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A cidade, o carpinteiro e a praça

FOTO: Museu da Cidade

Entenda como a Figueira do Rio Doce foi arquitetada para se tornar Governador Valadares

Os anos de 1930 marcaram a história do Brasil e o reconhecimento da emancipação de um povo no Leste de Minas Gerais. Na época, a residência oficial do presidente era o Palácio da Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro. Durante 15 anos, a capital da República seria o local de onde Getúlio Vargas estabeleceria sua força política e autoridade. E em meio à intensa movimentação e articulação pela disputa do controle do país que começa a história dos 85 anos de Governador Valadares.

A CIDADE

Longe da capital da República, no interior de Minas, a sensação era outra. Ou seja, a vida não corria, não tinha pressa. No povoado de Figueira, os acontecimentos andavam em ritmo de caminhada. As ruas eram mal iluminadas, os carroceiros entregavam água nas casas de porta em porta e o ambiente rural predominava a paisagem. É nesse contexto que todos os dias mais e mais pessoas chegavam e ficavam no povoado.

Figueira era conhecida como a “terra dos matadores”. Pelas manhãs, nas esquinas, sempre havia rastros dos mortos da noite anterior. Mas, apesar disso, havia aqueles que descreviam como um local onde o povo era alegre e esperançoso com a promessa da cidade do futuro.

A rua Prudente de Morais [que na época a conheciam como rua Direita] foi por muito tempo o lugar de encontro obrigatório da elite política e social local. Em 1936, a construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas, com conexão com a Estrada de Ferro Central do Brasil, montou os trilhos para o progresso de Figueira. A partir daquele momento, a ida à capital do estado seria mais rápida. A ferrovia aproximou a distância de Figueira às cidades de Vitória e Belo Horizonte.

Na estrada do progresso, o ano de 1937 chegou e com ele a emancipação política do distrito de Figueira e o início do Estado Novo, com Getúlio Vargas centralizando o poder, através de um golpe de estado. Em pleno regime de ditadura Vargas, no dia 30 de janeiro de 1938, Benedito Valadares, o então governador de Minas, nomeia o engenheiro Moacyr Paletta a prefeito do município. No dia 17 de dezembro de 1938, Figueira deixa de ser Figueira para se tornar Governador Valadares.

O engenheiro assumiu a administração municipal com o ideal de modernização. Assim como foi o caso de Dilermando Rodrigues de Mello, o primeiro prefeito eleito de forma democrática em 1947.

O CARPINTEIRO

No documento, José Serra Lima de Oliveira nasceu em Figueira no ano de 1874, mas presenciou com os próprios olhos o lugar em que passou toda a sua vida se tornar povoado, distrito e por fim Governador Valadares.

Os livros e documentos históricos falam que a família dele era de modestas posses. O pai, Antônio Máximo de Oliveira, era cabo da Polícia Militar, e veio para a região na época em que Figueira ainda pertencia ao município de Peçanha. Por aqui, Serra Lima foi alfabetizado, trabalhou como carpinteiro, barqueiro e fiscal de prefeitura. Ele não possuía formação acadêmica, mas isso não o impediu de transformar as suas ideias em um dos mais ambiciosos projetos de urbanização.

Serra Lima, junto com um amigo, Amador Alves, que, aliás, também era carpinteiro, e o topógrafo Olympio de Caldas, foram os responsáveis por levantarem a planta geral de Figueira e demarcarem a cidade. Então o projeto de urbanização foi enviado para aprovação em Belo Horizonte. Dessa forma, engenheiros do Estado vieram acompanhar o traçado feito pelo carpinteiro, e por fim, aprovado.

Serra Lima fez com as próprias mãos os traçados eternizados nas ruas da região central de Governador Valadares. Quis o carpinteiro tanto transformar a ideia da promessa da cidade do futuro em realidade, que investiu do próprio dinheiro e esforço nas obras.

O planejamento feito por Serra Lima incluiu a região da rua Prudente de Morais e se estendeu até onde atualmente está localizada a Igreja Nossa Senhora de Lourdes. Além disso, no projeto destacavam as ruas espaçosas, como a longa avenida Minas Gerais, e também a praça localizada no cruzamento com a rua Afonso Pena. Praça essa que foi nomeada como Serra Lima, no dia 16 de janeiro de 1951.

A PRAÇA

Antes de se chamar Serra Lima, a praça era só mais uma praça, sendo inaugurada em 1947. O crescimento da cidade na década de 40 e 60 impulsionou o ideal da cidade do futuro. Na época, os ares da transformação pairavam por aqui. O vislumbre de modernidade e desenvolvimento seguiu no pensamento daqueles que desejavam transformar o povoado em metrópole. O que incluía a urbanização do centro e expansão do território de forma planejada.

A inspiração de uma nova perspectiva de cidade tinha como referência o processo de urbanização visto em Belo Horizonte e Barcelona, na Espanha. A linha de pensamento de cidades europeias chamou a atenção dos valadarenses. E desse jeito o traçado regular, como um tabuleiro de xadrez, deu forma a região central desenhada, por Serra Lima, para representar a modernidade e a racionalidade.

O centro, o coração, a essência dessa transformação de ruas planejadas, com 20 metros de largura, e a construção de quarteirões com as mesmas medidas, convergem para a praça Serra Lima. Que olhando de cima lembra uma rosa dos ventos, guiando, como uma bússola, quem passa pelo local.

“É importante que a gente tenha esse passado mais presente, para que a gente possa construir identidade, uma história e um vínculo do passado. A [praça] Serra Lima, nesse ponto, se mantém como esse símbolo de identidade da cidade, desse traçado que na época era muito inovador para uma cidade do porte de Valadares”, explica Cristiana Guimarães, professora do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG-GV) e do curso de mestrado de Gestão Integrada de Território da Universidade Vale do Rio Doce (GIT/UNIVALE).

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