Informação é da presidenta da Federassantas, que apontou como uma das causas a subnotificação da Covid-19 no Estado
Minas Gerais deve ficar “na lanterna” no recebimento de recursos do governo federal para o combate à Covid-19, num cenário de crescimento exponencial da pandemia no Estado. O alerta foi feito pela presidenta da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas (Federassantas), Kátia Rocha.
Ela participou, nessa segunda-feira (1º), de audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Segundo Kátia, a mudança nos critérios do Ministério da Saúde para rateio dos R$ 2 bilhões destinados aos hospitais do Brasil causou prejuízo a Minas.
A dirigente da Federassantas explicou que, até a recente troca de ministro da Saúde, o acordo era para ratear observando-se o volume de serviços de saúde realizados por cada Estado. Depois, a pasta informou que distribuiria a verba baseando-se em critérios epidemiológicos. “Somos campeões no atendimento filantrópico à saúde. Temos que unir a classe política para que não sejamos prejudicados no recebimento de recursos”, declarou.
Conforme Kátia, o Estado tem dificuldade de trabalhar os dados epidemiológicos, especialmente por apresentar baixo índice de testagem. Além do percentual menor dessas verbas, Minas também conseguiu credenciar 75 leitos, apenas 1% do total de 7.500 custeados pelo Ministério da Saúde.
O subsecretário de Gestão Regional da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Darlan Pereira, reconheceu a subnotificação, mas afirmou que ela não ocorre no número de óbitos. O dado atualizado aponta mais de 10.500 casos, com 278 mortes em Minas, e 505 mil casos e 20 mil óbitos no Brasil.
Darlan acrescentou que a taxa de ocupação dos leitos de UTI, no total de 2.885, é de 71%. Já para os leitos clínicos, a situação é mais confortável, com 13 mil leitos disponíveis.
Apesar disso, há macrorregiões de saúde que têm taxas de ocupação mais altas: Jequitinhonha, Nordeste, Vale do Aço, Oeste e Triângulo Norte. Nesta última, a ocupação de leitos de UTI também está alta, assim como no Centro. Para minorar os problemas, o gestor e sua equipe têm se reunido com as coordenações dessas macrorregiões.
Parlamentares cobram recursos para evitar colapso no interior
O deputado Fernando Pacheco (PV), que solicitou a audiência, alertou para o perigo da curva ascendente de casos da Covid-19, especialmente no interior. Ele reclamou que o Governo do Estado não tem dado a resposta adequada para que os municípios consigam atender bem aos pacientes infectados.
“Em Cataguases, por exemplo, o hospital era credenciado para atender mais de 90 cidades. Mas o descaso do governo fez com que o estabelecimento deixasse de atender a maior parte delas por falta de recursos”, lembrou.
Ele cobrou do Estado um planejamento efetivo em relação aos repasses reais e à compra de equipamentos, como respiradores e testes. “Há um grande distanciamento entre o que vivenciamos e o que precisa ser feito para não entrarmos em colapso”, alertou.
Testes – O vice-presidente da comissão, deputado Marquinho Lemos (PT), questionou o subsecretário quanto ao baixo número de testagem em Minas. Darlan respondeu que o governo optou por não adquirir testes rápidos por preços que julgou altos, cerca de R$ 75 a unidade. “Buscamos outras opções e compramos 150 mil kits, dos quais 50 mil já chegaram aos municípios, o que não resolve o problema, mas já é um alívio”, afirmou.
A deputada Ione Pinheiro (DEM) perguntou se o governo pretende construir outros hospitais de campanha. Darlan Pereira respondeu que o Estado concentrou investimentos no Expominas, mas que noutras regiões a atuação se dará de outra forma, com ampliação de leitos de acordo com a necessidade, mas sem novos hospitais de campanha.
A deputada Celise Laviola (MDB) indagou se haveria ações específicas para a região Leste, que tem como polo Governador Valadares (Rio Doce), devido ao crescimento no número de casos. Darlan Pereira informou que para essa macrorregião, que tem 750 mil habitantes em 51 municípios, já foram aportados R$ 44 milhões.
O deputado Arlen Santiago (PTB) mostrou-se preocupado com as verbas repassadas para os hospitais filantrópicos. Kátia Rocha reforçou que a Federassantas tem orientado os municípios para que cobrem os repasses, que têm prazo para serem realizados.
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Pimenta (PDT), inquiriu se não seria já a hora de liberar os atendimentos eletivos nos hospitais, para que recebam receitas adicionais e consigam se sustentar. Kátia Rocha avalia que, neste cenário de crescimento exponencial da contaminação, os esforços têm que se concentrar no enfrentamento da pandemia.