Especialista alerta que cuidados essenciais da saúde do homem vão além da preocupação com a próstata
Fred Seixas e Kissyla Pires
GOVERNADOR VALADARES – No mês dedicado à conscientização sobre a saúde masculina, o Novembro Azul, ainda é comum que muitos associem o cuidado do homem exclusivamente ao câncer de próstata. Porém, segundo o médico urologista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Dr. Ramatis Castro, essa é apenas uma parte de um acompanhamento muito mais amplo.
Em entrevista, ele explica por que o urologista deve ser visto como o “clínico do homem”, detalha quando começar as consultas, quais são os principais cuidados ao longo da vida e como a prevenção pode evitar doenças graves.
O especialista também comenta avanços no tratamento da hiperplasia benigna da próstata e reforça a importância da educação em saúde desde a adolescência.
Confira a entrevista na íntegra:
DRD – Doutor Ramatis, hoje as pessoas imaginam que devem procurar um urologista; até as campanhas do Novembro Azul lembram muito a questão da próstata, mas vai além. O que envolve a saúde do homem?
DR. RAMATIS CASTRO – Isso é uma questão muito importante que você tocou. A saúde masculina é muito mais ampla que só a próstata; inclusive, no Novembro Azul, hoje, a orientação nossa é que não se foque só na próstata. Novembro Azul é para lembrar os homens de que têm que cuidar da saúde.
Numa consulta de saúde masculina, nós vamos avaliar as questões hormonais, ver como estão as taxas de testosterona, se há risco de andropausa ou não naquele momento. Nós vamos avaliar a parte sexual — a sexualidade masculina está incluída na saúde masculina. Vamos avaliar a questão da próstata: ver se o paciente está urinando bem ou não, se tem alguma dificuldade para urinar, observar o PSA e a saúde do homem de forma geral.
A gente sempre vai fazer exames de rotina — glicose, colesterol —, avaliando a saúde masculina. Então, o urologista é o clínico do homem. É muito importante que a gente não enfoque somente na questão da próstata.
Inclusive, a orientação é que o homem vá ao urologista todo ano desde muito mais novo, e não só para a questão da próstata a partir dos 45 ou 50 anos — 45 para quem tem caso na família ou é de raça negra, e 50 para quem não tem nenhum dos dois, relativo ao exame de próstata. Porém, relativo à saúde geral, o homem pode — e deve — começar muito antes os exames de saúde.
DRD – Com que idade, mais ou menos, o homem já pode procurar um urologista?
DR. RAMATIS CASTRO – Idealmente, a partir da adolescência, porque vamos começar a cuidar da parte sexual; vamos orientar sobre doenças sexualmente transmissíveis, examinar o pênis, ver se há fimose, se há varicocele — que é um problema que pode afetar a fertilidade no futuro —, e fazer um exame físico da região genital masculina. O ideal é: da adolescência em diante.
DRD – Qual é, com exceção da próstata, uma das principais necessidades do homem com relação à saúde hoje?
DR. RAMATIS CASTRO – Existe a saúde geral, na qual vamos avaliar exames laboratoriais — glicose, colesterol e toda essa parte —, que também é feita pelo clínico, pelo cardiologista; qualquer médico deve tomar conta disso.
E existe a saúde masculina especificamente, na qual vamos avaliar as questões sexuais: como está essa parte sexual; a questão urinária; avaliar os rins — se há pedra ou não —; avaliar as vias urinárias, a parte sexual e genital; orientar sobre doenças sexualmente transmissíveis, no caso dos mais jovens — e não só deles, claro, mas começar essa orientação no início da vida sexual —; além da questão de vacinação contra o HPV. É toda uma orientação.
DRD – Essa vacinação, por exemplo, do HPV, hoje é só para adolescentes ou qualquer pessoa pode vacinar?
DR. RAMATIS CASTRO – O ideal é antes do contato sexual. No sistema público de saúde (SUS), você só consegue tomar na adolescência — há idades específicas —, mas, no sistema privado, pode-se tomar em qualquer idade. Porém, o benefício não é tão grande depois que você já começou a atividade sexual; o ideal é tomar antes.
DRD – Qual a importância de o paciente, buscar esse acompanhamento médico mais cedo? Pode ser que ele tenha algum problema e descubra tarde demais? Seria isso?
