‘A oportunidade que não tive lá fora’: no Dia Internacional da Juventude, conheça o trabalho do Centro Socioeducativo de Valadares

Para marcar este Dia Internacional da Juventude – comemorado anualmente em 12 de agosto – o relato de um jovem que, aos 18 anos, é um dos internos do Centro Socioeducativo São Francisco de Assis (CSE), em Valadares: “Eu era da igreja, do nada revoltei. E a oportunidade que não tive lá fora, estou tendo aqui dentro. Atividades que eu não fazia porque tinha muito risco lá fora, aqui eu estou fazendo. Todo mundo que está passando aqui tem uma linha na vida, uma trajetória. E ninguém nasceu para viver essa vida”, disse o reeducando, que nesta matéria vamos chamar de Bruno.

Entrada do Centro Socioeducativo São Francisco de Assis. | DRD/TV Leste

Aliás se os jovens representam o futuro da sociedade, o diretor geral do CSE, Renato Douglas Barbosa, afirma que o propósito do local é contribuir nesta jornada. De acordo com o diretor, o centro é um órgão de Minas Gerais, cuja função é executar a medida socioeducativa por meio da internação. Ainda segundo Barbosa, a internação é o último recurso considerado pelo Estado; uma vez que há outras ações de ressocialização com o infrator em liberdade.

“O adolescente pode passar por várias medidas socioeducativas. A nossa função, aqui, é receber os meninos que vão cumprir com a internação. É aquela medida em que o adolescente comete atos mais graves ou é reincidente em algum ato infracional”, esclareceu o diretor geral do CSE.

Renato Douglas Barbosa (diretor geral do CSE) | DRD/TV Leste

A serviço da ressocialização

Assim sendo, quando integrados ao sistema de internação, os adolescentes de Valadares e região passam a viver no Centro Socioeducativo São Francisco de Assis. No local, eles passam a ter acesso a diversos serviços básicos, como assistência à saúde, além de atividades ligadas à cultura, ao esporte e, sobretudo, à educação.

O centro conta com uma escola e serviços que garantem os ensinos básico e profissionalizante. | DRD/TV Leste

“O adolescente, à medida que ele entra aqui, ele é logo inserido nas nossas rotinas institucionais. Desde atividades escolares a atividades de cultura, de esporte e de lazer, profissionalização – que é algo que vem crescendo aqui na nossa unidade. A gente tem uma oferta de cursos on-line; atualmente está acontecendo o curso do Pronatec, de hortifrúti orgânico, então a unidade tem a função de oferecer a esse adolescente as atividades, para que ele possa retornar à sociedade de uma forma mais equilibrada”, explicou Renato Douglas Barbosa.

Portanto os reeducandos contam com ambientes destinados a cada uma dessas atividades, sendo: escola, quadra esportiva, área para o cultivo de hortas, espaço para atendimento médico e sala de informática para aulas on-line.

Adolescentes internos fazem curso e aplicam no cotidiano cuidados com plantio de hortifrúti. | DRD/TV Leste

O CES São Francisco de Assis possui capacidade máxima para 48 reeducandos. Desse modo, quando o centro atinge o limite de internos, recebe adolescentes a mais pelo prazo máximo de 24 horas. Após esse intervalo, o sistema os encaminha para outras unidades.

A Justiça determina que a medida de internação pode ser aplicada a adolescentes a partir de 12 anos de idade, conforme a gravidade do ato infracional. “O adolescente pode vir a ficar aqui até os 21 anos de idade. Quando completar 21 anos, ele vai ser liberado compulsoriamente”, complementou o diretor.

Frutos desse serviço

O gestor também ressaltou que tem observado, ao mesmo passo das mudanças institucionais, melhoras no comportamento dos internos e, principalmente, bons resultados ao finalizar o tempo de internação. Para Renato Douglas Barbosa, o trabalho conjunto entre as áreas da segurança, saúde, educação e ensino técnico é o responsável pela eficácia da medida socioeducativa.

“A gente tem observado uma mudança de mentalidade desses adolescentes. Mais recentemente, tivemos um caso emblemático dessa mudança. Um adolescente saiu daqui da unidade já com emprego garantido. Foi feito um trabalho fantástico através do programa do Estado de educação e profissionalização do adolescente. Ele passou pelo curso do Senac, foi aprovado em um processo seletivo, vai trabalhar numa rede de supermercados e, antes de sair daqui, também foi ofertado para ele um curso profissionalizante no Senai, para que ele possa aprimorar ainda mais o conhecimento”, relatou o diretor.

E o sentimento dos servidores que acompanham todo esse processo diante do resultado é de missão cumprida: “É gratificante. A gente vê que a nossa missão está sendo cumprida. Nossa missão é uma missão bonita, de transformação, de contribuir na mudança de perspectiva e traçar novas projeções de vida para esses adolescentes”, conclui.

O que leva o jovem ao comportamento inadequado?

Para responder a essa pergunta, a equipe do DRD esteve também com a psicóloga e professora da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) Eliza de Oliveira Braga. Ela avalia como “complexas” as circunstâncias que levam um adolescente a praticar delitos.

Mas a profissional destaca que, na maioria dos casos, a decisão por cometer atos infracionais parte do desejo ou da ilusão de obter ganhos de forma imediata, seja para benefício próprio ou de familiares. E, por isso, o problema normalmente está relacionado a adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social.

“Quando a gente fala dessa relação com a criminalidade, a gente vai perceber uma relação de vulnerabilidade presente na vida desse jovem, desse adolescente, dessa criança. É uma vulnerabilidade social, e a gente vai colocar aí fatores econômicos, familiares, o local onde esse jovem estuda, a presença do poder público, ali, bastante limitada e, vamos pensar numa situação de extrema pobreza, vulnerabilidade, violência. Muitas vezes a família não contesta. Então, por exemplo, se o pai não é tão presente, a mãe cuida das crianças, a renda familiar não muito alta; muitas vezes a mãe não contesta: ‘Meu filho chegou com dinheiro. Vou questionar de onde vem?’. Então a gente tem que pensar que são vários fatores. O crime é organizado, então a forma com que eles se estruturam é para conseguir convencer, atrair, parecer algo que realmente é bom. Vão gerar, primeiro, uma aproximação, detalhou a professora. Confira:

VÍDEO: Eliza de Oliveira Braga (psicóloga e professora da Univale) DRD/TV Leste

Uma mensagem “de jovem para jovem

Por fim, Bruno, citado no início desta matéria – que vive no centro há 8 meses – aproveitou a oportunidade da entrevista para deixar uma mensagem a todos os outros jovens que, hoje, desfrutam da liberdade de fazer suas escolhas:

Falar para eles não irem na pilha dos outros, porque minha família sempre me deu a opinião dela e eu nunca escutei. Hoje eu estou aqui. É horrível passar por esse estágio, essa vida. Querendo ou não, nenhuma pessoa gosta de ficar encarcerada. Peço para vocês que pensem muito bem nisso. Isso não vale a pena. É só ilusão. Só leva você para a pior. Nunca precisei disso na minha vida, entrei de bobeira. Estou aprendendo muita coisa que quero levar para a minha vida”, declarou o jovem.

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