultural e da memória. Exatamente por isso, uma obra como Torto Arado se torna tão importante para a formação dos alunos. Nós percebemos que o ensino de Literatura nas escolas de ensino médio já não é mais obrigatório e, perdendo o ensino da Literatura, os alunos acabam perdendo uma grande oportunidade do conhecimento dessas comunidades originárias, desses povos originários quilombolas. Que ao fim e ao cabo carregam a nossa matriz de memória principal”, afirmou Bernardo.
O artigo, na íntegra, está disponível clicando aqui.