Os valores familiares têm tomado um rumo controverso nos últimos tempos. Muito lamentável quando as manifestações de amor fraterno, misericórdia, ternura e compaixão se limitam às paredes das igrejas, em suas realizações especialmente pertinentes à vivência familiar.
É motivo de grande alegria ao coração de Deus quando pregamos a harmonia e a paz familiar, mas certamente Deus se entristece quando não somos capazes de dizer “eu te amo” pai, mãe ou irmão, quando não nos importamos em preservar a integralidade do amor de irmão.
Muitas vezes, joelhos dobram, louvores são gritados, lágrimas são vertidas numa verdadeira teatralização da fé. A verdade dos sentimentos está ficando “demodè”.
O filho se levanta pela manhã, pede a bênção ao tio, bom dia ao visitante, um oi ao amigo da escola ou do trabalho, e veementemente ignora a presença e o valor dos pais. Infelizmente, é uma cena não rara. Por isso o termo “teatralização da fé”.
Mais recentemente os papas Bento XVI e Francisco abordaram, incansavelmente, a importância do amor-família, ou a igreja doméstica.
Num mundo onde as violências moral, física e cívica ganham espaço, considera-se de grande importância voltarmos os nossos olhares para os valores da união familiar, a partir do respeito mútuo, da tolerância e de um exercício incondicional do perdão. Mesmo por que, de pouco vale eu viver esses valores na igreja, no trabalho ou na escola, e me esquecer de que a igreja nasce no berço familiar. E se eu não exercitar o amor-família insistentemente, o mundo não reconhecerá a verdade dos meus sentimentos e dos meus conceitos, uma vez que eles não foram aprendidos de fato com o desejo do coração, mas pela necessidade de sobrevivência.
Ao passo em que a família é lugar de acolhimento das fragilidades humanas com o coração aberto ao entendimento de nossas limitações, defeitos, fraquezas, o mundo, por sua vez, é impiedoso. O mundo cobra sem carinho e nem paciência. Sem ternura e nem tempo.
Nesse particular, erram alguns encontros promovidos pelas igrejas, pois ensinam todas essas virtudes, mas falta em alguns o acompanhamento pós-encontro. Falta ensinar com eficácia a valorização da vida em comunidade. É necessário que aprendamos, todos, a viver de fato as carências e o desenvolvimento dos trabalhos em comunidade, é claro, implicando a participação familiar. Muito importante eu participar, mas participar em comunhão com minha família. No mínimo, serve como estratégia para que aprendamos a viver a harmonia familiar. Ou seja, família cuidando de famílias.
Esse é o conceito mais fiel do que é ser igreja doméstica. A partir daí, com certeza saberemos valorizar cada gesto e atitude em defesa da instituição família. Isso é muito mais que um discurso religioso, é a síntese de todo um processo pela valorização da vida. Um combate à aridez do mundo, à frigidez das relações e à violenta imposição de algumas políticas públicas que muitas vezes pouco se importam com a unidade das famílias e povos.
Que cuidemos melhor de nosso ambiente de vida, com atenção toda especial para todo aquele que compartilha conosco a vida social e, especialmente, os membros de nossa família (igreja doméstica).
Muita paz e bem a todos.
Sebastião Evilásio | Mesc – tiaoevilasio@yahoo.com