MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, criticou nesta quarta-feira (6) a postura de Israel na Faixa de Gaza, mas evitou repetir o termo “genocídio” utilizado pelo presidente Lula (PT) e por outros críticos de Tel Aviv. A declaração ocorreu após reunião bilateral e declaração conjunta com o brasileiro, no Palácio do Planalto.
Sánchez foi diretamente questionado se concorda com a classificação dada por Lula, mas deu uma resposta pouco direta.
“Depois de 30 mil mortes, nós temos dúvidas razoáveis de que Israel esteja cumprindo o direito internacional humanitário. Eu já disse isso em várias oportunidades, e sempre que perguntam repito o mesmo”, completou o espanhol, chamando também a atenção para o descreveu como uma “devastação que está deixando a Faixa de Gaza em uma situação que vai exigir décadas para a reconstrução”.
A resposta do governo israelense aos ataques terroristas do Hamas levaram a uma crise humanitária em Gaza, com crianças e mulheres sendo a maioria dos mais de 30 mil mortos. Em sua fala, Lula afirmou que há 30 toneladas de alimentos que não chegam na região. Reportagem da Folha de S.Paulo apontou nesta terça (5) que há pacotes de ajuda humanitária enviados pelo Brasil e bloqueados na fronteira entre Gaza e Egito.
Lula também citou o ataque em que o Exército de Israel atirou contra civis que aguardavam para receber alimentos. Mais de 110 palestinos morreram na ofensiva, segundo o Hamas, em um episódio que intensificou os comentários de que Tel Aviv atua de forma desproporcional no conflito. Israel assumiu a responsabilidade pela morte de dez palestinos e disse que os demais morreram em decorrência da confusão e dos pisoteamentos que se seguiram.
Segundo o presidente brasileiro, o ataque deveria soar como um apelo à humanidade. “Não percamos humanismo que tenha dentro de nós, não sejamos algoritmos, sejamos seres humanos de verdade, e percebamos que o que está acontecendo lá é verdade, [é] genocídio”, afirmou.
Pedro Sánchez chega a Brasília com uma agenda eminentemente econômica, voltada para investimentos no Brasil. A Espanha é o segundo maior investidor no país, com negócios nos setores bancário, telefônico e de infraestrutura, entre outros. Não por acaso, ele viajou acompanhado de seu ministro da Economia, Carlos Cuerpo, não de seu chanceler, José Manuel Albares.
Sánchez também desenhou um roteiro para só se encontrar com líderes com quem mantém alguma identificação ideológica. Além do Brasil, ele vai ao Chile, para se encontrar com o presidente progressista Gabriel Boric.
Ainda no Brasil, Sánchez passa a quinta-feira (7) em São Paulo, mas não tem reunião prevista com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) – considerado o principal herdeiro político de Jair Bolsonaro (PL).
O premiê da Espanha incluiu outros compromissos na sua agenda para destacar suas credenciais progressistas e de líder contrário à extrema direita: ele visita uma exposição no Senado sobre os ataques antidemocráticos do 8 de Janeiro. Ainda na quarta, tem reunião com a presidente da Funai, no Memorial dos Povos Indígenas.