DR. RAMATIS CASTRO – Sem dúvida. Eu sempre falo que um dos maiores problemas de saúde pública, às vezes, não é só o acesso ao médico ou a exames; muitas vezes, o problema é de educação. As pessoas têm que ser educadas em saúde, receber informações para que se previnam. Então, nessas consultas, desde o início, vamos educar o paciente sobre os cuidados com a parte genital, higiene e saúde de forma geral. Essas informações são muito importantes para que as pessoas aprendam a se cuidar.
DRD – Há alguns anos o senhor deu entrevista falando sobre os números de amputação de pênis no Brasil, que eram um pouco assustadores. Essa é uma questão comum ou um alerta para a população?
DR. RAMATIS CASTRO – O câncer de pênis não é um câncer comum; é mais associado à pessoa com má higiene e à pessoa que tem fimose, que não consegue fazer a higiene adequada. Mas ele não é comum. É claro que toda ferida no pênis deve ser avaliada por um especialista, para verificar se há risco de câncer. Realmente não é comum, diferente do de próstata, que é muito frequente. Um em cada seis homens terá câncer de próstata em algum momento da vida.
O câncer de próstata, se falarmos em números, são cerca de 70 mil novos casos todos os anos no Brasil. Um homem a cada oito minutos é diagnosticado com câncer de próstata, e um homem a cada 40 minutos morre da doença no país. Então, o câncer de próstata é muito mais relevante do que o de pênis, porque é realmente comum.
Também vamos avaliar não só o câncer de próstata. Quando falamos em próstata, avaliamos o crescimento benigno da próstata. Fala-se muito de câncer, mas a doença mais comum da próstata não é câncer: é o crescimento benigno — chamado hiperplasia benigna da próstata —, que leva à dificuldade para urinar, dor ao urinar e aumento da frequência urinária noturna. Geralmente, o homem, a partir dos 50 anos — ou dos 40, em alguns casos — já pode apresentar isso, mas é mais comum após os 50.
Esses sintomas nos chamam atenção, acendem o alerta. Quando fazemos a consulta de saúde masculina, vamos avaliar não só o câncer de próstata, mas também o crescimento da próstata, que pode ser uma doença. Não é perigosa do ponto de vista de risco de morte, como o câncer, mas pode causar grande limitação na qualidade de vida do paciente — urinar mal, acordar várias vezes à noite, sentir desconforto. O impacto é grande, e os tratamentos hoje são muito eficazes.
DRD – Que tipo de tratamentos existem para a hiperplasia e para o câncer de próstata?
DR. RAMATIS CASTRO – Quando falamos em câncer, o tratamento envolve sempre a retirada completa da próstata ou radioterapia — que também é uma opção —, mas, mais comumente, envolve cirurgia. A retirada total da próstata pode ser feita por via aberta ou até mesmo por via robótica. Quando falamos em hiperplasia, que é apenas o crescimento da próstata, já existem outros tipos de tratamento. Em alguns casos, usamos medicamentos; em outros, fazemos raspagem da próstata ou laser.
E hoje existe um novo tratamento que trouxemos para Valadares, que é a vaporização prostática — chamada Rezum —, que é simplesmente uma aplicação de vapor, sem internação e sem cirurgia. Passo um aparelho fino pelo canal urinário, faço uma sedação, como em uma endoscopia, aplico o vapor na próstata, e esse vapor faz a próstata regredir.
Assim, o paciente volta a urinar bem, sem precisar tomar remédios, porque os medicamentos para próstata muitas vezes causam problemas sexuais e outros efeitos colaterais. Muitos pacientes hoje optam pela vaporização Rezum para não precisar usar remédio pelo resto da vida. Temos feito bastante — e com bastante sucesso.
DRD – E, com relação à idade para se fazer o exame de próstata, há alguma indicação para começar?
DR. RAMATIS CASTRO – A idade recomendada é: para quem não tem caso na família e não é de raça negra, especificamente para próstata, 50 anos. Para quem tem caso de câncer de próstata em familiar de primeiro grau — pai ou irmão — e para quem é de raça negra, 45 anos.
Nessa consulta, vamos avaliar tanto câncer quanto hiperplasia, o crescimento. E a boa notícia é que o toque retal hoje está mais relativizado. Os métodos de diagnóstico melhoraram muito, então não é necessário fazer o toque todos os anos.
Na primeira consulta, ele é recomendável para termos um exame basal do paciente, entender como é aquela próstata; depois disso, não necessariamente será feito todo ano. Às vezes, monitoramos apenas com PSA e ultrassom. Quando já conhecemos o paciente e já fizemos o primeiro toque sem alterações, podemos seguir sem toque anual. Isso é uma novidade.







