Egressos da UFJF-GV relatam rotina de trabalho e desafios no combate ao coronavírus

As ações de controle e tratamento ao novo coronavírus são realizadas por muitas mãos: em casa, pela população que se adapta às medidas de higiene, e nos hospitais, por profissionais de diversas áreas da saúde. Em meio à pandemia da doença, egressos do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV), se destacam nos centros de atendimento e se tornam agentes essenciais na linha de frente do combate à Covid-19.

O residente em Infectologia João Lucas Lana tem acompanhado o aumento no número de casos que chegam ao Hospital Eduardo de Menezes, referência em doenças infecciosas de Belo Horizonte. “Atualmente, todos os nossos pacientes são casos suspeitos ou confirmados de Covid-19. Consultas eletivas e serviços ambulatoriais foram temporariamente suspensos, ou operam em escala mínima, para realocação de pessoal e recursos para enfermarias e UTIs”. Ainda segundo ele, novos leitos estão sendo criados, e há treinamentos recorrentes sobre biossegurança e uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “A assistência tem sido garantida com qualidade para todos que precisam”.

Os profissionais que atuam em Governador Valadares também relatam crescimento na demanda por atendimentos na cidade. A médica Lilia Dayana de Castro, que trabalha na Estratégia Saúde da Família, conta que a unidade passou a atender em horário estendido com a chegada da pandemia. “As maiores dificuldades enfrentadas são a falta de compreensão da população em relação às mudanças, e sobrecarga de trabalho devido ao afastamento de outros colegas”.

Egresso da terceira turma de Medicina do campus GV, João Paulo Moreira Rigueira executa ações de assistência médica no Departamento de Vigilância em Saúde, trabalha no Centro de Controle de Infecção Hospitalar e atua como plantonista no pronto socorro adulto do Hospital Municipal. “Todos os pacientes com síndrome gripal têm prioridade. O atendimento adequado e a rápida recuperação dessas pessoas são fundamentais para que a gente mantenha o sistema de saúde estruturado, e para que não entre em colapso. Precisamos que elas consigam ser remanejadas, pois não temos leito de terapia intensiva para todos”.

O residente Igor Oliveira observa a relação entre o movimento nos postos de saúde em GV e o papel da mídia brasileira. “A demanda nesses locais sofre influência constante da mídia. Quando alertados para ficarem em casa, o fluxo de pacientes com sintomas leves diminuiu”. E desabafa: “Nos últimos dias, me vi numa situação estressante, devido a tantas alterações diárias sobre a doença. Parecia que já não sabíamos mais nada. Pode antiinflamatório? Pode corticoide? A medicina nunca foi tão dinâmica e ao mesmo tempo tão triste. Cabe aqui a resiliência; por isso, saio de casa todos os dias com dois lembretes: não ter medo de examinar os pacientes e me cuidar com todos os EPI’s necessários”.

As equipes que trabalham no controle e tratamento da Covid-19 são formadas também por fisioterapeutas, que têm papel importante na recuperação dos infectados, como relata o egresso da UFJF-GV, Elton Dantas. Atuando há dois anos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, ele explica as principais práticas desempenhadas no tratamento da Covid-19. “As atividades abrangem realização de avaliação física e cinésio-funcional específica do paciente crítico; avaliação e monitorização da via aérea natural e artificial do paciente crítico; com isso atuamos na promoção, prevenção e reabilitação dos nossos pacientes”.

Profissionais relatam desafios no atendimento aos pacientes

O combate à doença traz uma série de desafios a quem atua na linha de frente. “Estamos em constante atualização. Os fluxos e protocolos mudam muito, o tempo todo. São novos protocolos de atenção primária, e da Anvisa. Somos exigidos a repensar nossas condutas para prestar a melhor assistência que conseguimos”, destaca João Paulo Rigueira.

O médico relata, ainda, a carência de equipamentos de proteção. “Temos uma grande deficiência de EPIs no hospital; estamos nos desdobrando para racionalizá-los. Um dos motivos [da falta de equipamentos] vem do uso irracional deles, e esse uso vem do pânico. As pessoas começam a se desesperar em relação a esse novo cenário e começam a adotar medidas na expectativa de estarem protegidas”. De acordo com ele, a população se esquece de tomar medidas simples como a lavagem de mãos e o isolamento social.

Egressos avaliam ensino recebido durante a graduação

“A formação da UFJF-GV é realmente diferencial em comparação a outras instituições; a gente se sente mais seguro e confiante em debater ideias com outros profissionais”, comenta o fisioterapeuta Elton Dantas. O profissional reforça, ainda, a relevância das orientações dos docentes na formação dos estudantes: “A maioria dos professores nos ensina onde buscar a informação, nas plataformas mais seguras, nas melhores evidências científicas, o que faz com que sempre estejamos preparados com o melhor, caso a gente se dedique pra isso”.

Para o médico João Lucas Lana, a graduação na UFJF-GV “voltou o nosso olhar mais do que para a assistência, mais do que saber avaliar um paciente, olhar uma necessidade de internação, mas um olhar epidemiológico, de gestor, organizador de fluxos, mais macro, que não vê só o individuo, mas a comunidade como um todo”. E completa: “Eu recebi uma educação onde o médico não é visto como um indivíduo à parte, mas como integrante de uma equipe transdisciplinar”.

Higiene e isolamento continuam sendo as principais orientações

No combate ao novo coronavírus, as palavras de ordem são prevenção e distanciamento social.  “A população deve seguir as recomendações das autoridades e instituições mundiais e nacionais de saúde – a higiene e o isolamento social são muito importantes nesse momento”, destaca Elton Dantas. Ele comenta que com a disseminação de práticas de higiene e proteção pessoal, tão necessárias nesse momento de pandemia, será possível colher bons frutos no futuro. “Creio que quando isso passar, vamos reduzir bastante as complicações adquiridas nas unidades de saúde em geral, entre diversas coisas, como organização da equipe e trabalho multidisciplinar”.

Lilia complementa destacando a importância de se praticar as orientações tão amplamente divulgadas pelos profissionais: “Nenhuma medida será tão eficaz nesse momento quanto o isolamento social e as medidas de higiene, como lavagem frequente das mãos. Não tem diagnóstico pra todos, nem tratamento específico com eficácia comprovada para a população em geral, logo, temos que evitar ao máximo o contato com o vírus”.

Em coro à colega, João Lucas Lana frisa que cada cidadão deve fazer sua parte no combate ao coronavírus. “A quarentena é a única medida que comprovadamente diminui o ritmo de transmissão e evita a superlotação dos serviços de saúde. Se puder, fique em casa”.

“A quarentena é a única medida que comprovadamente diminui o ritmo de transmissão”

João Lucas Lana, médico

“Quando você ouvir que alguém respira por aparelhos, saiba que quem ‘controla’ sua respiração é o fisioterapeuta”

Elton Dantas, fisioterapeuta

“A medicina nunca foi tão dinâmica e ao mesmo tempo tão triste”

Igor Oliveira, médico
João Paulo (de rosa), com parte da equipe do hospital. (Foto: Divulgação)

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