por TALITA FERNANDES E FÁBIO PUPO
da FOLHAPRESS
O presidente Jair Bolsonaro mais uma vez prestigiou pessoalmente uma manifestação em Brasília de apoiadores a ele e com críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Congresso. Desta vez, o ex-ministro Sergio Moro também foi alvo do protesto.
Em declaração transmitida em live dele em rede social, Bolsonaro afirmou: “Tenho certeza de uma coisa, nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia, e pela liberdade. E o mais importante, temos Deus conosco”.
Ao final, o presidente disse: “Peço a Deus que não tenhamos problemas essa semana. Chegamos no limite, não tem mais conversa, daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem tudo na mão”.
Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada neste domingo (3) e foi até a rampa do Planalto para acenar aos manifestantes, aglomerados, que gritavam “Fora Maia”, entre outras coisas. Uma bandeira do Brasil foi estendida na rampa.
O presidente voltou a atacar governadores por medidas de isolamento social no combate à pandemia do coronavírus e criticou o que chamou de “interferência” em seu governo, numa alusão às recentes medidas do STF.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou: “Mais um ato do presidente Bolsonaro, lamentável e incompatível com o cargo que ocupa”.
Bolsonaro disse querer “um governo sem interferência, que possa atrapalhar para o futuro do Brasil”. “Acabou a paciência”, disse. “É uma manifestação espontânea, pela democracia”, afirmou em live transmitida em sua rede social, da rampa do Planalto.
Nos últimos dias, Bolsonaro demonstrou irritação com a decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes de barrar a nomeação de Alexandre Ramagem para a Direção-Geral da Polícia Federal. Neste domingo, disse que deve indicar um novo nome nesta segunda (4).
O presidente repetiu discurso de que estão destruindo os empregos no país. “É inadmissível. Isso não é bom. Segundo ele, o efeito colateral das medidas de isolamento pode ser mais “danoso” que o próprio coronavírus.
Um grupo de manifestantes se reuniu em frente ao Museu Nacional, em Brasília. Em seguida, foi organizada uma carreata em direção ao Palácio do Planalto.
O ato promoveu aglomerações num momento que Brasil tem mais de 6.000 mortes pela Covid-19 e 96 mil casos confirmados.
No final do ato, Bolsonaro repetiu a referência às Forças Armadas: “Vocês sabem o povo está conosco, as Forças Armadas estão ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade, também estão ao nosso lado”.
Uma carreata teve início por volta das 10h30, descendo a Esplanada dos Ministérios em direção à Praça dos Três Poderes, onde chegaram por volta das 11h30.
Embalados por palavras de ordem e cartazes com críticas ao ex-ministro Sergio Moro, que deixou o governo recentemente, apoiadores afirmavam que estão “fechados com Bolsonaro”.
Ao chegar em frente ao Congresso, o grupo deixou os carros e desceu em direção ao Palácio do Planalto diante da promessa feita por um dos organizadores de que Bolsonaro apareceria para vê-los.
Durante a caminhada foram entoados gritos de apoio ao presidente e de críticas a Moro e a Alexandre de Moraes, do STF, que barrou a nomeação de Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, para o comando da Polícia Federal.
Moro, chamado no sábado (2) de Judas pelo presidente, recebeu palavras mais ofensivas do grupo, como “canalha” e “moleque de Curitiba”.
Entre as mensagens dos cartazes havia “Armas para cidadãos de bem”, “Fora Maia”, “Fora Alcolumbre”.
Os manifestantes entoaram o Hino Nacional e rezaram um Pai Nosso em frente à Catedral Metropolitana.
Em frente ao STF, alguns gritaram “vamos invadir”. “Olé, olé, STF é puxadinho do PT”.
Em meio às críticas a Moro, feitas em um microfone de um caminhão de som, uma apoiadora gritou que o ex-juiz é aliado ao centrão.
O grupo de partidos, formado por legendas como MDB, PP, PL, Solidariedade, DEM e Republicanos, tem feito tratativas de apoio a Bolsonaro e deve ganhar novos cargos no governo.
Entre as músicas tocadas no ato, foi colocada “Brasil”, de 1988, na voz de Cazuza. A letra era ao mesmo tempo uma celebração ao processo de redemocratização do Brasil, mas com críticas à classe política pela forma como foi feita a reabertura do país pós-ditadura.